A idéia de prévias no PSDB, para escolha do candidato do partido à sucessão presidencial, vem da eleição passada, 2006. O hoje líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM), foi o seu mentor. A idéia não foi para frente naquela ocasião por ter faltado a Virgílio força política para impulsioná-la. Ele próprio pretendia disputar as prévias, rechaçadas por Geraldo Alckimin.
A adesão do governador de Minas, Aécio Neves, à tese encontra apoio natural em Arthur Virgílio, que continua a vê-la como fator de motivação partidária e, ao contrário do que se apregoa, indutor da unidade. Não é o que pensa, no entanto, o guru do senador, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E isso o neutraliza.
O PSDB paga caro por seu sotaque paulistano. É lá que foi gerado, e é lá que estão suas figuras principais, o que faz com que freqüentemente atropele ou mesmo ignore suas lideranças mais expressivas nos demais estados. Mesmo no âmbito do interior do estado de São Paulo, há reação a essa centralização paulistana, de que é exemplo o comportamento rebelde de Geraldo Alckmin na recente eleição municipal.
Aécio reproduz agora a reação que teve em 2002 o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, que quis também desafiar José Serra na sucessão de então, sem êxito. Tasso foi derrotado, mas contribuiu para que o partido partisse desunido para a campanha eleitoral, vencida por Lula.
Aécio sabe que tem pouca (ou nenhuma) chance contra a seção paulistana do partido. Mas pretende manter esticada a corda até quando lhe for possível, de modo a impedir que os demais estados, sobretudo o seu, fiquem para trás nas decisões em torno da disputa.
Quanto mais mantiver sob tensão o partido, mais fortalecerá seu cacife político pessoal. A idéia de trocar de legenda e ingressar no PMDB, partido que vive a cortejá-lo, existe, mas, por enquanto, apenas compõe seu arsenal de ameaças. Ele teme o PMDB, por sua natural fragmentação. É um partido de caciques regionais, unido apenas pelos interesses fisiológicos de apoio ao governo federal.
Não há uma liderança nacional, como o foi no passado Ulysses Guimarães, que possibilitava alguma unidade à legenda. Aécio poderia ocupar esse lugar, mas receia que já não haja espaço para aquele papel. Desde que se viu privado de Ulysses, o PMDB investe na sua descentralização, que lhe permite fechar acordos em frentes antagônicas. Neste momento, por exemplo, parte do partido fecha com a candidatura de Dilma Roussef, enquanto outra, representada pela seção paulista, sob o comando de Orestes Quércia, fecha com José Serra. O partido quer estar presente no futuro governo, seja ele qual for. A ala que vier a ser derrotada sabe que será absorvida pela vencedora na seqüência imediata da posse.
Foi assim na primeira eleição de Lula, quando o hoje ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, apoiou José Serra. Na segunda eleição de Lula, já governista, Geddel o apoiou, enquanto outros correligionários, cumprindo a coreografia estabelecida, apoiavam Alckmin, mesmo sabendo-o com remotíssimas chances.
Aécio quer ser, no mínimo, um eleitor influente, capaz de garantir espaço expressivo no futuro governo. Se absorver José Serra desde já como fato consumado, terá que se conformar com um papel secundário. Se continuar sendo uma pedra no sapato daquela candidatura, será cortejado. Pode vir a ser o vice ou o indicar, garantindo também alguns ministérios importantes. Pode mudar de partido e vir a ser o candidato. Pode também estabelecer uma dissidência, que o leve a negociar votos com a candidata do PT.
Tudo dependerá dos desdobramentos. Serra, de sua parte, mantém distanciamento da briga para a qual está sendo chamado. Já admitiu as prévias, apenas para esvaziá-las. Há intermediários em cena, empenhados em inviabilizá-las. O bombeiro-chefe da operação é Fernando Henrique Cardoso, amigo de Aécio e defensor da candidatura de Serra. FHC, no entanto, não foi bem-sucedido na operação similar que pretendia, na eleição municipal do ano passado, tirar Alckmin de cena.
Até aqui, não obteve resultados melhores. Ao contrário, já recebeu de Aécio reprimendas por estar insistindo na paulistização do processo sucessório dentro do PSDB. O grande aliado tucano de Aécio não lhe tem sido de valia. É Tasso Jereissati, que, por representar o PSDB pobre – o do Ceará -, pode apenas integrar o coro dos ressentidos dentro do partido.
Mesmo sem chances, Aécio insistirá. Já agendou viagens por todo o país, em busca de apoio junto às seções regionais do PSDB. Com isso, fortalece seu cacife e impõe mais humildade aos tucanos paulistanos, fazendo-os ver que a sucessão não se resolve apenas em São Paulo. Lula assiste feliz ao embate, dando, por motivos óbvios, a maior força a Aécio.
Ruy Fabiano
A adesão do governador de Minas, Aécio Neves, à tese encontra apoio natural em Arthur Virgílio, que continua a vê-la como fator de motivação partidária e, ao contrário do que se apregoa, indutor da unidade. Não é o que pensa, no entanto, o guru do senador, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E isso o neutraliza.
O PSDB paga caro por seu sotaque paulistano. É lá que foi gerado, e é lá que estão suas figuras principais, o que faz com que freqüentemente atropele ou mesmo ignore suas lideranças mais expressivas nos demais estados. Mesmo no âmbito do interior do estado de São Paulo, há reação a essa centralização paulistana, de que é exemplo o comportamento rebelde de Geraldo Alckmin na recente eleição municipal.
Aécio reproduz agora a reação que teve em 2002 o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, que quis também desafiar José Serra na sucessão de então, sem êxito. Tasso foi derrotado, mas contribuiu para que o partido partisse desunido para a campanha eleitoral, vencida por Lula.
Aécio sabe que tem pouca (ou nenhuma) chance contra a seção paulistana do partido. Mas pretende manter esticada a corda até quando lhe for possível, de modo a impedir que os demais estados, sobretudo o seu, fiquem para trás nas decisões em torno da disputa.
Quanto mais mantiver sob tensão o partido, mais fortalecerá seu cacife político pessoal. A idéia de trocar de legenda e ingressar no PMDB, partido que vive a cortejá-lo, existe, mas, por enquanto, apenas compõe seu arsenal de ameaças. Ele teme o PMDB, por sua natural fragmentação. É um partido de caciques regionais, unido apenas pelos interesses fisiológicos de apoio ao governo federal.
Não há uma liderança nacional, como o foi no passado Ulysses Guimarães, que possibilitava alguma unidade à legenda. Aécio poderia ocupar esse lugar, mas receia que já não haja espaço para aquele papel. Desde que se viu privado de Ulysses, o PMDB investe na sua descentralização, que lhe permite fechar acordos em frentes antagônicas. Neste momento, por exemplo, parte do partido fecha com a candidatura de Dilma Roussef, enquanto outra, representada pela seção paulista, sob o comando de Orestes Quércia, fecha com José Serra. O partido quer estar presente no futuro governo, seja ele qual for. A ala que vier a ser derrotada sabe que será absorvida pela vencedora na seqüência imediata da posse.
Foi assim na primeira eleição de Lula, quando o hoje ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, apoiou José Serra. Na segunda eleição de Lula, já governista, Geddel o apoiou, enquanto outros correligionários, cumprindo a coreografia estabelecida, apoiavam Alckmin, mesmo sabendo-o com remotíssimas chances.
Aécio quer ser, no mínimo, um eleitor influente, capaz de garantir espaço expressivo no futuro governo. Se absorver José Serra desde já como fato consumado, terá que se conformar com um papel secundário. Se continuar sendo uma pedra no sapato daquela candidatura, será cortejado. Pode vir a ser o vice ou o indicar, garantindo também alguns ministérios importantes. Pode mudar de partido e vir a ser o candidato. Pode também estabelecer uma dissidência, que o leve a negociar votos com a candidata do PT.
Tudo dependerá dos desdobramentos. Serra, de sua parte, mantém distanciamento da briga para a qual está sendo chamado. Já admitiu as prévias, apenas para esvaziá-las. Há intermediários em cena, empenhados em inviabilizá-las. O bombeiro-chefe da operação é Fernando Henrique Cardoso, amigo de Aécio e defensor da candidatura de Serra. FHC, no entanto, não foi bem-sucedido na operação similar que pretendia, na eleição municipal do ano passado, tirar Alckmin de cena.
Até aqui, não obteve resultados melhores. Ao contrário, já recebeu de Aécio reprimendas por estar insistindo na paulistização do processo sucessório dentro do PSDB. O grande aliado tucano de Aécio não lhe tem sido de valia. É Tasso Jereissati, que, por representar o PSDB pobre – o do Ceará -, pode apenas integrar o coro dos ressentidos dentro do partido.
Mesmo sem chances, Aécio insistirá. Já agendou viagens por todo o país, em busca de apoio junto às seções regionais do PSDB. Com isso, fortalece seu cacife e impõe mais humildade aos tucanos paulistanos, fazendo-os ver que a sucessão não se resolve apenas em São Paulo. Lula assiste feliz ao embate, dando, por motivos óbvios, a maior força a Aécio.
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