Alguns, pelo jeito, acreditam que a política é a arte de odiar sempre. Há pessoas que falam do PT como se fosse imoral ou ilegal a sua existência. A crítica mais consistente ao PT continua sendo a de que prometeu ser diferente e acabou justificando-se dos mensalões da vida como igual aos demais. Por outro lado, pode gabar-se de ter feito, com Lula, dois dos melhores mandatos, nas condições sempre limitadas de um governo, na Presidência da República das últimas décadas. É bem verdade que não há muito com o que comparar em se tratando de normalidade institucional: FHC mudou a Constituição para reeleger-se. Itamar Franco foi tampão. Collor afundou antes de decolar. Para trás, 25 anos de ditadura. Antes, Jango golpeado por um parlamentarismo de emergência e derrubado. Antes ainda, Jânio Quadros pediu o seu boné.
Um pouquinho mais atrás, JK foi um dos poucos a terminar um mandato democrático, ainda que tenham tentado impedir-lhe a posse. Antes, Getúlio se matou. Um passo atrás, Eurico Gaspar Dutra, esteio militar da ditadura Vargas, atravessou o seu mandato como deu. Dois passos atrás, quinze anos de Getúlio sem eleições. Para trás, a longa jornada das fraudes eleitorais da República Velha. Jogo duro. Ainda estamos buscando azeitar o nosso sistema eleitoral. O PT sonha com o voto em lista fechada. Por que mesmo? Talvez por duas razões opostas: uma de purismo ideológico, a outra de pragmatismo eleitoreiro. Na primeira hipótese, o velho petismo marxista-leninista, conscientemente ou não, entrega-se à nostalgia de uma sociedade, enfim, regida pelo Partido soberano, já não único, mas hegemônico, velha utopia esquerdista, sem escolhas pessoais e sem o infame individualismo burguês.
Na outra perspectiva, a do pragmatismo eleitoreiro, o PT se vê como uma legenda que faz mais votos do que as outras, seja por razões ideológicas, seja por um capital de marketing acumulado no pós-ditadura e com o governo Lula, não totalmente dilapidado pelas alianças com a direita e pelos escândalos de corrupção, o que só lhe daria vantagens numa disputa em lista fechada. Sem contar a liberdade para os caciques definirem a posição de cada eleito, noutro sentido dessa palavra, na nominata, não precisarem mais correr individualmente atrás de votos e abrirem caminho para o financiamento público de campanha, que, de quebra, eliminaria a necessidade de cabalar recursos com financiadores pessoais e deixaria, para casos de necessidade, aberta a porta do caixa dois.
Em política, cada vez mais, os opostos se atraem. O PT não está sozinho nesses cálculos. A matemática política indica que não emplacará a famigerada lista fechada, embora possa negociar um sistema misto. Afinal, na dinâmica partidária, ainda é dando que se recebe. A questão é como conciliar a desideologização dos indivíduos e dos partidos com um imaginário social marcado pelo voto em pessoas e uma suposta necessidade de fortalecimento ideológico partidário via mecanismos eleitorais. Algo o PT pode esquecer: a era dos partidos fortes acabou. O eleitor só quer projetos e resultados.
Juremir Machado da Silva
Um pouquinho mais atrás, JK foi um dos poucos a terminar um mandato democrático, ainda que tenham tentado impedir-lhe a posse. Antes, Getúlio se matou. Um passo atrás, Eurico Gaspar Dutra, esteio militar da ditadura Vargas, atravessou o seu mandato como deu. Dois passos atrás, quinze anos de Getúlio sem eleições. Para trás, a longa jornada das fraudes eleitorais da República Velha. Jogo duro. Ainda estamos buscando azeitar o nosso sistema eleitoral. O PT sonha com o voto em lista fechada. Por que mesmo? Talvez por duas razões opostas: uma de purismo ideológico, a outra de pragmatismo eleitoreiro. Na primeira hipótese, o velho petismo marxista-leninista, conscientemente ou não, entrega-se à nostalgia de uma sociedade, enfim, regida pelo Partido soberano, já não único, mas hegemônico, velha utopia esquerdista, sem escolhas pessoais e sem o infame individualismo burguês.
Na outra perspectiva, a do pragmatismo eleitoreiro, o PT se vê como uma legenda que faz mais votos do que as outras, seja por razões ideológicas, seja por um capital de marketing acumulado no pós-ditadura e com o governo Lula, não totalmente dilapidado pelas alianças com a direita e pelos escândalos de corrupção, o que só lhe daria vantagens numa disputa em lista fechada. Sem contar a liberdade para os caciques definirem a posição de cada eleito, noutro sentido dessa palavra, na nominata, não precisarem mais correr individualmente atrás de votos e abrirem caminho para o financiamento público de campanha, que, de quebra, eliminaria a necessidade de cabalar recursos com financiadores pessoais e deixaria, para casos de necessidade, aberta a porta do caixa dois.
Em política, cada vez mais, os opostos se atraem. O PT não está sozinho nesses cálculos. A matemática política indica que não emplacará a famigerada lista fechada, embora possa negociar um sistema misto. Afinal, na dinâmica partidária, ainda é dando que se recebe. A questão é como conciliar a desideologização dos indivíduos e dos partidos com um imaginário social marcado pelo voto em pessoas e uma suposta necessidade de fortalecimento ideológico partidário via mecanismos eleitorais. Algo o PT pode esquecer: a era dos partidos fortes acabou. O eleitor só quer projetos e resultados.
Juremir Machado da Silva
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