A bordo do Titanic, por Ruy Fabiano
Mais contundente que o vandalismo nas ruas do Leblon, Rio, esta semana, foi sem dúvida a proposta do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, cabeça coroada do PMDB, de extinção de pelo menos quatorze ministérios.
Não que a proposta não seja boa: é, e é também urgente. Ninguém governa 39 ministérios. A contundência, pois, está não na proposta, mas em quem a fez: um representante do partido que historicamente empresta (o termo melhor seria aluga) seu apoio em troca exatamente de ministérios.
Soou, por isso mesmo, mais como um aviso de que seu partido está tirando o time de campo que propriamente um desabafo de ordem moral ou gerencial.
Não por acaso, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, surpresa com a declaração, pediu um tempo para situar-se. Não se sabe se já conseguiu. É improvável.
De cara, disse o óbvio: que não vê a possibilidade de o pedido ser atendido "Eu não consigo vislumbrar nenhuma modificação na estrutura de governo feita pela presidente Dilma", disse, perplexa. De fato, a proposta quebra todos os códigos e logística com que trabalha.
“Relações Institucionais”, como se sabe, é o solene apelido dado à prosaica função de distribuir cargos e verbas e cobrar votos no Legislativo. O PMDB de Henrique Alves é um dos clientes mais bem atendidos, embora sempre insatisfeito. Merece, por isso mesmo, cuidados e carinhos cotidianos da ministra.
Dada a dimensão numérica de suas bancadas, na Câmara e no Senado, acha sempre pouco o que lhe oferecem. E isso, justiça se faça, não começou agora. Depois de duas décadas de governo militar, em que foi a sigla da oposição, o PMDB (ex-MDB) parece ter-se cansado do papel.
Desde então – governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma -, tem sido sempre governista, insaciável caçador de cargos. Quando se divide, é sempre com a perspectiva de obter mais poder, mais cargos, mais verbas, mais ministérios.
Ruy Fabiano é jornalista.
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