por Paulo Moura
Antes de a goveradora Yeda decretar a morte da CPI da Corrupção em seu governo, convém prestar atenção às palavras da deputada Stela Farias (PT/RS), na coluna de Rosane de Oliveira em Zero Hora de 20/05:
"– Escreva o que estou te dizendo, é uma questão de dias. Há coisas que não posso te dizer ainda. Vamos ter as 19 assinaturas. Vamos ter mais de 19."
O artigo que segue foi escrito no dia 18 de julho de 2008. Mas, a não ser por detalhes, poderá parecer que a análise nele contida é sobre fatos presentes. Isso significa que todos os elementos que deram origem à nossa análise seguem vivos e pesentes nos subterrâneos do governo Yeda. E, se, portanto, as condições estruturais para que crises aconteçam não são eliminadas, as crises se tornam inevitáveis. E repetitivas. Yeda deu um drible curto na CPI da Corrupção. Não a impedirá, pelas razões que apontamos há de meses atrás. Vejamos:
"Certos governantes têm a capacidade de despertar essa interrogação logo no início de seus mandatos. A dúvida vem à tona em função de algum gesto, atitude ou conduta do governante recém eleito. As razões que levam os observadores da cena política a se fazerem essa pergunta tão precocemente têm origem em um misto de intuição e experiência.
A governadora Yeda Crusius despertou essa interrogação em vários agentes políticos, jornalistas e analistas, antes mesmo de tomar posse, quando se atirou cabeça contra seus eleitores, tentando, pela primeira vez, ainda em dezembro de 2006, prorrogar o tarifaço sobre as tarifas de energia e comunicação e o preço dos combustíveis, contrariando compromisso central de seu discurso eleitoral.
Graças a isso e ao estilo pessoal da governadora, a montagem da primeira configuração de seu governo foi uma verdadeira bagunça. Secretários de governo nomeados desistiram de tomar posse; o secretário de segurança foi nomeado por falta de opção, por uma governadora contrariada ante a negativa do nome por ela pretendido. Cargos ficaram vagos por meses; funcionários comissionados de governos anteriores permaneceram nos cargos sem qualquer critério ou controle; auxiliares históricos de Yeda foram desprezados e humilhados sem qualquer explicação ou justificativa. Pelo menos um deputado do PDT, que fez campanha aberta para o candidato do PT no segundo turno, foi empossado secretário de governo por Yeda. Isso, sem falar nas relações da governadora com seu vice, intoxicadas desde o dia seguinte à sua escolha para integrar chapa ao lado de Yeda, ainda na campanha eleitoral.
Todos os ingredientes para que o caldo viesse a entornar estavam ali, às vistas de quem conhece um pouco política e tem um mínimo de discernimento para perceber o óbvio. Quem viu, perguntou-se: Yeda termina o mandato?
Dali para diante, veio a crise de relacionamento da governadora com seu secretário de segurança; nova crise com o vice-governador, na segunda tentativa de Yeda de aplicar um tarifaço no contribuinte; a tentativa de reorganização do governo; a CPI do DETRAN; e a nova crise desencadeada pela revelação da conversa gravada por Paulo Feijó com o ex-chefe da Casa Civil de Yeda, César Busatto. Aliás, a história da interinidade do vice, em meio à viagem da governadora à Washington, ainda está para ser contada. Algo houve para a governadora voltar de viagem mais cedo; barrar o projeto do Simples Gaúcho e aumentar o salário mínimo regional contra os interesses dos empresários. Aí tem origem o episódio dessa gravação revelada por Feijó,
Em todos esses episódios, em círculos bem informados sobre os bastidores da política gaúcha, de tempos em tempos, ressurge a pergunta: Yeda termina o mandato?
Estamos no “3º governo” de Yeda em pouco mais de um ano e meio. Um feito inédito. Sem dúvida, um novo jeito de “governar”. E os ingredientes que levaram às crises anteriores do governo Yeda estão, todos, presentes na cena política, embora latentes e encobertos pela aparente calmaria que antecede às próximas tempestades. A calmaria não é sinal de fim das crises. É, apenas, uma pausa para todos respirarem após a crise desencadeada pelas gravações de Paulo Feijó.
As relações entre Yeda e seu vice estão irreversivelmente comprometidas. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o DETRAN e o Banrisul prosseguem silenciosas. A compra da casa de Yeda segue sem explicação convincente. A imagem da governadora perante a opinião pública está irremediavelmente comprometida. A base parlamentar do governo está por um fio, mantida exclusivamente pelo interesse dos partidos de controlar os cargos, mais do que por qualquer compromisso programático.
Nenhuma “Carta Compromisso” recompõe as condições de governabilidade desse governo, sem que aconteça uma mudança efetiva no padrão de conduta da governadora, que não dá sinais de ter mudado seu jeito pessoal de ser e de fazer política.
A propalada demissão de todo o secretariado para deixar Yeda livre para montar a nova equipe foi engavetada e esquecida. Tudo segue como antes, inclusive a maneira como a governadora escolhe ou deixa de escolher seus secretários. Cargos importantes seguem vagos ou ocupados por interinos. Fritam-se nomes de gente séria ao sabor dos humores do dia. Alguns fritados prosseguem nos cargos, embora nutrindo sentimentos nada convenientes para um governante que precisa auxiliares cada vez mais escassos e menos dispostos a correr o risco de se aproximarem de um governo contaminado por um vírus que destrói reputações e pessoas.
Os episódios de nomeação do “embaixador” do RS em Brasília e da demissão do jornalista Paulo Fona são exemplos emblemáticos do padrão de conduta que subjaz a todas as crises anteriores. Há inúmeros episódios similares na curta trajetória pregressa desse governo. O nome cogitado para substituir Fona no comando da comunicação é conhecido pelo estilo pessoal similar ao da própria governadora.
Há quem insista em dizer que é apenas a comunicação desse governo não vai bem, como se nisso residisse o problema central de Yeda. O problema desse governo é exclusivamente político. Não há profissional de comunicação capaz de resolver os problemas de um governo que se supera a cada dia na arte de produzir fatos bombásticos negativos em tamanha profusão, que impedem que a sociedade valorize suas realizações positivas no saneamento das contas públicas e em alguns aspectos da gestão administrativa. A própria Yeda põe em risco as realizações de seu governo. Escândalos produzem audiência. Para evitar que a mídia noticie crises e escândalos é preciso evitar que eles aconteçam. Na raiz. E o governo Yeda segue sendo solo fértil para crises e os escândalos.
Os agentes políticos observam essas atitudes e acontecimentos; constatam tratar-se de um padrão, e mantêm distância. Por interesse, políticos até permanecem nos cargos de um governo assim. Mas, entre as supostas “bases do governo”, reinam a desconfiança e a apreensão. Os mais espertos tomam distância por instinto de autopreservação. Sob essas circunstâncias, os laços políticos que deveriam cimentar a coalizão de governo ficam frágeis; praticamente inexistem.
A governadora está só, embora cercada de gente. De gente que parece não ter coragem de dizer-lhe certas verdades, talvez e inclusive porque Yeda não permita que o façam. Inclusive, porque, por opção, se cerca de pessoas que só sabem baixar a cabeça e dizer sim.
Por isso, nas mentes de todos aqueles que observam esse governo e têm alguma vivência política, paira a pergunta que não quer calar: Yeda termina o mandato?"
Antes de a goveradora Yeda decretar a morte da CPI da Corrupção em seu governo, convém prestar atenção às palavras da deputada Stela Farias (PT/RS), na coluna de Rosane de Oliveira em Zero Hora de 20/05:
"– Escreva o que estou te dizendo, é uma questão de dias. Há coisas que não posso te dizer ainda. Vamos ter as 19 assinaturas. Vamos ter mais de 19."
O artigo que segue foi escrito no dia 18 de julho de 2008. Mas, a não ser por detalhes, poderá parecer que a análise nele contida é sobre fatos presentes. Isso significa que todos os elementos que deram origem à nossa análise seguem vivos e pesentes nos subterrâneos do governo Yeda. E, se, portanto, as condições estruturais para que crises aconteçam não são eliminadas, as crises se tornam inevitáveis. E repetitivas. Yeda deu um drible curto na CPI da Corrupção. Não a impedirá, pelas razões que apontamos há de meses atrás. Vejamos:
"Certos governantes têm a capacidade de despertar essa interrogação logo no início de seus mandatos. A dúvida vem à tona em função de algum gesto, atitude ou conduta do governante recém eleito. As razões que levam os observadores da cena política a se fazerem essa pergunta tão precocemente têm origem em um misto de intuição e experiência.
A governadora Yeda Crusius despertou essa interrogação em vários agentes políticos, jornalistas e analistas, antes mesmo de tomar posse, quando se atirou cabeça contra seus eleitores, tentando, pela primeira vez, ainda em dezembro de 2006, prorrogar o tarifaço sobre as tarifas de energia e comunicação e o preço dos combustíveis, contrariando compromisso central de seu discurso eleitoral.
Graças a isso e ao estilo pessoal da governadora, a montagem da primeira configuração de seu governo foi uma verdadeira bagunça. Secretários de governo nomeados desistiram de tomar posse; o secretário de segurança foi nomeado por falta de opção, por uma governadora contrariada ante a negativa do nome por ela pretendido. Cargos ficaram vagos por meses; funcionários comissionados de governos anteriores permaneceram nos cargos sem qualquer critério ou controle; auxiliares históricos de Yeda foram desprezados e humilhados sem qualquer explicação ou justificativa. Pelo menos um deputado do PDT, que fez campanha aberta para o candidato do PT no segundo turno, foi empossado secretário de governo por Yeda. Isso, sem falar nas relações da governadora com seu vice, intoxicadas desde o dia seguinte à sua escolha para integrar chapa ao lado de Yeda, ainda na campanha eleitoral.
Todos os ingredientes para que o caldo viesse a entornar estavam ali, às vistas de quem conhece um pouco política e tem um mínimo de discernimento para perceber o óbvio. Quem viu, perguntou-se: Yeda termina o mandato?
Dali para diante, veio a crise de relacionamento da governadora com seu secretário de segurança; nova crise com o vice-governador, na segunda tentativa de Yeda de aplicar um tarifaço no contribuinte; a tentativa de reorganização do governo; a CPI do DETRAN; e a nova crise desencadeada pela revelação da conversa gravada por Paulo Feijó com o ex-chefe da Casa Civil de Yeda, César Busatto. Aliás, a história da interinidade do vice, em meio à viagem da governadora à Washington, ainda está para ser contada. Algo houve para a governadora voltar de viagem mais cedo; barrar o projeto do Simples Gaúcho e aumentar o salário mínimo regional contra os interesses dos empresários. Aí tem origem o episódio dessa gravação revelada por Feijó,
Em todos esses episódios, em círculos bem informados sobre os bastidores da política gaúcha, de tempos em tempos, ressurge a pergunta: Yeda termina o mandato?
Estamos no “3º governo” de Yeda em pouco mais de um ano e meio. Um feito inédito. Sem dúvida, um novo jeito de “governar”. E os ingredientes que levaram às crises anteriores do governo Yeda estão, todos, presentes na cena política, embora latentes e encobertos pela aparente calmaria que antecede às próximas tempestades. A calmaria não é sinal de fim das crises. É, apenas, uma pausa para todos respirarem após a crise desencadeada pelas gravações de Paulo Feijó.
As relações entre Yeda e seu vice estão irreversivelmente comprometidas. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o DETRAN e o Banrisul prosseguem silenciosas. A compra da casa de Yeda segue sem explicação convincente. A imagem da governadora perante a opinião pública está irremediavelmente comprometida. A base parlamentar do governo está por um fio, mantida exclusivamente pelo interesse dos partidos de controlar os cargos, mais do que por qualquer compromisso programático.
Nenhuma “Carta Compromisso” recompõe as condições de governabilidade desse governo, sem que aconteça uma mudança efetiva no padrão de conduta da governadora, que não dá sinais de ter mudado seu jeito pessoal de ser e de fazer política.
A propalada demissão de todo o secretariado para deixar Yeda livre para montar a nova equipe foi engavetada e esquecida. Tudo segue como antes, inclusive a maneira como a governadora escolhe ou deixa de escolher seus secretários. Cargos importantes seguem vagos ou ocupados por interinos. Fritam-se nomes de gente séria ao sabor dos humores do dia. Alguns fritados prosseguem nos cargos, embora nutrindo sentimentos nada convenientes para um governante que precisa auxiliares cada vez mais escassos e menos dispostos a correr o risco de se aproximarem de um governo contaminado por um vírus que destrói reputações e pessoas.
Os episódios de nomeação do “embaixador” do RS em Brasília e da demissão do jornalista Paulo Fona são exemplos emblemáticos do padrão de conduta que subjaz a todas as crises anteriores. Há inúmeros episódios similares na curta trajetória pregressa desse governo. O nome cogitado para substituir Fona no comando da comunicação é conhecido pelo estilo pessoal similar ao da própria governadora.
Há quem insista em dizer que é apenas a comunicação desse governo não vai bem, como se nisso residisse o problema central de Yeda. O problema desse governo é exclusivamente político. Não há profissional de comunicação capaz de resolver os problemas de um governo que se supera a cada dia na arte de produzir fatos bombásticos negativos em tamanha profusão, que impedem que a sociedade valorize suas realizações positivas no saneamento das contas públicas e em alguns aspectos da gestão administrativa. A própria Yeda põe em risco as realizações de seu governo. Escândalos produzem audiência. Para evitar que a mídia noticie crises e escândalos é preciso evitar que eles aconteçam. Na raiz. E o governo Yeda segue sendo solo fértil para crises e os escândalos.
Os agentes políticos observam essas atitudes e acontecimentos; constatam tratar-se de um padrão, e mantêm distância. Por interesse, políticos até permanecem nos cargos de um governo assim. Mas, entre as supostas “bases do governo”, reinam a desconfiança e a apreensão. Os mais espertos tomam distância por instinto de autopreservação. Sob essas circunstâncias, os laços políticos que deveriam cimentar a coalizão de governo ficam frágeis; praticamente inexistem.
A governadora está só, embora cercada de gente. De gente que parece não ter coragem de dizer-lhe certas verdades, talvez e inclusive porque Yeda não permita que o façam. Inclusive, porque, por opção, se cerca de pessoas que só sabem baixar a cabeça e dizer sim.
Por isso, nas mentes de todos aqueles que observam esse governo e têm alguma vivência política, paira a pergunta que não quer calar: Yeda termina o mandato?"
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