Ele compôs músicas dizendo coisas como: “estou enojado de ouvir gente hipócrita, míope e estreita, só o que eu quero é a verdade; dê-me apenas alguma verdade. Estou farto de ler coisas de políticos neuróticos, psicóticos, teimosos. Nenhum covarde filho de Richard Nixon com cabelinho curto vai me fazer engolir histórias da carochinha” (Gimme Some Truth). Mandou bala em canções como Born in a Prison, dizendo: “a madeira torna-se uma flauta quando é amada, chega a ti e aos teus esgotados companheiros; um espelho torna-se uma navalha quando partido; olha no espelho e vê teu destino despedaçado” ou, como em Working Class Hero: “Te ofendem em casa e te batem na escola, te odeiam se és inteligente e te desprezam se és um tolo”. Era um inglês, talvez o único entre os ingleses, capaz de escrever: “se tivesses a sorte dos irlandeses, irias sentir muito e desejarias estar morto; devias ter a sorte dos irlandeses e, no lugar deles, desejarias ser inglês. Porque diabos estão lá os ingleses? E como matam com Deus ao seu lado! Culpam os garotos e os caras do IRA; e os bastardos cometem genocídio” (The Luck of The Irish), ou: “vocês, porcos ingleses e escoceses, mandados colonizar o norte; vocês têm sua sangrenta bandeira do Reino Unido, e sabem a que preço. Como se atreveram a manter como refém um povo orgulhoso e livre? Deixem a Irlanda para os irlandeses, atirem os ingleses ao mar!” (Sunday, Bloody Sunday). E, ao lado dos versos cáusticos, outros de um lirismo comovente como: “Antes de atravessares a rua, me dá tua mão. A vida é o que te acontece enquanto estás ocupado fazendo outros planos” (Beautiful Boy) ou “somos todos águas de rios diferentes e é por isso que é tão fácil que a gente se encontre, somos todos água neste vasto, vasto oceano. Um dia, iremos evaporar juntos (We’re All Water).Ele se chamava John Lennon. Foi assassinado por um maluco com uma pistola, dentro de um país maluco onde se imagina que ter uma arma de fogo é um direito. Foi um gênio e, possivelmente, a liderança mais carismática do mundo pop. Lutou pelos Direitos Humanos, defendeu as mulheres, os negros, os índios, as minorias. Denunciou massacres em prisões norte-americanas, zombou dos políticos e do Papa, fez campanhas pela paz, organizou protestos contra a guerra do Vietnam e compôs músicas lindas que seguirão sendo escutadas por muito tempo. Foi sincero, ingênuo, irônico, agressivo, frágil, contraditório, apaixonado, ciumento, encantador, radicalmente humano. Milhões de pessoas em todo o mundo se lembraram de Lennon esta semana, aos 25 anos de sua morte. Muitas delas carregam sua memória como uma tatuagem na alma e transformaram suas canções em hinos. Talvez porque John Lennon seja a trilha sonora dos sonhos mais generosos que produzimos: a paz e o respeito pelas pessoas. Quando choramos sua morte, é a distância destes sonhos o que choramos.
sábado, 10 de dezembro de 2005
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