17/06/2006
TSE aumentará rigor com Lula
Em conversas reservadas, ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem agido no limite da lei.
Um deles reconhece que Lula foi bem orientado, sempre ressalvando nas solenidades de óbvio caráter eleitoral que ainda não é candidato.Por ora, dizem, há muito pouco a fazer. A reeleição é legal. Não foi inventada por Lula, mas pelo PSDB e PFL que hoje se queixam do jogo sem condições de igualdade entre um presidente-candidato e um postulante normal ao Palácio do Planalto.Ciente da disposição do TSE de ser vigilante em relação a ele, Lula adiou ao máximo o anúncio da candidatura a presidente.
Uma vez candidato, sabe que terá de ser mais cuidadoso nas viagens pelo país e eventos no Palácio do Planalto.Exemplo: o aumento concedido ao funcionalismo público recentemente não poderia ser dado se Lula já fosse assumidamente candidato. Poderia dar margem a uma interpretação rigorosa do tribunal, o que poderia complicar o presidente. Dificilmente redundaria em cassação de candidatura, mas talvez resultasse numa advertência do tribunal, o que ajudaria a oposição a dar credibilidade ao discurso de uso da máquina.Até mesmo a indicação de cargos para aliados terá de ser feita com cautela.
A ala governista do PMDB, que enterrou a candidatura própria do partido em aliança com setores oposicionistas, já está pressionando fortemente por ministérios e cargos em estatais. Lula deseja deixar boa parte dessa conta para depois das eleições, acreditando que será reeleito.Ou seja, Lula passará a caminhar no fio da navalha quando assumir a candidatura. Ministros do TSE recomendam que não dê sopa e que escolha bem o seu tesoureiro. A decisão de sexta de proibir campanhas institucionais do governo foi só um aperitivo.
*A grosseria e leviandade de José Jorge
Nas palavras do candidato a vice do tucano Geraldo Alckmin, o senador José Jorge (PFL-PE), "temos um presidente que não trabalha, só viaja, que bebe muito, como dizem por aí".Ora, "dizem por aí"? Um senador da República, candidato a vice, acha que vai ganhar credenciais políticas com tanta irresponsabilidade? Suas acusações foram injustas e infelizes. Partir para ataques pessoais levianos e grosseiros só diminui Jorge e, por tabela, Alckmin.No caso, o presidente teve toda razão ao dizer que a oposição fez jogo "rasteiro".
*Mais sugestões
Lula não quer nomear Paulo Lustosa, presidente da Funasa (Fundação Nacional da Saúde), para o comando da pasta da Saúde. Disse a dirigentes do PMDB que lhe apresentem outros nomes. Aí pode rolar.*Temer e GoldmanFavorito nas pesquisas sobre a sucessão paulista, o ex-prefeito José Serra, candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes, tem preferência por dois políticos que aparecem cotados para a vaga de vice em sua chapa: o presidente do PMDB, deputado federal Michel Temer (SP), e o deputado federal do PSDB Alberto Goldman.
*Metas de inflação e de crescimento
Quando sugeriu mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal, para incluir metas de inflação e crescimento, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, pensou em patamares entre 4% e 5% ao ano para ambas.*Status quoDe acordo com o ministro Tarso Genro, a autonomia formal do Banco Central "não é tema do governo". Ou seja, num eventual segundo mandato de Lula, o BC ficaria como hoje. Autonomia prática, mas não legal.*Bom senso"Apesar da dureza dos discursos, natural numa disputa eleitoral, há uma série de questões do país que só serão resolvidas se as principais forças políticas estiverem de acordo, qualquer que seja o futuro presidente. E, hoje, essas forças são PT e PSDB", diz Tarso, ao propor uma "agenda comum" pós-eleitoral à oposição.Na agenda, chamada por ele de "contencioso democrático", a reforma política, com fidelidade partidária, figura em primeiro lugar.
*Lance decisivo
Antes de escolher o companheiro de chapa à reeleição, Lula quer conversar com Ciro Gomes (PSB). O presidente sabe das dificuldades dos socialistas para aliança, mas ainda fará um último esforço. Se Ciro pular fora, José Alencar repetirá a dobradinha de quatro anos atrás.
Kennedy Alencar
Colunista da Folha Online
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