Professores no Orkut
Gabriel Perissé
O Orkut, site de relacionamentos criado pelo Google em 2004, tornou-se ponto de encontro virtual para milhares de pessoas. E o mais curioso é que a maioria dos seus visitantes é brasileira. Quase 70%, segundo dados do próprio Orkut. E a maioria dessas pessoas tem entre 18 e 30 anos.O Orkut é a cara do brasileiro. Dispersão temática, ludicidade, desabafos, amizade fácil e superficial, humor beirando o deboche, rasgadas declarações de amor e admiração, pontos de exclamação aos montes, discussões infindáveis, mas depois tudo bem, acessos de raiva que a pessoa jamais se permitira ter na realidade real do dia-a-dia, enfim, um extravasar de palavras e emoções.Professores há no Orkut. E não são poucos. Uma fonte inesgotável de pesquisa os seus dizeres, as suas queixas, as suas perguntas e respostas.Uma professora paulista escreve: “Achei um show de horrores lecionar no magistério na rede estadual... Por sorte passei quase todo o primeiro semestre em licença-gestante. Dei aulas realmente de agosto a dezembro e posso dizer que ali passei os piores momentos da minha vida. Consegui a remoção para uma escola menos longe, mas me senti trocando seis por meia dúzia... Tomei coragem e me exonerei!!!! Tô com medo da falta de $$$$? Estou sim, admito. Mas também estou muito feliz por ter tido coragem de abrir mão daquilo em busca de algo melhor...”.Uma comunidade chamada “Professores sofredores” tem 5.800 membros (nada menos!). Tópicos interessantes, mas alguns que denunciam insensibilidade, mesmo que em tom de brincadeira. Por exemplo: “Eu tenho um aluno idiota!!!” já recebeu mais de 200 comentários. Alguns sensatos, mas outros inaceitáveis no teclado de um educador: “Alunos idiotas todos temos ou já tivemos um dia. Como já fomos alunos, sabemos diferenciar bem o idiota dos outros tipos de alunos. Geralmente aqueles que acham um crime chamar alunos de idiotas é porque foram idiotas no seu tempo de alunos”.Dor, ressentimento, ironia, zombaria, esperança, coragem, raiva e alegria vêm à tona no Orkut dos professores. Professores talvez pacatos e silenciosos nos corredores das escolas, que expressam no ambiente virtual (ou estão apenas se divertindo um pouco, altas horas da noite...) pensamentos nascidos durante o trabalho em sala de aula.Fica a sugestão de pesquisa. Analisar esses testemunhos, em que os internautas docentes chegam a fingir que é verdade aquilo que deveras sentem.
Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.Web Site: www.perisse.com.br
Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.Web Site: www.perisse.com.br
Um comentário:
Tb visitei os professores sofredores no orkut e achei interessante o desabafo dos professores. Usam ironia, brincam, mas falam sério, pois está sério a situação dos alunos dentro da sala de aula. Gostei muito das suas observações...
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