sexta-feira, 12 de agosto de 2011

E se fosse na China?, por Rodrigo Lopes

Mais polêmico do que ameaçar usar o exército para conter os protestos na Grã-Bretanha foi a informação que percorreu os corredores do parlamento britânico ontem: o governo conservador de David Cameron estaria pensando em suspender o Twitter diante da iminência de novas ondas de ataques, como os que varreram Londres e outras cidades esta semana. Assessores do premier também devem se encontrar com executivos do Facebook e da Research In Motion, fabricante do BlackBerry, nas próximas semanas, para acertar acordos semelhantes.
Se fosse na China, no Irã, chamaríamos de censura, quem sabe ditadura. A onda de contestação estudantil que explodiu no Chile, por reformas na educação, na Grã-Bretanha por igualdade social, e na Síria de Bashar al-Assad por liberdade guarda semelhanças no uso de redes sociais para mobilizar as multidões. De Leste a Oeste do planeta, há semelhanças também na tentativa não tão velada de governos de limitarem o acesso à internet. Na primavera árabe, que começou na Tunísia, espalhou-se para o Egito e Líbia e chegou à Síria, o Twitter e o Facebook foram os principais motores dos protestos, assim como as mensagens de SMS, por celular, para marcar o ponto de encontro, a hora e a data das manifestações.
Contra a parede, Cameron foi obrigado a convocar de novo uma sessão extraordinária do parlamento – a primeira foi por causa do escândalo das escutas telefônicas do jornal News of The World. O premier fez um discurso duro, no qual não descartou importar o know how americano para lidar com gangues de rua: sabe-se que ele buscará contatos com pessoas como Bill Bratten, o ex-chefe das polícias de Los Angeles e Nova York, uma espécie de guru do combate à delinquência, que ajudou inclusive na famosa política de tolerância zero do ex-prefeito Rudolf Giuliani. Que deu certo, diga-se de passagem.
O aspecto cômico do dia ficou por conta do regime dos aiatolás oferecendo voluntários das milícias Basijj, ligadas à Guarda Revolucionária, para “restaurar a calma a Londres”. O governo iraniano ironizou o fato de a capital britânica ter mais de 1 milhão de câmeras de vigilância e, mesmo assim, não ter identificado os autores da onda de vandalismo. Depois de falar em censurar a internet, como fazem os aiatolás, ao governo de Cameron não restou outra alternativa a não ser ouvir a provocação e baixar a cabeça.



Zero Hora

Nenhum comentário: