quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

VAMOS ESTUDAR

20/12/2005

Quem foi reprovado?

Por Dante Donatelli

Terminamos mais um ano letivo e alguns alunos, poucos, perderam o ano letivo, sintoma de muitas situações que se vivem na escola. Isto é exceção na vida escolar e não regra, já que a escola foi feita antes de tudo para ensinar e para promover o desenvolvimento intelectual dos alunos, e não simplesmente punir com uma reprovação.
Apesar de lamentável, a reprovação é parte da vida da escola, mesmo que haja um movimento nas escolas e nas famílias, não todas, é claro, para acabar com ela, e eu explico como. A nova Lei de Diretrizes e Bases do Ensino permite, entre outras coisas, duas possibilidades efetivas de se fugir desta situação: uma muito operante na escola privada e outra na escola pública.
Na escola privada, geralmente aquelas pequenas e que servem com caça níqueis ou algumas grandes e famosas, mas sem nenhum projeto pedagógico sério, se faz uso da reclassificação. No final do ano, lá por meados de novembro, famílias de classe média e alta, para não perder o seu “investimento” nos filhos, correm para estas escolas e pedem uma reclassificação de seus filhos, que nada mais é um punhado de provas de todas as disciplinas, geralmente de múltipla escolha com conteúdos defasados da série em questão. A média destas escolas caça níqueis são sempre 5,0. Via de regra o aluno passa, já que o serviço é cobrado bem, em São Paulo não sai por menos de R$2.500,00 para alunos do ensino médio e R$1.500,00 para o fundamental.
Assim os pais de classe média e alta ensinam aos seus filhos que tudo na vida tem um jeito, ou um preço, é só ter dinheiro, nada mais. É uma aula de esperteza, que joga a idéia de responsabilidade formativa e ética pela janela, de preferência uma janela bem alta para que ela nunca mais volte a incomodar pais e filhos.
Na escola pública outra estratégia, também contemplada na lei, a chamada progressão continuada que trocando em miúdos é o aluno não poder ser reprovado nas séries intermediárias. As avaliações servem como objeto de referência para o desenvolvimento e aproveitamento dos alunos. A idéia seria boa se não fosse permitido que uma boa quantidade de alunos ficassem a deriva do processo de aprendizagem, em especial nas séries iniciais. Geralmente eles chegam a 4°série do fundamental lendo e escrevendo precariamente e com noções rudimentares de matemática. Não fosse a falta de infra-estrutura na rede pública, se houvessem salas pequenas, mais professores e melhor remunerados, aliados a uma permanência das crianças na escola, elas poderiam ser efetivamente atendidas e a idéia da progressão seria um ganho. Entretanto, esta se torna uma forma de exclusão não mais pela reprovação mas pela exaustão, onde uma criança é colocada em uma série que ela não acompanha.
Existe uma terceira via muito usada por pais de escolas privadas e endossada na maioria das instâncias fiscalizadoras públicas, ou as antigas delegacias de ensino, por supervisores que tem por função cuidar e zelar pela boa educação. Ao ser reprovado alguns pais recorrem a esses órgãos públicos e na maioria das vezes conseguem fazer com seus filhos sejam promovidos. Poderia dar dezenas de exemplos que vivi como diretor de escola privada. Um deles é de um aluno do terceiro ano do ensino médio, que sequer fez as últimas provas, reprovado em quatro disciplinas, mas que havia feito um vestibular nestas faculdades que passando na porta já está matriculado. O aluno foi aprovado pela delegacia de ensino, o argumento do órgão oficial era que o aluno tinha todas as qualidades para ser aprovado, como provava a sua aprovação no vestibular. Neste momento todo trabalho dos professores e da escola foi jogado no lixo.
A bem da verdade, e quem vive e faz escola todos dias sabe, que um aluno não é reprovado em dezembro, mas sim por todo ano letivo. Nas escolas públicas e privadas, o corpo técnico das escolas não é só chamam e orientam pais e alunos em risco de reprovação, também dedicam a maior parte do seu tempo com estes alunos, e mesmo assim, quem é sério em detrimento de uma lógica inclusiva que no mínimo é questionável pedagogicamente, se penaliza.
Enquanto continuarmos a fazer proselitismo barato com o modelo educacional brasileiro, vamos permanecer na rabeira do mundo, formando hordas de semi-analfabetos, incapazes de ler e compreender um texto ou escrever uma simples redação ou construir raciocínios lógicos elementares, que a despeito de qualquer coisa e das ladainhas inclusivas são instrumentos básicos para o exercício pleno da cidadania
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