sábado, 17 de junho de 2006

Para pensarmos

16/06/2006
Craques da educação
Cristovam Buarque
O presidente Lula afirmou várias vezes, nas últimas semanas, ter iniciado uma revolução na educação do Brasil. Essa declaração vem com quase quatro anos de atraso e, pior, depois de o próprio presidente ter paralisado o trabalho começado no primeiro ano do seu governo. Porque em 2003, todos os pontos o programa de governo da campanha de Lula foram adotados pelo Ministério da Educação, transformados em programas e projetos de lei, e levados à Casa Civil. Mas as reformas não chegaram, ficaram parados no núcleo do Poder.

Mais grave ainda foi o fato de o MEC ter lançado, com recursos próprios, projetos essenciais, como a erradicação do analfabetismo em quatro anos – que superou sua meta no primeiro ano –, a certificação federal de professores municipais – garantindo-lhes um salário pago pela União, desde que fossem aprovados por um concurso federal –, e a Escola Ideal – que iniciaria uma revolução educacional em grupos de cidades, com a adoção do horário escolar integral e a contratação de professores bem remunerados, com escolas funcionando em edifícios bonitos e bem equipados. Tudo isso foi paralisado.

Três anos depois, vem o Presidente falar de educação. Mas fala de uma educação restrita às universidades e escolas técnicas, como há décadas têm feito os governos, porque interessa à minoria privilegiada do país. Interessa ao sistema econômico a formação de técnicos, e interessam aos ricos as vagas para seus filhos nas universidades federais. E a isso ele chama de revolução.
Não haverá reforma universitária completa sem uma revolução na educação básica. Um país que desperdiça dois terços dos seus jovens, que não terminam o Ensino Médio, nunca terá uma boa universidade.

O Brasil tem cinco dos dez maiores craques de futebol do mundo, mas nunca recebeu um Prêmio Nobel. Porque poucos adquiriram capacidade científica para concorrer a ele. Temos tantos craques porque todos os meninos do Brasil jogam bola desde os quatro anos de idade, nos mesmos campos de pelada, com bolas similares. Mas escola eles não têm; livros eles não têm. Entram na escola aos sete anos, e saem aos nove ou dez.

A formação e o futuro das nossas crianças dependem da sorte: de ter uma família rica, ou de nascer em uma cidade rica, com um prefeito que invista em educação. Isso precisa mudar. Criança precisa se desenvolver, e ter a chance de vencer, graças ao mérito, ao talento e à persistência. Como os nossos ronaldinhos da vida.

Mas vem o Presidente comemorar como grandes feitos a criação de novas universidades; a instalação de algumas escolas técnicas; o acesso ao ProUni de 160 mil jovens estudantes, quando são três milhões os que dele necessitam; os investimentos do Fundeb, antes mesmo de sua aprovação pelo Congresso, mesmo que o projeto tenha estado nas gavetas do Planalto desde dezembro de 2003.. Às vésperas da eleição, defende a educação, depois de ter passado três anos sem dar a ela a importância devida, tendo até interrompido projetos iniciados. Seu governo abandonou a educação básica porque, segundo a nossa lei, educação básica e criança são coisa de prefeito, mas educação superior é coisa de presidente.

É preciso dar um basta nisso. A educação básica tem de ser prioridade nacional, responsabilidade do Governo Federal. As escolas do Brasil precisam ser iguais, e garantir um futuro a todas as crianças. É possível dar chances de estudar iguais às oportunidades de jogar bola. Permitir que todas as nossas crianças brilhem, com a bola no pé e com livros na mão.

Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF.

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