Escrito por Pe. Alfredo J. Gonçalves
07-Fev-2008
Impressiona a cegueira ou miopia dos grandes Meios de Comunicação Social brasileiros. Desde algum tempo, como sabemos, vêem dando ampla cobertura ao processo eleitoral dos Estados Unidos. Os candidatos à presidência desse país, tanto do partido democrata quanto republicano, têm desfilado com uma freqüência inusitada, seja nas páginas dos principais periódicos, seja nos rádio e telejornais diários.
Em contrapartida, o que sabemos, ou melhor, o que sabe o povo brasileiro sobre o processo eleitoral do vizinho Paraguai? Quem são os candidatos à presidência e quais as novidades do atual processo? Ora, enquanto as eleições estadunidenses representam um cenário mais ou menos familiar, sem grandes rupturas com o passado, no país vizinho, ao contrário, verifica-se um fato novo que, por si só, mereceria maior atenção da mídia e dos cientistas políticos em geral.
O fato novo chama-se Fernando Lugo, um dos atuais candidatos à presidência da República Paraguaia. Trata-se de um ex-bispo, historicamente vinculado às lutas camponesas, e que, segundo as pesquisas, vinha ameaçando a hegemonia política do partido colorado, há mais de seis décadas no poder. Da mesma forma que Lula e Evo Morales, Lugo tem suas raízes mergulhadas nos movimentos e nas causas populares.
Ao lado de Fernando Lugo, outros candidatos disputam a presidência: Lino Oviedo, autor de um golpe de Estado fracassado, ex-exilado político no Brasil e recente prisioneiro político no Paraguai; Blanca Avelar, pelo partido colorado, abertamente apoiada pelo atual presidente, Nicanor Duarte Frutos; e Pedro Fadul, por um partido de oposição.
Convém lembrar que Oviedo teve sua prisão suspensa pelo Poder Judiciário com a clara intenção de comprometer a preferência do eleitorado por Fernando Lugo. E convém não esquecer, ademais, que o presidente Lula e seu governo, embora com uma trajetória política semelhante à de Lugo, parecem pender mais para Lino Oviedo, que na verdade representa a continuidade da política paraguaia, onde, notória e escandalosamente, a corrupção está na ordem do dia.
Tudo isso vem sendo ignorado ou conscientemente encoberto pela grande imprensa brasileira. Com maior estranheza, ainda, se consideramos que as eleições no Paraguai estão às portas, marcadas para o mês de abril, ao passo que nos Estados Unidos ocorrerão somente no final do ano. No ar fica a pergunta: quais as razões desse silêncio? O certo é que, como em épocas passadas, o Brasil mais uma vez vira as costas para a história de seus vizinhos hispano-americanos e se rasga em notícias diante dos acontecimentos da Europa e Estados Unidos.
No caso das eleições paraguaias, há um agravante. É sabido que Fernando Lugo, por estar fortemente ligado às causas populares, promete rever, entre outras coisas, o contrato binacional da hidrelétrica Itaipu. O contrato foi firmado no tempo dos militares e apresenta cláusulas lesivas aos interesses do povo vizinho.
Talvez uma forma de reverter esse quadro de desconhecimento quanto ao que ocorre do outro lado da fronteira fosse incorporar na agenda dos debates nacionais a revisão do tal contrato entre os governos brasileiro e paraguaio. Não será essa uma dívida que “seguimos teniendo con nuestros hermanos paraguayos”?
Pe. Alfredo J. Gonçalves
07-Fev-2008
Impressiona a cegueira ou miopia dos grandes Meios de Comunicação Social brasileiros. Desde algum tempo, como sabemos, vêem dando ampla cobertura ao processo eleitoral dos Estados Unidos. Os candidatos à presidência desse país, tanto do partido democrata quanto republicano, têm desfilado com uma freqüência inusitada, seja nas páginas dos principais periódicos, seja nos rádio e telejornais diários.
Em contrapartida, o que sabemos, ou melhor, o que sabe o povo brasileiro sobre o processo eleitoral do vizinho Paraguai? Quem são os candidatos à presidência e quais as novidades do atual processo? Ora, enquanto as eleições estadunidenses representam um cenário mais ou menos familiar, sem grandes rupturas com o passado, no país vizinho, ao contrário, verifica-se um fato novo que, por si só, mereceria maior atenção da mídia e dos cientistas políticos em geral.
O fato novo chama-se Fernando Lugo, um dos atuais candidatos à presidência da República Paraguaia. Trata-se de um ex-bispo, historicamente vinculado às lutas camponesas, e que, segundo as pesquisas, vinha ameaçando a hegemonia política do partido colorado, há mais de seis décadas no poder. Da mesma forma que Lula e Evo Morales, Lugo tem suas raízes mergulhadas nos movimentos e nas causas populares.
Ao lado de Fernando Lugo, outros candidatos disputam a presidência: Lino Oviedo, autor de um golpe de Estado fracassado, ex-exilado político no Brasil e recente prisioneiro político no Paraguai; Blanca Avelar, pelo partido colorado, abertamente apoiada pelo atual presidente, Nicanor Duarte Frutos; e Pedro Fadul, por um partido de oposição.
Convém lembrar que Oviedo teve sua prisão suspensa pelo Poder Judiciário com a clara intenção de comprometer a preferência do eleitorado por Fernando Lugo. E convém não esquecer, ademais, que o presidente Lula e seu governo, embora com uma trajetória política semelhante à de Lugo, parecem pender mais para Lino Oviedo, que na verdade representa a continuidade da política paraguaia, onde, notória e escandalosamente, a corrupção está na ordem do dia.
Tudo isso vem sendo ignorado ou conscientemente encoberto pela grande imprensa brasileira. Com maior estranheza, ainda, se consideramos que as eleições no Paraguai estão às portas, marcadas para o mês de abril, ao passo que nos Estados Unidos ocorrerão somente no final do ano. No ar fica a pergunta: quais as razões desse silêncio? O certo é que, como em épocas passadas, o Brasil mais uma vez vira as costas para a história de seus vizinhos hispano-americanos e se rasga em notícias diante dos acontecimentos da Europa e Estados Unidos.
No caso das eleições paraguaias, há um agravante. É sabido que Fernando Lugo, por estar fortemente ligado às causas populares, promete rever, entre outras coisas, o contrato binacional da hidrelétrica Itaipu. O contrato foi firmado no tempo dos militares e apresenta cláusulas lesivas aos interesses do povo vizinho.
Talvez uma forma de reverter esse quadro de desconhecimento quanto ao que ocorre do outro lado da fronteira fosse incorporar na agenda dos debates nacionais a revisão do tal contrato entre os governos brasileiro e paraguaio. Não será essa uma dívida que “seguimos teniendo con nuestros hermanos paraguayos”?
Pe. Alfredo J. Gonçalves
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