quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Lula e os cinco candidatos do PT

Sem ter um candidato natural, o PT transformou-se numa passarela de nomes que podem disputar a indicação. Nas últimas semanas, as especulações envolveram cinco nomes: Antonio Palocci, Dilma Rousseff, Patrus Ananias, Tarso Genro e Marta Suplicy. A hipótese Palocci foi revelada pelo Correio Braziliense a partir de alguns indícios. Tem amplo diálogo com Lula, é consultado pelo governo e revelou-se um dos deputados mais importantes do Congresso. Operou bem na Câmara e agora, com o debate sobre o imposto deslocado para o Senado, ajuda o governo no diálogo com os dois principais governadores tucanos.
Dilma é a sombra de Lula, segundo ele próprio. Neo-petista que veio do PDT gaúcho, a mineira Dilma é a gerente do governo. Toca o PAC e filtra as nomeações para a máquina governamental. Nos tempos do ministério das Minas e Energia se impunha pela maneira direta e dura de dirigir-se a todos. Muitas vezes, resvalando no autoritarismo. Hoje, após cultivar a fama de “durona”, amaciou o estilo para ampliar sua influência. É respeitado pelo empresariado e busca aumentar sua influência no PT.
Tarso Genro é outro nome. Muito atuante no partido, do qual foi presidente, é uma espécie de “coringa”: foi secretário de Relações Institucionais, ministro da Educação, presidente do PT e agora está na Justiça. Tem como opção, assim como Dilma, disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2010.
Palocci enfrentará obstáculo, como os episódios que o levaram a deixar o ministério da Fazenda. Hoje, atuando nos bastidores, está fora do alcance e do interesse da imprensa. Caso tenha novo destaque, pode ser atacado de novo. Mesmo assim, não seria impossível uma operação para trazê-lo de novo para a berlinda. Para a estabilidade do ambiente econômico é, de longe, o melhor candidato do PT e de Lula. Resta avaliar se ele já foi “absolvido” pela opinião pública.
Dilma tem que construir sua influência dentro do PT e eliminar algumas resistências fora. E tornar o PAC um sucesso inquestionável. Hoje, o crescimento econômico é creditado à política do BC e não ao PAC. Com 60% dos projetos em andamento, o PAC ainda tem que mostrar mais para torná-la irresistível. Tarso depende do sucesso do PAC da Segurança Pública para deslanchar. Caso funcione, seu projeto poderá ter consistência.
O quarto nome do PT é uma alternativa relativamente nova na bolsa de apostas: Patrus Ananias, o ministro do Bolsa-Família. Ananias pegou o “mico”do Fome Zero e transformou-o em um sucesso inquestionável. Daí o potencial apelo popular de seu nome. O perfil discreto pode, para muitos, ser uma desvantagem. Para outros, motivo de êxito. Ananias tem uma história interessante para contar. Foi vereador e prefeito de Belo Horizonte com um belo desempenho. Tanto que fez o sucessor. Foi o deputado federal mais votado da história de Minas Gerais. Professor de direito, é um homem culto, com experiência administrativa e legislativa no controle do programa de maior apelo social do governo. Seu currículo na construção do partido é inquestionável.
No final de semana, com a publicação da pesquisa Datafolha para a prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy mostrou que também está no páreo com mais chances do que se imagina. Ele tem a preferência de 25% dos eleitores, tecnicamente empatada com o tucano Geraldo Alckmin, que caiu para 26%. Além disso, vem de uma vitória expressiva, em São Paulo, de Jilmar Tatto (seu candidato à presidência do PT) que disputará o segundo turno com Ricardo Berzoini. Ex-prefeita, paulista e uma das principais estrelas do partido, sua vocação para a Presidência é inquestionável. O problema é a falta de entusiasmo de Lula diante de um nome que tem luz própria.
Apesar de admitir um candidato de fora do PT, os indícios são de que o partido não abrirá mão de lançar o seu nome. Quase 90% do diretório nacional querem um candidato próprio em 2010. A legislação eleitoral também não será restritiva. Assim, muitos partidos vão disputar o vestibular do primeiro turno visando assegurar “market-share” no Congresso e refazer alianças para um possível segundo turno. Portanto, a disputa no PT tende a se acirrar a cada mês. Em 2008, com as eleições municipais, já veremos um ensaio desse lance. Tanto dentro do PT quanto no entorno partidário do presidente.

Murillo de Aragão é mestre em ciência política e doutor em sociologia pela UnB. É presidente da Arko Advice – Análise Política.

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