O PT no poder não moveu uma palha para rever as privatizações que denunciava no passado. E que continua denunciando hoje, enquanto convive confortavelmente com o cenário empresarial criado pela venda das estatais na administração FHC
O PT tem uma arma eficiente quando precisa colocar o PSDB na defensiva. Põe na mesa o tema das privatizações e pronto: faz mais de seis anos que terminou o governo Fernando Henrique Cardoso e os tucanos ainda não descobriram a maneira de enfrentar o debate com alguma eficácia. É verdade que as reações agora, na polêmica em torno da CPI da Petrobras, soam mais aguerridas do que a capitulação protagonizada por Geraldo Alckmin em 2006. Mas nada que signifique uma virada no jogo, uma mudança qualitativa na disputa de ideias.
Não estou aqui a acusar o PSDB de incompetência. Seria presunçoso. É que a missão dos defensores da tese é espinhosa mesmo. Por uma razão simples: toda pesquisa de opinião mostra que, uma década depois, a percepção do público sobre as privatizações é mais negativa do que positiva. O vento dos anos 90 virou ao contrário. O cidadão quer mais Estado, e não menos. Hoje em dia, até o mais liberal dos candidatos, quando luta para conquistar um cargo executivo, passa o tempo todo da campanha discorrendo sobre as maravilhas que o governo dele vai fazer pela população, lógico que gastando o dinheiro do contribuinte.
O quadro se consolidou desde a eclosão da crise econômica, em setembro do ano passado. Desceu pelo bueiro o sonho de um mercado que se regula por si. Os Estados nacionais apareceram como a boia de salvação de um mundo em pânico, um planeta revoltado diante da irresponsabilidade dos financistas. Daí que dia sim dia não Luiz Inácio Lula da Silva coloque um pouco mais de pressão sobre os adversários, lembrando que ele, Lula, defende o Estado. E dizendo que a oposição está no polo oposto.
Curioso, porém, é o PT no poder não ter movido uma palha para rever as privatizações que denunciava no passado. E que continua denunciando hoje, enquanto convive confortavelmente com o cenário empresarial criado pela venda das estatais na administração FHC. Mesmo agora, no processo de consolidação de ramos econômicos acelerado pela crise, a opção do governo não tem sido criar novas estatais, mas estimular o surgimento de oligopólios privados, financiados com o dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Igualzinho como era com FHC.
Na oposição, o PT moveu mundos e fundos contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (então CVRD, hoje Vale). No governo, engavetou o tema. Dirão que é realismo, para não causar turbulências na economia. Que é uma questão de correlação de forças. Mas a correlação de forças sempre pode mudar. Eis uma boa pergunta para a candidata do PT num debate presidencial em 2010: “Considerando que o seu partido acusou a venda da Vale de ser um ato danoso ao interesse nacional, o que a senhora pretende fazer para revertê-la? Ou a senhora acha que devemos deixar para lá? Neste caso, quais os outros atos danosos ao interesse nacional que o país deveria deixar para lá?”
É claro que isso é só uma provocação. Serve para ilustrar como o debate sobre as privatizações está preso ao terreno da retórica, e dos duelos verbais entre os políticos. Em termos práticos, ninguém conseguirá privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica Federal nos próximos anos, nem que queira. Não há apoio político para isso. Aliás, já não havia nos anos 90. Se houvesse, as três empresas teriam sido vendidas na onda privatizante do governo do PSDB. Sem dó nem piedade. Motivos operacionais, de caixa, não faltavam.
Em resumo, não se nota no PT qualquer movimento para levar da palavra à ação sua crítica “programática” das privatizações. Tampouco vontade. Por isso, não se vê por aí financiador de campanha que leve essa conversa a sério, nem que esteja preocupado. Só quem se assusta com o discurso petista é o PSDB.
Na Amazônia
A convite do Centro de Comunicação Social do Exército, estou na Amazônia para conhecer in loco algumas iniciativas das Forças Armadas na defesa de nossa soberania na região. O assunto será tema de uma das próximas colunas.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Alon Feuerwerker
O PT tem uma arma eficiente quando precisa colocar o PSDB na defensiva. Põe na mesa o tema das privatizações e pronto: faz mais de seis anos que terminou o governo Fernando Henrique Cardoso e os tucanos ainda não descobriram a maneira de enfrentar o debate com alguma eficácia. É verdade que as reações agora, na polêmica em torno da CPI da Petrobras, soam mais aguerridas do que a capitulação protagonizada por Geraldo Alckmin em 2006. Mas nada que signifique uma virada no jogo, uma mudança qualitativa na disputa de ideias.
Não estou aqui a acusar o PSDB de incompetência. Seria presunçoso. É que a missão dos defensores da tese é espinhosa mesmo. Por uma razão simples: toda pesquisa de opinião mostra que, uma década depois, a percepção do público sobre as privatizações é mais negativa do que positiva. O vento dos anos 90 virou ao contrário. O cidadão quer mais Estado, e não menos. Hoje em dia, até o mais liberal dos candidatos, quando luta para conquistar um cargo executivo, passa o tempo todo da campanha discorrendo sobre as maravilhas que o governo dele vai fazer pela população, lógico que gastando o dinheiro do contribuinte.
O quadro se consolidou desde a eclosão da crise econômica, em setembro do ano passado. Desceu pelo bueiro o sonho de um mercado que se regula por si. Os Estados nacionais apareceram como a boia de salvação de um mundo em pânico, um planeta revoltado diante da irresponsabilidade dos financistas. Daí que dia sim dia não Luiz Inácio Lula da Silva coloque um pouco mais de pressão sobre os adversários, lembrando que ele, Lula, defende o Estado. E dizendo que a oposição está no polo oposto.
Curioso, porém, é o PT no poder não ter movido uma palha para rever as privatizações que denunciava no passado. E que continua denunciando hoje, enquanto convive confortavelmente com o cenário empresarial criado pela venda das estatais na administração FHC. Mesmo agora, no processo de consolidação de ramos econômicos acelerado pela crise, a opção do governo não tem sido criar novas estatais, mas estimular o surgimento de oligopólios privados, financiados com o dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Igualzinho como era com FHC.
Na oposição, o PT moveu mundos e fundos contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (então CVRD, hoje Vale). No governo, engavetou o tema. Dirão que é realismo, para não causar turbulências na economia. Que é uma questão de correlação de forças. Mas a correlação de forças sempre pode mudar. Eis uma boa pergunta para a candidata do PT num debate presidencial em 2010: “Considerando que o seu partido acusou a venda da Vale de ser um ato danoso ao interesse nacional, o que a senhora pretende fazer para revertê-la? Ou a senhora acha que devemos deixar para lá? Neste caso, quais os outros atos danosos ao interesse nacional que o país deveria deixar para lá?”
É claro que isso é só uma provocação. Serve para ilustrar como o debate sobre as privatizações está preso ao terreno da retórica, e dos duelos verbais entre os políticos. Em termos práticos, ninguém conseguirá privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica Federal nos próximos anos, nem que queira. Não há apoio político para isso. Aliás, já não havia nos anos 90. Se houvesse, as três empresas teriam sido vendidas na onda privatizante do governo do PSDB. Sem dó nem piedade. Motivos operacionais, de caixa, não faltavam.
Em resumo, não se nota no PT qualquer movimento para levar da palavra à ação sua crítica “programática” das privatizações. Tampouco vontade. Por isso, não se vê por aí financiador de campanha que leve essa conversa a sério, nem que esteja preocupado. Só quem se assusta com o discurso petista é o PSDB.
Na Amazônia
A convite do Centro de Comunicação Social do Exército, estou na Amazônia para conhecer in loco algumas iniciativas das Forças Armadas na defesa de nossa soberania na região. O assunto será tema de uma das próximas colunas.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Alon Feuerwerker
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