quinta-feira, 2 de julho de 2009

A escolha, agora, é de Sarney

Por breves horas, ontem, o PT no Senado ensaiou se reconciliar com a antiga imagem do partido - a legenda campeã da moralidade pública, movida por santa indignação diante de desmandos, disposta a denunciar tudo que lhe parecesse errado e incapaz de ser tolerente com pequenos e grandes pecados.
O fantasma do velho PT fez sua breve aparição quando 11 dos 12 senadores se reuniram para discutir a crise do Senado, e sete concordaram com a proposta de afastamento de José Sarney (PMDB-AP) da presidência da Casa.
A crise é do Senado, como o próprio Sarney advertiu - e com razão. Mas a crise também é dele, personagem central em tantos episódios controversos, e secundário em outros tantos.
Ninguém preside o Senado três vezes impunentemente. Ninguém impunemente nomeia um diretor-geral que pinta e borda durante 14 anos.
Lula agiu rápido e, da Líbia, onde se encontrava em viagem oficial, exorcizou o fantasma incômodo, que poderia afastar da presidência do Senado um aliado fiel, e pôr em risco a futura aliança entre PT e PMDB em torno da candidatura presidencial de Dilma Rousseff.
Enquadrar o PT não foi difícil. Hoje, o partido não passa de uma sublegenda do "lulismo" - um movimento acima das fronteiras partidárias, sem ideologia, e que se sustenta no carisma extraordinário do seu líder e na devoção dos beneficiados pelos programas sociais do governo.
Depois da intervenção de Lula, foram restabelecidas as condições mínimas para que Sarney permaneça como presidente do Senado. Ou para que saia por cima se preferir, alegando cansaço ou ter mais o que fazer.
Ricardo Noblat

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