Dilma cancela ida a diretório e abre crise com PT 12
Josias de Souza 20/07/2013 06:18
Aconselhados por Lula, os principais operadores do PT vinham se esforçando para não discutir com Dilma Rousseff. Nas últimas horas, conseguiram superar o objetivo. Descobriu-se que partido e presidente já nem se falam.
Num gesto de estreitamento da animosidade, o PT convidara Dilma para participar da reunião do seu diretório nacional, neste sábado. Informou-se que ela iria. Súbito, a poucas horas do encontro, a presidente mandou avisar que não dará as caras.
O petismo reagiu com um misto de surpresa e irritação. A ficha da Dilma ainda não caiu, disse ao blog um membro do diretório do PT, emendando uma indagação: se ela trata a gente assim, aos pontapés, como espera seduzir os outros partidos a permanecerem do seu lado em 2014?
A turma do deixa-disso tentava, na noite passada, convencer Dilma a rever sua posição. Até Lula foi acionado. O PT sentiu-se desrespeitado. A desculpa soou esfarrapada. Alegou-se que Dilma terá de realizar uma reunião para conferir o esquema de segurança montado para proteger o papa Francisco. Lorota.
Na verdade, Dilma está tiririca com o PT. Há duas semanas, ela reunira no Planalto algumas das principais vozes da legenda. Ouviu e rebateu críticas. Pediu coesão ao partido na defesa dos interesses do governo. Guindou o plebiscito sobre reforma política à condição de prioridade.
Na saída, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), disse: “Vamos trabalhar para rearticular a base, pacificar a base. A viola desafinou um pouco. E qualquer viola desafinada tem que ser afinada. E o PT pode ajudar a afinar e já está afinando.” Conversa fiada.
Há cinco dias, Lula convidou a nata do petismo para um encontro no instituto que leva o seu nome, em São Paulo. Conforme já noticiado aqui, Dilma foi espinafrada nessa reunião. O companheiro Guimarães estava lá. E não a defendeu. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), também marcou presença. Engrossou o coro de críticas.
Os interlocutores de Lula pediram-lhe que aconselhasse Dilma a alterar os rumos de pelo menos três áreas do governo: economia, articulação política e comunicação social. A presidente impacientou-se ao saber que havia sido alvejada pelas costas.
Dilma esquentou ao descobrir que o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), de quem ela não gosta, fora escolhido para coordenar o grupo de trabalho da reforma política. Escolha do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Que o presidente do PT, Rui Falcão, tentou evitar.
A presidente entrou em ebulição ao ler aspas de Vaccarezza dizendo que não dá mais para aprovar mudanças nas regras político-eleitorais em tempo de aplicá-las em 2014. Se sair, a coisa valerá para 2016 e 2018. No idioma do asfalto: adeus, plebiscito-já.
Numa tentativa de reduzir a temperatura mercurial de Dilma, o líder José Guimarães divulgou nota para informar que, em matéria de reforma política e plebiscito, Vaccarezza não representa o PT. O partido fez chegar ao Planalto, de resto, que o diretório também aprovaria uma nota anti-Vaccarezza. E nada.
Ainda que Dilma dê meia-volta, comparecendo ao diretório, ficou claro que mantém com o PT um casamento muito esquisito. O partido se casou com a esquentadinha da Casa Civil, que nem conhecia direito, só porque papai Lula mandou. Na primeira crise, o matrimônio desandou. E não há Lula que dê jeito.
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