Se o PSDB não conseguir derrotar a aliança de esquerda na cidade de São Paulo, vai ganhar onde?
Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br
A eleição para prefeito de São Paulo costuma funcionar como termômetro nacional para o Partido dos Trabalhadores. Em parte porque o estado é simultaneamente berço e principal alicerce da legenda. Mas também porque os números da corrida pelo comando da capital paulista acabam emitindo sinais bastante nítidos sobre o humor do eleitorado das grandes metrópoles. E sabe-se que esse segmento é a principal base social do PT.
Em 1985, por exemplo, a imprevista vitória de Janio Quadros foi o sinal de fumaça sobre o prematuro cansaço do eleitor com a Nova República de José Sarney e Ulysses Guimarães. E o bom desempenho de Eduardo Suplicy evidenciou a força nascente do petismo. Já em 1988, a surpreendente atropelada final de Luiz Erundina sobre Paulo Maluf pode hoje ser lida como o prólogo da passagem, um ano depois, de Luiz Inácio Lula da Silva ao segundo turno da sucessão presidencial.
Quatro anos mais tarde, em 1992, a ressurreição política de um
Paulo Maluf feito alcaide em pleno auge da crise que levou à derrubada do presidente Fernando Collor pode hoje ser analisada como um aviso: o vácuo aberto pelo impeachment não seria necessariamente ocupado pela esquerda. A confirmação veio dali a dois anos, quando Fernando Henrique Cardoso, montado no Plano Real, aglutinou todo o espectro conservador para impedir a eleição de Lula.
Em 1996, Maluf fez facilmente o sucessor, Celso Pitta, numa demonstração de que a maioria da população paulistana continuava inclinada do centro para a direita, e de que não tinha ainda chegado a hora do PT. Em 2000, finalmente, Marta Suplicy entrou no Palácio das Indústrias. Vivia-se, ao mesmo tempo, o ápice do antimalufismo alimentado pela crise permanente da administração Pitta e o ambiente de frustração que marcou todo o segundo quadriênio de FHC.
Marta não conseguiu se reeleger. Perdeu por pequena diferença para um José Serra que vinha vitaminado pela passagem ao segundo turno da eleição presidencial contra Lula em 2002. O curioso é que na semana da derrota no segundo turno em 2004 Marta conseguiu a melhor avaliação de seu governo em todo o mandato. Por que Marta perdeu? Porque, além de ter pela frente um nome fortíssimo, estava isolada política e socialmente. Não tinha com ela outras forças relevantes e havia construído uma forte rejeição nas camadas médias.
Lula correu o mesmo risco em 2006. Mas teve a sabedoria de evitar o isolamento. Além de contar com a absoluta incompetência da oposição para construir um projeto nacional que se não se resumisse à vontade dela, oposição, de voltar ao poder.
A cidade de São Paulo sempre foi um desafio difícil para o PT. Em 2002, no auge de sua canonização como “Lulinha paz e amor”, Lula bateu Serra na segunda rodada presidencial por pouco mais de 120 mil votos num universo de mais de 7,5 milhões de eleitores. A verdade é que o antimalufismo foi até hoje o único trampolim eficaz para o petismo paulistano ganhar eleições. Com o esgotamento da liderança política de Maluf e a ocupação majoritária da centro-direita pelo PSDB, restou ao PT a franja esquerda do eleitorado, que em São Paulo está longe de ser maioria.
Por essa razão, Marta não tem qualquer obrigação de vencer a eleição deste ano. Ela não pode é fazer feio. Mas suas chances de vitória aumentaram nos últimos dias com a adesão do bloco de esquerda liderado pelo PSB. Ela conta ainda com o inacreditável imbróglio entre Geraldo Alckmin e o prefeito quase-tucano Gilberto Kassab, do Democratas. As pesquisas mostram também que caiu a rejeição a Marta na classe média e que hoje em São Paulo Lula é um grande eleitor. Principalmente se conseguir convencer o distinto público de que vai colocar com tudo o governo federal para fazer metrô na cidade.
Mas, se Marta não tem a obrigação de vencer, para o PSDB trata-se da eleição do tudo ou nada. Por uma razão simples. Se o PSDB não conseguir derrotar o bloco de esquerda na cidade de São Paulo, vai ganhar onde? Certamente não nos lugares onde Lula é mais forte, como no Nordeste. Em outras palavras, se a aliança de esquerda bater a coligação PSDB—Democratas na capital paulista, estará sacramentado que Luiz Inácio Lula da Silva parte para 2010 com a faca e o queijo nas mãos para fazer o sucessor.
Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br
A eleição para prefeito de São Paulo costuma funcionar como termômetro nacional para o Partido dos Trabalhadores. Em parte porque o estado é simultaneamente berço e principal alicerce da legenda. Mas também porque os números da corrida pelo comando da capital paulista acabam emitindo sinais bastante nítidos sobre o humor do eleitorado das grandes metrópoles. E sabe-se que esse segmento é a principal base social do PT.
Em 1985, por exemplo, a imprevista vitória de Janio Quadros foi o sinal de fumaça sobre o prematuro cansaço do eleitor com a Nova República de José Sarney e Ulysses Guimarães. E o bom desempenho de Eduardo Suplicy evidenciou a força nascente do petismo. Já em 1988, a surpreendente atropelada final de Luiz Erundina sobre Paulo Maluf pode hoje ser lida como o prólogo da passagem, um ano depois, de Luiz Inácio Lula da Silva ao segundo turno da sucessão presidencial.
Quatro anos mais tarde, em 1992, a ressurreição política de um
Paulo Maluf feito alcaide em pleno auge da crise que levou à derrubada do presidente Fernando Collor pode hoje ser analisada como um aviso: o vácuo aberto pelo impeachment não seria necessariamente ocupado pela esquerda. A confirmação veio dali a dois anos, quando Fernando Henrique Cardoso, montado no Plano Real, aglutinou todo o espectro conservador para impedir a eleição de Lula.
Em 1996, Maluf fez facilmente o sucessor, Celso Pitta, numa demonstração de que a maioria da população paulistana continuava inclinada do centro para a direita, e de que não tinha ainda chegado a hora do PT. Em 2000, finalmente, Marta Suplicy entrou no Palácio das Indústrias. Vivia-se, ao mesmo tempo, o ápice do antimalufismo alimentado pela crise permanente da administração Pitta e o ambiente de frustração que marcou todo o segundo quadriênio de FHC.
Marta não conseguiu se reeleger. Perdeu por pequena diferença para um José Serra que vinha vitaminado pela passagem ao segundo turno da eleição presidencial contra Lula em 2002. O curioso é que na semana da derrota no segundo turno em 2004 Marta conseguiu a melhor avaliação de seu governo em todo o mandato. Por que Marta perdeu? Porque, além de ter pela frente um nome fortíssimo, estava isolada política e socialmente. Não tinha com ela outras forças relevantes e havia construído uma forte rejeição nas camadas médias.
Lula correu o mesmo risco em 2006. Mas teve a sabedoria de evitar o isolamento. Além de contar com a absoluta incompetência da oposição para construir um projeto nacional que se não se resumisse à vontade dela, oposição, de voltar ao poder.
A cidade de São Paulo sempre foi um desafio difícil para o PT. Em 2002, no auge de sua canonização como “Lulinha paz e amor”, Lula bateu Serra na segunda rodada presidencial por pouco mais de 120 mil votos num universo de mais de 7,5 milhões de eleitores. A verdade é que o antimalufismo foi até hoje o único trampolim eficaz para o petismo paulistano ganhar eleições. Com o esgotamento da liderança política de Maluf e a ocupação majoritária da centro-direita pelo PSDB, restou ao PT a franja esquerda do eleitorado, que em São Paulo está longe de ser maioria.
Por essa razão, Marta não tem qualquer obrigação de vencer a eleição deste ano. Ela não pode é fazer feio. Mas suas chances de vitória aumentaram nos últimos dias com a adesão do bloco de esquerda liderado pelo PSB. Ela conta ainda com o inacreditável imbróglio entre Geraldo Alckmin e o prefeito quase-tucano Gilberto Kassab, do Democratas. As pesquisas mostram também que caiu a rejeição a Marta na classe média e que hoje em São Paulo Lula é um grande eleitor. Principalmente se conseguir convencer o distinto público de que vai colocar com tudo o governo federal para fazer metrô na cidade.
Mas, se Marta não tem a obrigação de vencer, para o PSDB trata-se da eleição do tudo ou nada. Por uma razão simples. Se o PSDB não conseguir derrotar o bloco de esquerda na cidade de São Paulo, vai ganhar onde? Certamente não nos lugares onde Lula é mais forte, como no Nordeste. Em outras palavras, se a aliança de esquerda bater a coligação PSDB—Democratas na capital paulista, estará sacramentado que Luiz Inácio Lula da Silva parte para 2010 com a faca e o queijo nas mãos para fazer o sucessor.
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