Dilma (quase) não mente
por Klauber Cristofen Pires
por Klauber Cristofen Pires
No Jornal Nacional que foi ao ar no dia 05/10/2010, pude acompanhar as declarações da candidata Dilma Roussef.
Ainda que com o que hei de afirmar adiante possam restar alguns leitores indignados, incrédulos ou atônitos, venho oferecer o meu testemunho de que suas declarações são fidedignas e correspondem à verdade...
Não se trata de um engano. Vamos à análise? A íntegra de sua fala, para conforto, a extraí já pronta do site do jornalista Reinaldo Azevedo:
“Sou de uma família católica. Eu sou, SEMPRE FUI, a favor da vida, senão eu não tinha (sic), inclusive, colocado a minha vida em risco em determinado momento.
Porque só quem é a favor da vida tem condições e a generosidade suficiente para saber que a gente deve, em todas as circunstâncias, afirmar a vida”.
De fato e inegavelmente, a escolhida de Lula tem como origem uma família católica. Quem há de contestar esta máxima verdade?
Será que Dilma, entretanto, é contra o aborto? Ora, ela nunca disse ser favorável ao aborto, pelo menos não que eu me lembre.
Pelo contrário, em diversas vezes tenho flagrado a candidata biônica ter afirmado peremptoriamente que nenhuma mulher deveria abortar e que isto é terrível.
Destarte, em outras colocações a que já assisti pela tv, também ouvi de sua própria boca que o seu projeto "é de vida". Não poderia ser de outra forma: os vivos governam somente para os vivos, não para os mortos. Ponto para Estela.
Será que, enfim, com um pouco de esforço poderíamos acatar o seu pronunciamento de que se não fosse a favor da vida, não teria colocado a sua própria em risco, em determinado momento, e nem ao menos teria "condições e generosidade suficientes" para afirmá-la?
Bom, com um tanto de catchup, acho que dá sim pra engolir. Quem não colocou a sua vida em risco em algum momento?
Eu também sou a favor da vida e já coloquei a minha própria em risco, por navegado em alto mar, em travessias por mares infestados de piratas, como é o estreito de Málaca, ou tormentosos, como o cabo Horn, e ainda ou pr isto mesmo creio que eu tenha condições e generosidade suficientes para afirmar a vida.
Claro, estamos a nos divertir aqui com a chamada linguagem muçum*, a especialidade número 1 dos políticos. Com ela, qualquer um diz ou oculta o que quer sem necessariamente ter de proferir uma escancarada mentira. Quem não se lembra, por exemplo, das respostas de Lula às suas pretensões de disputar um terceiro mandato? " - Com a democracia não se brinca..." frase cujo complemento oculto poderíamos vislumbrar da seguinte forma: "- há de se destruí-la, antes que me destrua..."
Com efeito, Dilma pode à vontade ser contra o aborto, a favor da vida, ter condições e ser generosa o suficiente para afirmar a vida, sem que nada disso a impeça de sancionar a lei do aborto escorando-se em outras premissas sobre as quais se omite hoje, tais quais o argumento de que se trata de uma questão de saúde pública, ou de que se trata de uma demanda originada no seio da sociedade organizada ou ainda, de que a sua opinião pessoal não pode prevalecer sobre as suas responsabilidades como mandatária da nação.
Deixem-se cair no auto-engano os eleitores mais idiotizados, os eremildos do Sr Gaspari e os leitores e telespectadores da mídia cachorrinha, mas o voto nesta cujo visual novo criado pelas equipes de marketing distoa um tanto do seu andar e trejeitos de orangotango com o seu falar de um misturador de vozes não significa outra coisa que não a concretização da legalização do aborto. Vamos apostar?
*Muçum é um peixe brasileiro famoso por ter a sua pele revestida de uma substância bastante escorregadia.
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