sábado, 22 de dezembro de 2007

Ainda é possivel


Ainda é possivel

Fiquei pensando no dia em que vivi ao lado das pessoas que ainda sonham. Pessoas que ainda desejam e que ainda sentem terra debaixo dos pés e tem vontade de ser gente.Depois do almoço a bacia amarela foi jogada em cima da mesa, cheia de pequenos pêssegos, rosados e aveludados...A amiga próxima e distante, pergunta cheia de orgulho como se tivesse ali na bacia plástica e amarela uma obra de arte...
- Adivinhe de onde são esses pêssegos??
O sotaque da serra catarinense grave e arredondado nas vogais .. deixa a fala forte de mulher no ar pouco tempo, instantes para dar jeito de pergunta a fala verde de chimarrão ...
- E lá de casa ! Olha só, sem agrotóxico ..
Ela brinca com o som de xis e os outros ali em volta questionam se é possível, assim sem agrotóxico ... natural ...Escolho algumas frutas para mim, encantada pelo formato, pelo cheiro e pelo toque dos pêssegos, me esqueço do mundo amargo e áspero que tanta gente tenta construir, me escondo no prazer oferecido, ali entre a bacia cheia de frutas, descascando a macia pele que acoberta a carne da fruta, leve e perfumada, me deliciando demoradamente com cada pedacinho dela.
Ainda temos o direito de morder frutas, ainda temos o direito de experimentar frutas pequenas, colhidas do pé, no quintal do amigo e do vizinho, ainda temos o direito de ver o caroço das frutas, de sentir os dedos lambuzados de suco enquanto separamos a polpa da casca, ainda temos o direito de escolher entre as que pensamos mais doces e macias, rosadas e arredondadas ou as mais brancas e firmes, que sugerem um leve azedo. Temos o direito sim, de experimentar as amargas, as doces, as maduras e as verdes. De descascar sem ordem de lado para lado, ou do meio para cima a fruta que temos entre as mãos ..Nada disso, pode parecer dizer muito. E isso pode parecer não ter sentindo, mas eu ... carregando um pouquinho de saudade e esperança trouxe na mochila pequenos pêssegos, criados livres, no quintal da casa da amiga distante, frutas pequenas, colhiddas na terra negra e forte dos contestados.Ainda é possível, sentir que somos diferentes e nós amarmos por sermos diferentes.Eu cansada e com o corpo um pouco dolorido das várias horas de viagem, perdida em meus devaneios, observo pela janela do ônibus, o mágico momento em que um galho de árvore se desprende do corpo se soltando nas pedras da rodovia, e naquele pequeno e único instante de mistério em que só eu o vi, ele se joga como se fosse uma pena solta e macia de algum pássaro qualquer.Existem momentos, que por mais pesados que estejamos, é possível sermos leves...
Mona Lisa Budel
www.monalisabudel.blogspotcom
monaliza.budel@bol.com.br

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