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Santiago Llanquim/APO destino foi generoso com Augusto Pinochet. Proporcionou-lhe, aos 91, uma morte suave. De quebra, facultou ao velho ditador provar que guardava nos fundões de seu organismo um órgão que, imaginavam todos, ele não possuía: o coração. Por uma dessas ironias da existência, Pinochet desceu à cova nas pegadas de um infarto do miocárdio. Partiu antes da conclusão dos processos judiciais que lhe pesavam sobre os ombros. Uma pena.
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Num instante em que ainda soam nas profundezas do inferno as trombetas reservadas à recepção dos grandes titãs do mal, convém lembrar que o Brasil não esteve imune aos tentáculos da ditadura chilena, de triste memória. Comece-se por evocar uma descoberta do cinéfilo Amir Labaki.
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Organizador do 9º Festival Internacional de Documentários, ocorrido em 2004, Labaki desencavou dois preciosos minutos de um filme da jornalista francesa Marie-Minique Morin. Chama-se “Esquadrões da Morte-Escola Francesa”. O trecho pescado pela perspicácia de Labaki traz um depoimento do general chileno Manuel Contreras, chefe da engrenagem de moer “subversivos” montada sob Pinochet –a temível DINA.
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No depoimento a Morin, Contreras revelou que mandava ao Brasil, em periodicidade bimestral, oficiais da repressão chilena. Para quê? Vinham à busca de treinamento. Passavam pela ESNI (Escola Nacional de Informações), em Brasília. E, antes de retornar a Santiago, faziam escala em Manaus. Ali, bebiam dos ensinamentos de um centro de treinamento militar.
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Contreras disse mais: entre os “professores” do curso brasileiro estava o general francês Paul Aussaresses. Vem a ser um veterano da batalha de Dien Bien Phu, no Vietnã. Graduara-se em tortura impondo suplícios a argelinos. Servira como adido militar no Brasil no período de 73 a 75.
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Recomenda-se ainda a quem queira saber mais sobre as (boas) relações da ditadura brasileira com a máquina de atrocidades chilena a leitura de “A Ditadura Derrotada”, de Elio Gaspari. O Chile de Pinochet é mencionado à altura da página 352. Ali, recorda-se que a primeira viagem de Pinochet depois de derrubar Salvador Allende, em 11 de setembro de 73, foi ao Brasil. Veio para a posse de Ernesto Geisel.
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Gaspari conta também que José Serra, ex-presidente da UNE, era um dos brasileiros que engrossavam a legião de 7.000 pessoas confinadas pelos golpistas no Estádio Nacional de Santiago, o mesmo em que Garrincha ganhara a Copa de 62. Serra deve sua liberação, dois dias depois de preso, a gestões de um embaixador sueco junto ao major responsável pela triagem. Mercê da generosidade e da descoberta de uma até então desconhecida simpatia pela esquerda, o tal major, Ivan Lavanderos, seria passado nas armas mais tarde. Serra contou que, antes de deixar o famigerado estádio, notou a presença de carcereiros que se expressavam em bom português.
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Gaspari revela também uma constrangedora página da diplomacia brasileira. Escreve: “As embaixadas que recebiam perseguidos estavam lotadas. Na do Panamá, um pequeno apartamento, entraram 364 asilados. O embaixador panamenho estendeu a extraterritorialidade de sua representação à casa do economista Theotonio dos Santos, protegendo dezenas de brasileiros. No palacete da Argentina, havia 700 asilados, 120 eram brasileiros. Na do Brasil, ninguém. Chefiava-a o embaixador Antônio da Câmara Canto (...).”
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Anota ainda o livro de Gaspari: Pinochet associava Câmara Canto ao comportamento da diplomacia brasileira no dia do golpe: “Ainda estávamos disparando, quando chegou o embaixador e comunicou-nos o reconhecimento. Washington, informa o repórter, só reconheceria a ditadura chilena 13 dias depois. “No meio da tarde do dia 11, Câmara Canto festejava atendendo o telefone com a notícia: ‘Ganhamos’. Era um golpista militante.”
Num instante em que ainda soam nas profundezas do inferno as trombetas reservadas à recepção dos grandes titãs do mal, convém lembrar que o Brasil não esteve imune aos tentáculos da ditadura chilena, de triste memória. Comece-se por evocar uma descoberta do cinéfilo Amir Labaki.
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Organizador do 9º Festival Internacional de Documentários, ocorrido em 2004, Labaki desencavou dois preciosos minutos de um filme da jornalista francesa Marie-Minique Morin. Chama-se “Esquadrões da Morte-Escola Francesa”. O trecho pescado pela perspicácia de Labaki traz um depoimento do general chileno Manuel Contreras, chefe da engrenagem de moer “subversivos” montada sob Pinochet –a temível DINA.
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No depoimento a Morin, Contreras revelou que mandava ao Brasil, em periodicidade bimestral, oficiais da repressão chilena. Para quê? Vinham à busca de treinamento. Passavam pela ESNI (Escola Nacional de Informações), em Brasília. E, antes de retornar a Santiago, faziam escala em Manaus. Ali, bebiam dos ensinamentos de um centro de treinamento militar.
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Contreras disse mais: entre os “professores” do curso brasileiro estava o general francês Paul Aussaresses. Vem a ser um veterano da batalha de Dien Bien Phu, no Vietnã. Graduara-se em tortura impondo suplícios a argelinos. Servira como adido militar no Brasil no período de 73 a 75.
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Recomenda-se ainda a quem queira saber mais sobre as (boas) relações da ditadura brasileira com a máquina de atrocidades chilena a leitura de “A Ditadura Derrotada”, de Elio Gaspari. O Chile de Pinochet é mencionado à altura da página 352. Ali, recorda-se que a primeira viagem de Pinochet depois de derrubar Salvador Allende, em 11 de setembro de 73, foi ao Brasil. Veio para a posse de Ernesto Geisel.
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Gaspari conta também que José Serra, ex-presidente da UNE, era um dos brasileiros que engrossavam a legião de 7.000 pessoas confinadas pelos golpistas no Estádio Nacional de Santiago, o mesmo em que Garrincha ganhara a Copa de 62. Serra deve sua liberação, dois dias depois de preso, a gestões de um embaixador sueco junto ao major responsável pela triagem. Mercê da generosidade e da descoberta de uma até então desconhecida simpatia pela esquerda, o tal major, Ivan Lavanderos, seria passado nas armas mais tarde. Serra contou que, antes de deixar o famigerado estádio, notou a presença de carcereiros que se expressavam em bom português.
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Gaspari revela também uma constrangedora página da diplomacia brasileira. Escreve: “As embaixadas que recebiam perseguidos estavam lotadas. Na do Panamá, um pequeno apartamento, entraram 364 asilados. O embaixador panamenho estendeu a extraterritorialidade de sua representação à casa do economista Theotonio dos Santos, protegendo dezenas de brasileiros. No palacete da Argentina, havia 700 asilados, 120 eram brasileiros. Na do Brasil, ninguém. Chefiava-a o embaixador Antônio da Câmara Canto (...).”
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Anota ainda o livro de Gaspari: Pinochet associava Câmara Canto ao comportamento da diplomacia brasileira no dia do golpe: “Ainda estávamos disparando, quando chegou o embaixador e comunicou-nos o reconhecimento. Washington, informa o repórter, só reconheceria a ditadura chilena 13 dias depois. “No meio da tarde do dia 11, Câmara Canto festejava atendendo o telefone com a notícia: ‘Ganhamos’. Era um golpista militante.”
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Blog do Josias
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