sábado, 21 de janeiro de 2006

Que bom que ele estivesse errado


De herdeiro a cúmplice
Clóvis Rossi *
Digamos que a revista "Veja" houvesse flagrado em cenas explícitas de alta corrupção um alto funcionário dos Correios, em nome da alta cúpula do PTB, durante o governo anterior. O que diria você, petista roxo, mas ainda honesto nas suas convicções? Baita escândalo, não é? Mas perfeitamente possível e até previsível. Vejamos:1 - O PTB era aliado de Fernando Henrique da mesma forma que ficou aliado de Lula.2 - O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, foi membro ativo da tropa de choque do governo Fernando Collor de Mello, aquele presidente deposto por falta de decoro.Quem é aliado de um político indecoroso não é boa companhia para gente que se pretende decente, não é mesmo?Ainda mais que Jefferson foi aliado de Collor também em todas as canalhices cometidas pelo então candidato contra seu principal adversário, casualmente chamado Luiz Inácio Lula da Silva.O que você, petista roxo, mas honesto, esperaria de quem tem tal tipo de comportamento e de quem se alia a um governante notória e publicamente carente de decoro?Se fosse no governo passado -e poderia perfeitamente ter sido-, você babaria de indignação, pediria todas as CPIs possíveis, exigiria o garrote vil para o presidente da República e por aí vai.E agora? Se você é petista roxo, mas conseguiu conservar-se honesto (espero que haja muito assim, embora silenciosos), tudo o que pode fazer é mais silêncio ainda.Por um motivo simples: o seu partido aceitou toda a chamada "herança maldita", até a parte podre dela. Não é mais herdeiro que pode tirar o corpo fora culpando o legado recebido.Agora, é cúmplice.
* Jornal Folha de São Paulo

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