Por Emanuel Medeiros Vieira ⋅ 27 de dezembro de 2009
“Sobre a Brevidade da Vida”, de Sêneca (1aC-65dC): era a respeito desse (precioso) livro que iria escrever.
Relia-o aqui no Planalto Central: pretendia meditar sobre as lições do estoicismo, pensar sobre a nossa finitude, refletir sobre a necessidade da filosofia no cotidiano, não como algo abstrato, mas como lição de vida e necessário aprendizado existencial.
Sempre internalizando a percepção de que o homem é um ser para morte, mas que nesse breve trânsito pode construir uma obra, porque sendo o único animal que sabe que vai morrer, deixará algo que ultrapassará a poeira do tempo.
O ato da criação é aquele através do qual o homem arranca algo à morte, “transformando em consciência uma experiência” (personagem Garcia, em “A Esperança”, de André Malraux).
Lenin
Mas a percepção do nosso cotidiano falou mais forte: um horror feito de pasmo e resignação.
Lembrei-me de uma expressão: “Bolchevismo sem utopia”.
Quer dizer, os vitoriosos líderes da Revolução Russa tinham uma utopia.
No Brasil: a noção subleninista do aparelhamento do Estado (lógico, muitos não se deram conta, pois tiveram má formação intelectual, leram pouco) está grudada no governo Lula e tomou conta do PT.
Eu sei, hoje o partido é apenas uma sublegenda ou apêndice subalterno do presidente.
No chamado pragmatismo dos dirigentes do PT, percebe-se essa fome insaciável por cargos e desejo compulsivo do aparelhamento total.
E uma visão paranóica: todos os que criticam são de “direita” ou fazem o seu jogo.
Alguns sim. Nem todos.
E calam-se vozes – através do dinheiro e de cargos públicos – que já foram da esperança e da inquietude (CUT, UNE, MST), através da pecúnia, de cargos, de prebendas e de Ongs manipuladas e cheias de verbas.
Não adianta afirmar que nossa crítica é humanista: a paranóia facilitaria diz que é “conspiração tucana”, do PSDB, esquecendo-se até do passado honrado e de resistência dos seus críticos.
E carecem de visão internacionalista, ficam com uma percepção meramente paroquial. Falta uma visão de mundo, falta a noção de que o planeta precisa ser preservado.
Enfim, carecem de humanismo, de uma noção da “vida plena”, não calcada no consumismo ou em cargos.
O que vemos?
Uma política de terra arrasada, a ausência completa de princípios éticos, a devastadora “pedagogia” que é passada às novas gerações (“se eles roubam, também vou ser corrupto”).
Não agüento mais a lembrança dos governos passados do PSDB.
Insisto à redundância: a velhacaria dos outros não pode ser a medida dos nossos valores.
* * *
Em 64 anos de vida, poucas vezes vi um quadro tão carente de perspectivas (sim, pelo menos não nos prendem, torturam ou nos mandam para o exílio….)
O PSOL é apenas um grupelho, muitas vezes delirante, e contaminado por infantilismo ideológico.
A aliança PSDB-DEM não é sinal de dias melhores.
Não alegra o coração saber que a candidata Marina Silva é da Assembléia de Deus.
(As escolas vão adotar o criacionismo, negar Darwin, e as mulheres não poderão mais se pintar ou cortar o cabelo?)
E, então? Não sei. Realmente não sei.
Mas lembro-me de Eduardo Galeano: “Ela está no horizonte… Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Por mais que caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia?
Serve para isso. Serve para caminhar.”
* * *
Do Blog de Olho na Capital de César Valente
domingo, 28 de março de 2010
Bolchevismo sem utopia
Postado por Atílio às 10:27 PM
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário