Bezerra Couto*
Que estranho esse encantamento mundial com a vitória de Obama! Direita e esquerda, africanos e europeus, Hollywood e Japão, negros e brancos, pobres e ricos, todos exibem uma felicidade, um tom de entusiasmo, que me leva a uma pergunta sobre o passado e a uma afirmação sobre o futuro.
A pergunta: se é sincera a adesão de tanta gente, e gente que representa forças tão poderosas, às idéias de mudança de Mr. Barack Hussein Obama Jr., por que os Estados Unidos não elegeram antes um presidente negro, culto e com idéias democráticas?
A afirmação: alguém Obama vai decepcionar. Porque é impossível agradar a tantos, e pessoas tão diferentes, por muito tempo em tantos lugares. Para ser alguém na história, Obama tem de saber escolher quem irá frustrar. Espero, e não temo ser chamado de ingênuo por isso, que não seja o lado dos excluídos da globalização e das vítimas da usina Bush de produção de desastres.
Mas meu papo aqui não é Obama, que virou quase o samba de uma nota só da imprensa. É pôr pra fora bezerrices que não me saem da cabeça. (Admito e declaro, desde já, que o faço sob a inspiração do aforista-mor das letras pátrias, mestre Millôr Fernandes.)
A elas, pois.
1. A solidão é uma amiga leal e necessária, mas quando você não consegue fazer outras amizades, ih rapaz, aí ela é uma desgraça.
2. Só sinto insônia quando tento dormir e não consigo.
3. O grande problema dos dogmáticos é que têm tantas dúvidas sobre o dogma que propagam que não sossegam enquanto não tentam convencer você sobre aquilo de que até eles, no fundo, desconfiam.
4. Vou acreditar no Brasil quando a minoria de “muitos vivos” que o domina for chamada às falas pela maioria de “mortos-vivos” que se deixa dominar.
5. A civilização nos limita, nos restringe e nos irrita, mas, sem ela, a vida em sociedade seria impossível. Ou alguém aí ainda prefere resolver todos os conflitos na base do porrete?
6. Não é à toa que Kafka, que nasceu no século 19 e cuja obra só se tornou conhecida após sua morte, é tão lembrado nos dias de hoje. Vivemos às voltas com “insetos repugnantes” e processos insondáveis.
7. Lula não é na presidência nem a metade do que se poderia esperar dele, mas, por sorte, intuição ou quaisquer outras razões, faz o governo que apresenta os melhores resultados econômicos e sociais do país nos últimos 30 anos.
8. Que o cigarro faz mal à saúde, ninguém discute. Mas é medieval o clima de hostilidade hoje existente contra os fumantes. Se estamos numa democracia, que se deixe cada um fazer o que bem entende com os seus pulmões.
9. O que, afinal, quer uma mulher?, perguntava Freud. Pois bem. A resposta me foi entregue de bandeja por Isabela, minha digníssima, que precisou de apenas quatro letrinhas para matar a quase centenária charada freudiana: “tudo”.
10. Uma mentira conveniente, principalmente quando apresentada de modo lógico, é sempre mais reconfortante que a mais incontestável das verdades. Não nos iludamos: a matéria humana não foi preparada para encarar os fatos como eles são. Ao contrário. Precisa se abastecer de ilusões, sofismas e outros atalhos sutis para agüentar a barra da experiência diária de tocar a vida num mundo que, cá pra nós, é pródigo em produzir momentos de decepção ou tédio e avaro na distribuição de felicidade.
Que estranho esse encantamento mundial com a vitória de Obama! Direita e esquerda, africanos e europeus, Hollywood e Japão, negros e brancos, pobres e ricos, todos exibem uma felicidade, um tom de entusiasmo, que me leva a uma pergunta sobre o passado e a uma afirmação sobre o futuro.
A pergunta: se é sincera a adesão de tanta gente, e gente que representa forças tão poderosas, às idéias de mudança de Mr. Barack Hussein Obama Jr., por que os Estados Unidos não elegeram antes um presidente negro, culto e com idéias democráticas?
A afirmação: alguém Obama vai decepcionar. Porque é impossível agradar a tantos, e pessoas tão diferentes, por muito tempo em tantos lugares. Para ser alguém na história, Obama tem de saber escolher quem irá frustrar. Espero, e não temo ser chamado de ingênuo por isso, que não seja o lado dos excluídos da globalização e das vítimas da usina Bush de produção de desastres.
Mas meu papo aqui não é Obama, que virou quase o samba de uma nota só da imprensa. É pôr pra fora bezerrices que não me saem da cabeça. (Admito e declaro, desde já, que o faço sob a inspiração do aforista-mor das letras pátrias, mestre Millôr Fernandes.)
A elas, pois.
1. A solidão é uma amiga leal e necessária, mas quando você não consegue fazer outras amizades, ih rapaz, aí ela é uma desgraça.
2. Só sinto insônia quando tento dormir e não consigo.
3. O grande problema dos dogmáticos é que têm tantas dúvidas sobre o dogma que propagam que não sossegam enquanto não tentam convencer você sobre aquilo de que até eles, no fundo, desconfiam.
4. Vou acreditar no Brasil quando a minoria de “muitos vivos” que o domina for chamada às falas pela maioria de “mortos-vivos” que se deixa dominar.
5. A civilização nos limita, nos restringe e nos irrita, mas, sem ela, a vida em sociedade seria impossível. Ou alguém aí ainda prefere resolver todos os conflitos na base do porrete?
6. Não é à toa que Kafka, que nasceu no século 19 e cuja obra só se tornou conhecida após sua morte, é tão lembrado nos dias de hoje. Vivemos às voltas com “insetos repugnantes” e processos insondáveis.
7. Lula não é na presidência nem a metade do que se poderia esperar dele, mas, por sorte, intuição ou quaisquer outras razões, faz o governo que apresenta os melhores resultados econômicos e sociais do país nos últimos 30 anos.
8. Que o cigarro faz mal à saúde, ninguém discute. Mas é medieval o clima de hostilidade hoje existente contra os fumantes. Se estamos numa democracia, que se deixe cada um fazer o que bem entende com os seus pulmões.
9. O que, afinal, quer uma mulher?, perguntava Freud. Pois bem. A resposta me foi entregue de bandeja por Isabela, minha digníssima, que precisou de apenas quatro letrinhas para matar a quase centenária charada freudiana: “tudo”.
10. Uma mentira conveniente, principalmente quando apresentada de modo lógico, é sempre mais reconfortante que a mais incontestável das verdades. Não nos iludamos: a matéria humana não foi preparada para encarar os fatos como eles são. Ao contrário. Precisa se abastecer de ilusões, sofismas e outros atalhos sutis para agüentar a barra da experiência diária de tocar a vida num mundo que, cá pra nós, é pródigo em produzir momentos de decepção ou tédio e avaro na distribuição de felicidade.
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