Do Blog do Alon:
O PMDB que se cuide. Por sua força e suas fraquezas, a agremiação está no alvo. E nele ficará, pelo menos até definir com quem vai casar em 2010
Enquanto em São José dos Campos os demitidos da Embraer constatam a inutilidade (para os trabalhadores, claro) do sindicalismo brasileiro, em Brasília a curiosidade converge para os próximos lances do affair PMDB. No chão das fábricas (e das lojas, e dos escritórios) Brasil afora o facão vai solto, mas nos carpetes da capital só se quer saber dos movimentos para atrair a noiva desejada. Atrair pela sedução ou pela força. Na base da conversa ou arrastada pelos cabelos. Ou ambas as coisas.
Nos muitos palácios de Brasília, entre uma e outra lamentação pública sobre a situação dos empregados postos na rua por causa da crise (ou a pretexto dela), o esporte da hora é bater no PMDB. Os mais otimistas (ou ingênuos) dirão que estamos diante de uma nova oportunidade para melhorar a política brasileira, para escoimá-la de alguns graves defeitos. Já os mais habituados a raios em céu azul procuram enxergar o que vai por trás das cortinas, tentam saber quem movimenta as cordas que fazem o boneco saltitar.
Desde que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) abriu fogo contra o seu próprio partido, distribuindo acusações sem porém nomear os culpados, ficou um grito parado no ar. Um Gianfrancesco Guarnieri atualizado à Matrix. De onde virá a bala? Quem vai acender o pavio? Quem vai tomar o primeiro tiro? Quem vai estar, por falta de sorte, no caminho dos estilhaços depois que tirarem o pino da granada?
Mas essas são apenas especulações, enquanto o jornalismo vai à caça da materialidade, já que ninguém deseja ser furado. O PMDB que se cuide. Mercê de sua força e de suas fraquezas, a agremiação está no alvo. E nele ficará, pelo menos até definir com quem vai casar em 2010. Dependendo da escolha, pode continuar na mira mesmo depois.
Dos defeitos do PMDB fala-se muito. Aliás, segundo o senador Pedro Simon (PMDB-RS), falhas encontradiças em todo o espectro partidário. Mas as qualidades do PMDB também são conhecidas, ainda que menos comentadas. A sigla tem musculatura e capilaridade. Ao PT e ao PSDB, por exemplo, falta o segundo quesito. O peemedebismo ocupa no espectro político um centro de viés democrático e vagamente nacionalista, o que acaba ajudando a legenda a obter músculos e a se manter localmente enraizada. O PMDB, numa comparação, preenche o lugar que entre 1945 e 1964 era do getulista Partido Social Democrático (PSD), fundado basicamente pelos interventores estaduais que Getúlio Vargas havia nomeado no Estado Novo.
Há uma certa unanimidade, entre os historiadores, de que a estabilidade política brasileira da Segunda Guerra Mundial até a queda de João Goulart podia ser medida em função da solidez da aliança entre o PSD e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), também getulista mas vindo de outra vertente, o sindicalismo. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Se o PMDB é o herdeiro do PSD, o fio da meada leva a que o PT seja hoje o continuador de fato da velha tradição petebista. Ironias da história.
Daí que, agora como no passado, tanto a paz no que resta de governo a Luiz Inácio Lula da Silva como as perspectivas futuras do projeto de poder petista repousem na aliança que, aos trancos e barrancos, o antes antigetulista e visceralmente udenista PT foi obrigado pela vida a concertar com o mais do que pessedista PMDB. O PT parece ter compreendido isso bem. Assim como a oposição. O que torna arriscada a vida do PMDB, colhido no fogo cruzado.
Na política, assim como na guerra, as alianças costuram-se não principalmente pelas afinidades, ou por objetivos comuns. Tal visão idílica costuma frequentar os escritos dos teóricos, mas na vida prática os movimentos, aproximações e afastamentos são bem mais influenciados pelo temor do que pela paixão. O PMDB é um partido grande, porém flácido e dividido. Não tem uma cara, não tem um condutor que se coloque à frente dele e funcione como anteparo. Quando o PT foi alvejado na crise de 2005, havia Lula como reserva de força. Hoje, quando o PSDB tem um de seus governadores cassado e outra seriamente enrolada em todo tipo de confusão, o prestígio e o respeito angariados por José Serra e Aécio Neves funcionam como escudo.
Já o PMDB não tem quem o proteja, não tem um líder capaz de rivalizar com os demais caciques, não tem uma luz que aponte para o futuro. Não tem um projeto nacional. É situação de alto risco para um partido grande e que virou fiel da balança.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Enquanto em São José dos Campos os demitidos da Embraer constatam a inutilidade (para os trabalhadores, claro) do sindicalismo brasileiro, em Brasília a curiosidade converge para os próximos lances do affair PMDB. No chão das fábricas (e das lojas, e dos escritórios) Brasil afora o facão vai solto, mas nos carpetes da capital só se quer saber dos movimentos para atrair a noiva desejada. Atrair pela sedução ou pela força. Na base da conversa ou arrastada pelos cabelos. Ou ambas as coisas.
Nos muitos palácios de Brasília, entre uma e outra lamentação pública sobre a situação dos empregados postos na rua por causa da crise (ou a pretexto dela), o esporte da hora é bater no PMDB. Os mais otimistas (ou ingênuos) dirão que estamos diante de uma nova oportunidade para melhorar a política brasileira, para escoimá-la de alguns graves defeitos. Já os mais habituados a raios em céu azul procuram enxergar o que vai por trás das cortinas, tentam saber quem movimenta as cordas que fazem o boneco saltitar.
Desde que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) abriu fogo contra o seu próprio partido, distribuindo acusações sem porém nomear os culpados, ficou um grito parado no ar. Um Gianfrancesco Guarnieri atualizado à Matrix. De onde virá a bala? Quem vai acender o pavio? Quem vai tomar o primeiro tiro? Quem vai estar, por falta de sorte, no caminho dos estilhaços depois que tirarem o pino da granada?
Mas essas são apenas especulações, enquanto o jornalismo vai à caça da materialidade, já que ninguém deseja ser furado. O PMDB que se cuide. Mercê de sua força e de suas fraquezas, a agremiação está no alvo. E nele ficará, pelo menos até definir com quem vai casar em 2010. Dependendo da escolha, pode continuar na mira mesmo depois.
Dos defeitos do PMDB fala-se muito. Aliás, segundo o senador Pedro Simon (PMDB-RS), falhas encontradiças em todo o espectro partidário. Mas as qualidades do PMDB também são conhecidas, ainda que menos comentadas. A sigla tem musculatura e capilaridade. Ao PT e ao PSDB, por exemplo, falta o segundo quesito. O peemedebismo ocupa no espectro político um centro de viés democrático e vagamente nacionalista, o que acaba ajudando a legenda a obter músculos e a se manter localmente enraizada. O PMDB, numa comparação, preenche o lugar que entre 1945 e 1964 era do getulista Partido Social Democrático (PSD), fundado basicamente pelos interventores estaduais que Getúlio Vargas havia nomeado no Estado Novo.
Há uma certa unanimidade, entre os historiadores, de que a estabilidade política brasileira da Segunda Guerra Mundial até a queda de João Goulart podia ser medida em função da solidez da aliança entre o PSD e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), também getulista mas vindo de outra vertente, o sindicalismo. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Se o PMDB é o herdeiro do PSD, o fio da meada leva a que o PT seja hoje o continuador de fato da velha tradição petebista. Ironias da história.
Daí que, agora como no passado, tanto a paz no que resta de governo a Luiz Inácio Lula da Silva como as perspectivas futuras do projeto de poder petista repousem na aliança que, aos trancos e barrancos, o antes antigetulista e visceralmente udenista PT foi obrigado pela vida a concertar com o mais do que pessedista PMDB. O PT parece ter compreendido isso bem. Assim como a oposição. O que torna arriscada a vida do PMDB, colhido no fogo cruzado.
Na política, assim como na guerra, as alianças costuram-se não principalmente pelas afinidades, ou por objetivos comuns. Tal visão idílica costuma frequentar os escritos dos teóricos, mas na vida prática os movimentos, aproximações e afastamentos são bem mais influenciados pelo temor do que pela paixão. O PMDB é um partido grande, porém flácido e dividido. Não tem uma cara, não tem um condutor que se coloque à frente dele e funcione como anteparo. Quando o PT foi alvejado na crise de 2005, havia Lula como reserva de força. Hoje, quando o PSDB tem um de seus governadores cassado e outra seriamente enrolada em todo tipo de confusão, o prestígio e o respeito angariados por José Serra e Aécio Neves funcionam como escudo.
Já o PMDB não tem quem o proteja, não tem um líder capaz de rivalizar com os demais caciques, não tem uma luz que aponte para o futuro. Não tem um projeto nacional. É situação de alto risco para um partido grande e que virou fiel da balança.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
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