Autor: Léo Lince
Publicado:
Data: 30/10/2008
O capitalismo global entrou em crise profunda e duradoura. Ninguém contesta. Até os próprios capitalistas e os intelectuais a seu serviço são obrigados a se dobrar diante da contundência dos fatos. O que era tema restrito ao debate da esquerda, agora virou assunto da pauta geral. Assim como o muro de Berlim desabou sobre o “socialismo real”, agora chegou a vez do “capitalismo real” enfrentar as “duras réplicas da história”.
Não se trata, por suposto, de um problema localizado, circunscrito ao escaninho financeiro e passível de ser resolvido pela mera edição de novas regras de controle. O buraco é mais embaixo. E a gangorra vertiginosa das bolsas é apenas a feição mais visível do descontrole geral. O capitalismo puro e duro da investida neoliberal se firmou como expressão da supremacia absoluta do capital financeiro. No cerne do sistema, a roleta do cassino, apesar e por causa de gangorra vertiginosa, cumpre função essencial na reprodução do “capitalismo real”.
A crise está em curso e não se sabe o tamanho, a duração e a profundidade do seu processo. No entanto, além dos papagaios financeiros, muita coisa já rolou por água abaixo. Uma delas é o mito ultraliberal de que o capital é capaz de se auto-regular. Balela. Fora do controle social, o poder privado funciona com a lógica das máfias e a “exuberância irracional” da especulação libera o ímpeto destrutivo que sempre habitou a natureza cíclica do capitalismo.
A idéia de que a economia brasileira estaria “descolada” da crise é outro mito que desabou em poucos dias. No começo, ao falar em “marolinha”, o governo tentou dourar a pílula. Um emplasto ingênuo para encobrir o tamanho da rebordosa. Tanto assim, que o Ministro da Fazenda já foi obrigado a trocar de discurso. Em novo diagnóstico, afirmou: “essa é uma crise de longa duração, de uma magnitude inédita que a nossa geração nunca viu e terá um impacto forte na economia real do mundo todo”. Perfeito. Faltou agregar que a política econômica praticada pelo governo, de inserção subalterna aos esquemas da globalização financeira, coloca nosso país entre os mais vulneráveis na linha de tiro.
A receita para a saída da crise, tanto lá fora como aqui, começa a ser aviada na linha de sempre. Os magnatas financeiros, que na prosperidade se serviram do aparato do estado para privatizar lucros, agora se valerão dele para socializar prejuízos. Basta ver a quantia bestial de dinheiro que os bancos centrais do mundo inteiro, inclusive o nosso, já entregaram aos donos do poder. Carne aos leões. Esse é o sentido das “estatizações” em curso. Com o derretimento do capital fictício, resta o erário público como pau que sustenta a lona do circo.
A crise abre uma conjuntura política inteiramente nova. A dinâmica dos conflitos sociais e o “pensamento único” que avassalou a política nesta virada de século sofrerão os abalos da nova situação. Keynes e Marx, redivivos no baile das idéias, já voltaram à cena. Tanto lá fora como aqui, será um período de rearranjo na correlação de forças. O mercado - que já existia antes do capitalismo e, certamente, sobreviverá a ele - está soterrado por um Himalaia de papéis podres, derivativos tóxicos e alavancas derretidas. Fera acuada, o capitalismo lança mão das garras de aço do Leviatã e ataca como um perigoso tigre de papéis.
Léo Lince é sociólogo.
Publicado:
Data: 30/10/2008
O capitalismo global entrou em crise profunda e duradoura. Ninguém contesta. Até os próprios capitalistas e os intelectuais a seu serviço são obrigados a se dobrar diante da contundência dos fatos. O que era tema restrito ao debate da esquerda, agora virou assunto da pauta geral. Assim como o muro de Berlim desabou sobre o “socialismo real”, agora chegou a vez do “capitalismo real” enfrentar as “duras réplicas da história”.
Não se trata, por suposto, de um problema localizado, circunscrito ao escaninho financeiro e passível de ser resolvido pela mera edição de novas regras de controle. O buraco é mais embaixo. E a gangorra vertiginosa das bolsas é apenas a feição mais visível do descontrole geral. O capitalismo puro e duro da investida neoliberal se firmou como expressão da supremacia absoluta do capital financeiro. No cerne do sistema, a roleta do cassino, apesar e por causa de gangorra vertiginosa, cumpre função essencial na reprodução do “capitalismo real”.
A crise está em curso e não se sabe o tamanho, a duração e a profundidade do seu processo. No entanto, além dos papagaios financeiros, muita coisa já rolou por água abaixo. Uma delas é o mito ultraliberal de que o capital é capaz de se auto-regular. Balela. Fora do controle social, o poder privado funciona com a lógica das máfias e a “exuberância irracional” da especulação libera o ímpeto destrutivo que sempre habitou a natureza cíclica do capitalismo.
A idéia de que a economia brasileira estaria “descolada” da crise é outro mito que desabou em poucos dias. No começo, ao falar em “marolinha”, o governo tentou dourar a pílula. Um emplasto ingênuo para encobrir o tamanho da rebordosa. Tanto assim, que o Ministro da Fazenda já foi obrigado a trocar de discurso. Em novo diagnóstico, afirmou: “essa é uma crise de longa duração, de uma magnitude inédita que a nossa geração nunca viu e terá um impacto forte na economia real do mundo todo”. Perfeito. Faltou agregar que a política econômica praticada pelo governo, de inserção subalterna aos esquemas da globalização financeira, coloca nosso país entre os mais vulneráveis na linha de tiro.
A receita para a saída da crise, tanto lá fora como aqui, começa a ser aviada na linha de sempre. Os magnatas financeiros, que na prosperidade se serviram do aparato do estado para privatizar lucros, agora se valerão dele para socializar prejuízos. Basta ver a quantia bestial de dinheiro que os bancos centrais do mundo inteiro, inclusive o nosso, já entregaram aos donos do poder. Carne aos leões. Esse é o sentido das “estatizações” em curso. Com o derretimento do capital fictício, resta o erário público como pau que sustenta a lona do circo.
A crise abre uma conjuntura política inteiramente nova. A dinâmica dos conflitos sociais e o “pensamento único” que avassalou a política nesta virada de século sofrerão os abalos da nova situação. Keynes e Marx, redivivos no baile das idéias, já voltaram à cena. Tanto lá fora como aqui, será um período de rearranjo na correlação de forças. O mercado - que já existia antes do capitalismo e, certamente, sobreviverá a ele - está soterrado por um Himalaia de papéis podres, derivativos tóxicos e alavancas derretidas. Fera acuada, o capitalismo lança mão das garras de aço do Leviatã e ataca como um perigoso tigre de papéis.
Léo Lince é sociólogo.
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