"O embaixador dos EUA lidera a conspiração contra meu governo”
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Presidente da Bolívia acusa embaixador dos Estados Unidos no país de conspirar contra o governo e de tentar repetir no país "o que fizeram no Kosovo". Evo Morales revela que camponeses e indígenas já pediram armas para defender o governo, mas defende revolução pelas urnas e não pelas armas.
Pablo Stefanoni - La Paz*
Às sete da manhã, o Palácio Quemado já está um formigueiro e os ministros devem ter paciência para conversar com o chefe de Estado. “É assim mesmo”, diz um embaixador com experiência na dinâmica “evista” a um ministro novato no gabinete que se impacienta com a demora de Evo Morales em chegar a uma reunião com exportadores.Em um intervalo de alguns minutos, o líder cocalero conversou com Il
Presidente da Bolívia acusa embaixador dos Estados Unidos no país de conspirar contra o governo e de tentar repetir no país "o que fizeram no Kosovo". Evo Morales revela que camponeses e indígenas já pediram armas para defender o governo, mas defende revolução pelas urnas e não pelas armas.
Pablo Stefanoni - La Paz*
Às sete da manhã, o Palácio Quemado já está um formigueiro e os ministros devem ter paciência para conversar com o chefe de Estado. “É assim mesmo”, diz um embaixador com experiência na dinâmica “evista” a um ministro novato no gabinete que se impacienta com a demora de Evo Morales em chegar a uma reunião com exportadores.Em um intervalo de alguns minutos, o líder cocalero conversou com Il
Manifesto sobre temas da atualidade nacional e internacional. Enquanto tomava um suco de mamão, acusou o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, de conspirar contra seu governo e de tentar repetir na Bolívia “o que fizeram no Kosovo”. Admite que camponeses e indígenas pediram armas para defender o governo diante das demandas autonomistas de Santa Cruz. E assinala que, se o diálogo não avançar, a saída será convocar um referendo revogatório para o presidente e os governadores, “para que o povo diga a quem apóia”.Il
Manifesto: Como é possível retomar o diálogo com os governadores opositores?
Evo Morales: Nós apostamos na autonomia. No referendo de 2006, a maioria dos bolivianos disse “Não”, mas em quatro regiões ganhou o “Sim”. Por isso garantimos autonomias na nova Constituição e sinto que é necessário criar um espaço no Poder Executivo, um ministério de Autonomias que comece a construir com os movimentos sociais uma autonomia baseada na legalidade e na solidariedade entre regiões. Mas alguns grupos confundem autonomia com separação ou independência.Il Manifesto: Santa Cruz segue avançando direção de seu referendo autonomista de 4 de maio... Evo Morales: Gostaríamos que parassem para que pudéssemos avançar juntos.Il
Manifesto: Se o diálogo fracassar segue valendo a proposta do referendo revogatório?
Evo Morales: Exato. Por isso dissemos que apostamos nas urnas e não nas armas.I
l Manifesto: Mas admitiu também que alguns setores campesinos pediram armas para defender o governo. Como é isso?
Evo Morales: Recebi algumas ligações telefônicas e sou transparente. Comentei com a imprensa que tergiversou sobre minhas declarações. Preocupou-me bastante receber chamadas de companheiros do campo e da cidade que me disseram textualmente: “Irmão presidente, quando era dirigente sindical você se fez respeitar, agora nós faremos respeitar, nos dê armas”. Eram fortes as chamadas. Em um certo momento tive que desativar meu celular, que atendo só de madrugada.Il
Manifesto: E qual foi sua resposta a esses pedidos?
Evo Morales: Por certo não estamos de acordo com isso. Disse que é preciso fazer uma revolução nas urnas e não com armas, e estamos cumprindo isso. Mas as agressões e humilhações causam estas reações em nossos companheiros. Inclusive houve uma marcha a La Paz pedindo-me armas. Tudo isso é provocado por uma direita racista que já me chamou de macaco. E se tratam o presidente como um animal, o que podem esperar os camponeses e indígenas?Il
Manifesto: O sr. se referiu ao Kosovo. Crê que pode ocorrer o mesmo na Bolívia?
Evo Morales: Quero que o mundo inteiro saiba é que há uma conspiração contra minha pessoa encabeçada pelo embaixador dos Estados Unidos (Philip Goldberg). Perguntemo-nos de onde veio o embaixador estadunidense (que atuou no Kosovo). Não vamos permitir que os Estados Unidos sigam conspirando para dividir a Bolívia com grupos oligárquicos e mafiosos. Se os EUA lutam contra a corrupção e a injustiça por que não extraditam o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada? (acusado por quase uma centena de mortes, produto da repressão na “guerra do gás” de 2003). Quando os povos se levantam, estas autoridades pró-império e pró-capitalistas correm para onde isso ocorre. Quando já não podem dominar, porque há democracias libertadoras e não comprometidas, os EUA fomentam a divisão.Il
Manifesto: Considera encerrado, com as desculpas do embaixador, o caso da utilização de bolsistas como informantes?
Evo Morales: O senhor Vincent Cooper (funcionário da segurança da embaixada dos EUA) é persona non grata para a Bolívia e o assunto está sendo investigado. Hoje sabemos que utilizam seus estudantes, que vêm com vontade de aprender, para fazer espionagem. Descobrimos até que a polícia boliviana fazia espionagem e perseguições para a embaixada-norte-americana.Il
Manifesto: Acredita que uma vitória democrata nos EUA poderia melhorar as relações?
Evo Morales: Entendo que há políticas de Estado nos EUA, mas gostaríamos que começassem a respeitar os direitos humanos e os processos de libertação e as transformações profundas que estão ocorrendo na América Latina. Para isso, devem pôr fim à prática da espionagem, da tentativa de submissão e da soberba. O ex-embaixador Manuel Rocha chamava-me de Bin Laden.Il
Manifesto: Como viu a saída de Fidel Castro do poder?
Evo Morales: Como o Che, Fidel é um símbolo imbatível para toda a humanidade. É um homem histórico. Em minhas conversas de horas e horas com Fidel ele sempre me falava da vida, da saúde e da educação Hoje isso se materializou na Bolívia com a Operação Milagre, com mais de 100 mil pessoas operadas dos olhos gratuitamente. Ficará um grande vazio.
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* Entrevista publicada originalmente em Il Manifesto, ItáliaTradução: Marco Aurélio Weissheimer
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