sábado, 16 de outubro de 2010

Celso Arnaldo: ‘A Dilma do debate é Weslian Roriz depois do treinamento intensivo com os capitães Nascimento do PT’

por Augusto Nunes, Colunista da Veja

Atendendo ao clamor dos comentaritas, Celso Arnaldo está de volta ─ e em grande estilo. O texto do grande caçador de cretinices captura alguns dos piores momentos de Dilma Rousseff. E garante aos amigos da coluna um grande fim de feriadão. Confira:

A Dilma Rousseff do debate da Band é Weslian Roriz depois de treinamento intensivo pelos capitães Nascimento do BOPE (Batalhão de Operações Políticas Especiais) do PT.

Dilma entrou na arena com a sanha de um recruta que, após um período de privação extrema e humilhação cênica, se torna capaz de morder uma galinha na jugular para saciar a sede com seu sangue ainda quente. Tudo ensaiado, é claro – e muito mal ensaiado. Serra errou ao considerar essa Dilma como a Dilma de verdade.

A Dilma de verdade, longe das palavras de ordem dos capitães marqueteiros, a Dilma que governaria o Brasil como o maior embuste da história, é a que aparece em três momentos deste início da campanha do segundo turno – interposta pessoa de Lula, como Weslian Roriz o é de Joaquim, com a mesma má-fé da indicação e a mesma agônica falta de formação e informação da criatura ungida.

Uma candidata na contramão de um mundo que busca a sustentabilidade como o Santo Graal dos tempos modernos: ela é absolutamente insustentável.

O segundo turno de Dilma Roriz ou Weslian Rousseff começou por onde deveria terminar – a Baixada. Território livre de Cabral Filho e “Lindinberg” Faria. Na primeira entrevista, ela reforçou seu principal compromisso como presidente:

“Nós colocamos como prioridade uma questão que é muito importante, que é a vida concreta das pessoas”.
Weslian Rousseff é fã das prioridades importantes, mas nesta ela caprichou: a concretude da vida. O cimento social. Numa segunda etapa, talvez no PAC 3, a vida abstrata.

Os irmãos Campos, criadores do movimento concretista no Brasil, seriam seus ministros siameses da Economia – se ela já tivesse ouvido falar nos irmãos Campos. E se Haroldo, que apoiou Lula em 1994 com o poema “Por um Brasil Cidadão”, já não estivesse bem distante da “vida concreta” deste mundo.

No dia seguinte, Weslian Rousseff veio visitar a Bienal de São Paulo – dizem que a primeira coisa que disse ao curador Agnaldo Farias é que estranhou não ter havido Bienal no ano passado, mas isso não está confirmado.

O fato é que ela, patronesse das artes, veio à mostra sobretudo para incrementar sua pinacoteca digital — os assessores não se cansaram de fotografar obras e instalações com seus celulares. Mas Bienal é cultura. E cultura, seu nome é Dilma Rousseff. Em fase de valorização da vida, está prenhe de propostas:

“A primeira proposta é a proposta…”

Poderia parar aí. Não há tautologia mais perfeita. Todas as propostas de Weslian Rousseff, para qualquer área, são propostas – ou começam por “uma questão que é uma questão muito importante”. E, mesmo que se desgrudem da base, evoluem em círculos, como um cão tentando morder o rabo. Mais uma chance:

“…é a proposta de assegurá e dá sustentação pras bibliotecas, uma em cada município, isso é crucial pro Brasil”

Weslian Rousseff é assim – sem rodeios, sem firulas, sem cálculos complicados: uma biblioteca por município, seja São Paulo ou Borá, com 795 habitantes. Mas, espere — não é uma biblioteca qualquer:

“E aí, numa visão de biblioteca, não a biblioteca clássica, né, que ela fica parada e as pessoas vão atrás dela, mas uma biblioteca que leve e desperte o interesse pela leitura e pelo acesso aos livros e as outras formas culturais”

Por aí se vê o poder dos livros: mesmo as bibliotecas clássicas, que teoricamente ficam paradas, são tão dinâmicas que as pessoas são obrigadas a ir atrás delas.

As bibliotecas de Dilma são muito melhores: vão fazer por ela mesma o que nenhuma outra biblioteca até hoje conseguiu – despertar seu interesse pela leitura.

Da cultura à saúde, Weslian Rousseff está se apetrechando para fazer um governo inesquecível.

Depois da Bienal, foi visitar a maternidade Amparo Maternal, em São Paulo, onde se surpreendeu com a natureza do trabalho: ali, gestantes dão à luz, inclusive adolescentes.

Além de ser um subsídio importante para a sua Rede Cegonha, essa visita naturalmente neutraliza a sórdida campanha dos que acusam Dilma Rousseff, não a atual candidata, mas sua homônima, a ministra da Casa Civil, em entrevista à Folha em 2007, de defender o aborto.

“É o grande trabalho de afirmação da vida. Porque eles recebem de todas as idades, eu vi aqui inclusive uma menina de 13 anos, algumas de 14, outras de 15, outras mais velhas, que estão em gestação e que precisam de apoio.

Prá podê o quê? Pra podê enfrentá esse processo, que é um processo complicado, a gravidez, e uma situação, né, de…em alguns casos, eu diria, de solidão, outros porque a família não aceita e aí a moça é obrigada a escondê, ou a menina é obrigada a escondê o parto, o parto não, a gestação, a própria gravidez”.

Aos 62 anos, Weslian Rousseff descobriu a gravidez na adolescência – e está impressionada.

Não tem muita noção do que poderá vir a fazer como presidente para minorar esse drama, mas já está tentando aprender a diferença entre parto e gestação, gestação e gravidez… Epa! gestação e gravidez são a mesma coisa – daí não ser necessário à menina esconder a gestação e a própria gravidez.

Um caso, particularmente, a impressionou:

“Em outros casos você tem por exemplo pessoas que foram tiradas da rua, tão grávidas, uma moça tirada da rua, que veio pra cá pra podê tê condições de não tê a criança em situação, inclusive ela não se alimenta. Ela é de uma magreza assim muito grande”

Emocionada, Weslian Rousseff homenageia o deputado federal mais votado de sua coligação, Sua Excelência Tiririca – relatando o caso da gestante magrinha como se Tiririca o tivesse contado.

Ela se entusiasma:

“Então há um trabalho aqui que eu acho que é um trabalho a favor de fato da gestação, da vida.

E tem uma preparação que eu achei muito importante, que eles fazens (sic), né, as irmãs, as chamadas dolas (sic), que são voluntárias, que não é só em termos de assistência médica, mas é sobretudo de assistência e de reforço psicológico e de sustentação dessas meninas, pra elas poderem sabê que é algo importante da vida, que é algo importante que elas vão tê de tê clareza que elas têm como, é, garantia que essas crianças sejam cuidadas, sejam tratadas”.

Dilma gostou das “dolas” – talvez gostasse mais das doulas, acompanhantes de parto que fazem um trabalho admirável, sobretudo quando em caráter voluntário, como no Amparo Maternal. Agora, gerar uma criança na barriga e ainda “tê de tê clareza” sobre o que está acontecendo é uma carga muito pesada para uma adolescente grávida.

Refaço a afirmação inicial: Dilma Rousseff é Dilma Rousseff, a insustentável. Nada se compara a ela – nem Weslian Roriz em estado bruto.

Nenhum comentário: