JOGO DE CINTURA
As ciências humanas, em 2005, ficaram nos devendo um ensaio sobre as três mais transcendentais 'mutações metafísicas' das últimas décadas: a clonagem humana, a transfiguração do PT no seu contrário e a calça de cintura baixa. Na verdade, este último tema teria de ser abordado, por razões de grife e de parentesco, pelo quase centenário Lévi-Strauss, seguindo a linha dos seus clássicos antropológicos 'O cru e o cozido' e até mesmo 'Tristes trópicos'. Mas Lévi-Strauss anda meio fora de moda ou simplesmente perdeu todo interesse por jeans e baixarias.
O sucesso da calça de cintura baixa autoriza a costura de uma teoria de ponto fino: quanto maior o grau de civilização de uma cultura, menor será o tamanho das roupas. No apogeu da civilização, chega-se à nudez total. Os povos ditos civilizados ainda não alcançaram o altíssimo desenvolvimento civilizacional dos índios da América, que andavam pelados e não se preocupavam com a taxa de juros Selic nem em descolar um convite para a São Paulo Fashion Week. Essa tese ganha um design mais arrojado com as idéias do filósofo Michel Foucault: só um elevado grau de autocontrole individual, de disciplina socialmente imposta, de introjeção de valores morais e de controle dos instintos é capaz de dar espaço à calça de cintura baixa sem distúrbios nem comoção social. Anos atrás, seria caso de polícia tanto quanto as manifestações sindicais.
A calça de cintura baixa é um atestado de que estamos em alta. Sem barraco nem recalques. A vantagem dos índios sobre nós é que eles não precisavam de psicanalistas para segurar a onda. Mas tinham lá as suas ervinhas. Salvo pelas atitudes exorbitantes de alguns serial killers norte-americanos, estamos tirando dez no teste da atitude civilizada diante da cintura baixa, da calcinha de fora e da tatuagem no cóccix. A ONU até poderia incluir esse fator no cálculo do índice mundial de desenvolvimento social. Com certeza o Brasil apareceria algumas casas acima de muitos países europeus econômica e materialmente ortodoxos.
Só o Texas, terra de G. W. Bush, aprovou até agora uma lei contra a calça de cintura baixa. É a prova de que os Estados Unidos não estão muito longe do Afeganistão em matéria de roupas para mulheres e de fundamentalismo. A evolução dá muitas voltas. Jean Baudrillard já mostrou que, graças à ciência, com a clonagem, conseguiremos finalmente nos reproduzir como as amebas, por cissiparidade. Da mesma forma, graças ao progresso dos costumes e das terapias alternativas, vamos, enfim, andar nus como os 'selvagens'. A única diferença é que a nossa nudez, conforme as classes sociais, será assinada por grandes costureiros e comprada na Daslu. Nem todo mundo andará igualmente pelado. A cintura baixa no ambiente de trabalho significa a vitória da cultura sobre o primitivismo do assédio sexual.
Há quem diga que a calça de cintura baixa representa o mais alto grau de auto-repressão da história da humanidade. Em termos machistas, quanto mais elas provocariam, mais eles se controlariam. Afinal, como elas dizem, 'não é para provocar ninguém, é só porque eu me sinto bem assim'. Essa hipótese deve ser considerada folclore. Assim como o mensalão. O genial Rousseau fez um alerta: 'O grande defeito dos europeus é estarem sempre a filosofar sobre as origens das coisas segundo o que se passa à sua volta'.
Estamos mais adiantados: a nossa medida é o que se passa na volta das cintura das mulheres. Tudo se vê por meio desse fator objetivo: saúde pública, padrão estético, grau de emancipação feminina, nível de alimentação e de práticas esportivas... As mulheres islâmicas, por exemplo, estão proibidas de mostrar a cintura, o que já é sintomático.
No Brasil, o ponto alto da calça de cintura baixa ficará para sempre ligado ao declínio da utopia petista, época tão engraçada que até os humoristas deixaram de ser levados a sério. Entramos na era da calça e da política de cintura baixa. Se Lulla não cumpriu a meta de criar 10 milhões de empregos, nem dobrou o salário mínimo, ao menos poderá, nas eleições do ano que vem, gabar-se de que no seu governo se deu o triunfo da calça de cintura baixa. Trata-se de um avanço de pelo menos três dedos em relação a FHC. Como tudo na política brasileira, foi um impressionante crescimento. Para baixo. O FMI não impôs medida contrária.
O sucesso da calça de cintura baixa autoriza a costura de uma teoria de ponto fino: quanto maior o grau de civilização de uma cultura, menor será o tamanho das roupas. No apogeu da civilização, chega-se à nudez total. Os povos ditos civilizados ainda não alcançaram o altíssimo desenvolvimento civilizacional dos índios da América, que andavam pelados e não se preocupavam com a taxa de juros Selic nem em descolar um convite para a São Paulo Fashion Week. Essa tese ganha um design mais arrojado com as idéias do filósofo Michel Foucault: só um elevado grau de autocontrole individual, de disciplina socialmente imposta, de introjeção de valores morais e de controle dos instintos é capaz de dar espaço à calça de cintura baixa sem distúrbios nem comoção social. Anos atrás, seria caso de polícia tanto quanto as manifestações sindicais.
A calça de cintura baixa é um atestado de que estamos em alta. Sem barraco nem recalques. A vantagem dos índios sobre nós é que eles não precisavam de psicanalistas para segurar a onda. Mas tinham lá as suas ervinhas. Salvo pelas atitudes exorbitantes de alguns serial killers norte-americanos, estamos tirando dez no teste da atitude civilizada diante da cintura baixa, da calcinha de fora e da tatuagem no cóccix. A ONU até poderia incluir esse fator no cálculo do índice mundial de desenvolvimento social. Com certeza o Brasil apareceria algumas casas acima de muitos países europeus econômica e materialmente ortodoxos.
Só o Texas, terra de G. W. Bush, aprovou até agora uma lei contra a calça de cintura baixa. É a prova de que os Estados Unidos não estão muito longe do Afeganistão em matéria de roupas para mulheres e de fundamentalismo. A evolução dá muitas voltas. Jean Baudrillard já mostrou que, graças à ciência, com a clonagem, conseguiremos finalmente nos reproduzir como as amebas, por cissiparidade. Da mesma forma, graças ao progresso dos costumes e das terapias alternativas, vamos, enfim, andar nus como os 'selvagens'. A única diferença é que a nossa nudez, conforme as classes sociais, será assinada por grandes costureiros e comprada na Daslu. Nem todo mundo andará igualmente pelado. A cintura baixa no ambiente de trabalho significa a vitória da cultura sobre o primitivismo do assédio sexual.
Há quem diga que a calça de cintura baixa representa o mais alto grau de auto-repressão da história da humanidade. Em termos machistas, quanto mais elas provocariam, mais eles se controlariam. Afinal, como elas dizem, 'não é para provocar ninguém, é só porque eu me sinto bem assim'. Essa hipótese deve ser considerada folclore. Assim como o mensalão. O genial Rousseau fez um alerta: 'O grande defeito dos europeus é estarem sempre a filosofar sobre as origens das coisas segundo o que se passa à sua volta'.
Estamos mais adiantados: a nossa medida é o que se passa na volta das cintura das mulheres. Tudo se vê por meio desse fator objetivo: saúde pública, padrão estético, grau de emancipação feminina, nível de alimentação e de práticas esportivas... As mulheres islâmicas, por exemplo, estão proibidas de mostrar a cintura, o que já é sintomático.
No Brasil, o ponto alto da calça de cintura baixa ficará para sempre ligado ao declínio da utopia petista, época tão engraçada que até os humoristas deixaram de ser levados a sério. Entramos na era da calça e da política de cintura baixa. Se Lulla não cumpriu a meta de criar 10 milhões de empregos, nem dobrou o salário mínimo, ao menos poderá, nas eleições do ano que vem, gabar-se de que no seu governo se deu o triunfo da calça de cintura baixa. Trata-se de um avanço de pelo menos três dedos em relação a FHC. Como tudo na política brasileira, foi um impressionante crescimento. Para baixo. O FMI não impôs medida contrária.
E-mail: juremir@correiodopovo.com.br
Correio do Povo Porto Alegre
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