sexta-feira, 11 de julho de 2008

É tudo ou nada

Há excesso de liberdade no Brasil. Qualquer ordinário levanta o dedo e reclama por direitos, direitos iguais. Conversa, compadre. Sem essa de direitos iguais. O direito tem que ser igual de modo diferenciado. Só assim há justiça. Dar por igual aos desiguais nunca foi justiça.

Não agüento mais a estupidez de ouvir néscios falar em Lei Seca. Não há Lei Seca no Brasil, o que há é proibição de dirigir depois de beber, só isso.

Do mesmo modo que há em muitas empresas áreas de segurança, onde não se pode entrar sem capacete, óculos especiais, botas, luvas, o que for, também no trânsito há que haver regulamentos definitivos, intransigentes. Mas não faltam os interessados no lucro pessoal para dizer que a tal lei seca provoca desemprego.

Que desemprego provoca? Se o sujeito for sair à noite para festar e beber, que vá de táxi. Que desemprego isso causa? Pelo contrário, os caras dos bares vão continuar vendendo bebidas, e os taxistas vão ter mais trabalho. Aumenta o número de corridas para os táxis.

Vai diminuir o trabalho, isso sim, nas emergências dos hospitais, o que já é comprovadamente verdade. E se o sujeito que for sair à noite para ir a uma festa não tiver dinheiro para o táxi, é um pobretão, que fique em casa.

É muito mais cômodo pegar um táxi, ir cochilando para a festa, comer, beber, rir com os amigos e depois, depois chamar o táxi e ir tranqüilo para casa. Só uma pedra discorda disso.

Num país onde a lei vale tanto quanto um jornal do mês passado — e é isso e não vamos discutir — quando alguém resolve pôr ordem na casa, bah, cai a casa.

Será que alguém ainda lembra da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança? Foi um bafafá, mas a lei foi mantida, o pessoal não teve como fugir, acabou aceitando e o hoje o cinto é usado naturalmente por todos. Por quê? Ora que pergunta ingênua, pela incondicionalidade da lei: ou usa ou paga multa. O pessoalzinho gosta muito de discutir a lei, de usar de recursos, de espernear por seus espúrios direitos.

Houve tempo em que nos aviões havia áreas para fumantes, muitos diziam não poder passar cinco minutos sem fumar, que morreriam de pânico. O pessoal das companhias áreas transigia, até que alguém disse não. Era questão de segurança de vôo. Pronto, ninguém mais fuma, e ninguém morreu por não fumar durante os vôos.

Tem que ser assim, tudo ou nada. O nada, sabemos, é a anarquia em que vivemos. O tudo é a proibição incondicional da bebida para quem vai dirigir. Claro, nem fiz alusão aos falsos machos, que só são "machos" bêbados.
Luiz Carlos Prates

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