sexta-feira, 10 de maio de 2013

Contra a miséria, por Paulo Guedes


Contra a miséria, por Paulo Guedes
Paulo Guedes, O Globo

O programa federal de transferência de renda Bolsa Família vai completar uma década de existência. São 13,8 milhões de famílias — 50 milhões de brasileiros pobres — recebendo em torno de 25 bilhões de reais em 2013.

“As vantagens desse tipo de programa são claras. As transferências são direcionadas especificamente ao alívio da pobreza. E ajudam os indivíduos sob a forma mais útil: em dinheiro”, registrava em “Capitalismo e liberdade” (1962) o liberal Milton Friedman.

A solidariedade tornou-se a principal bandeira dos socialistas. Mas as tecnologias mais eficazes para sua execução muito se beneficiariam da análise de simpatizantes liberais.

O historiador Georges Lefebvre, socialista “jacobino”, considerava “O Antigo Regime e a Revolução”, do liberal Alexis de Tocqueville, “o mais belo livro sobre a Revolução Francesa”.

Em seu clássico “1789”, Lefebvre descreve o surgimento do compromisso moderno com a “equidade” em quatro grandes ondas: a “revolução aristocrática”, que desestabiliza o absolutismo real; a “revolução burguesa”, que funda a nova ordem jurídica; a “revolução popular”, que consolida o processo; e a “revolução camponesa”, que o dissemina nacionalmente.

A popularidade dos social-democratas deveu-se exatamente a seu quase monopólio político da solidariedade. Secularizaram a bandeira das grandes religiões, conquistando corações ansiosos de massas desinformadas. Mas a solidariedade é traço humano milenar. Existiu bem antes do socialismo e das religiões.

“Nossos ancestrais sustentaram indivíduos que não podiam contribuir ao grupo. A sobrevivência dos mais frágeis tem sido registrada por paleontólogos como marcos evolucionários de empatia e compaixão. Tais legados sugerem que a moralidade precede civilizações e religiões em pelo menos 100 mil anos. Mesmo nossa família dos quatro grandes primatas — chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos — exibe demonstrações incontestáveis de solidariedade”, registra o biólogo Frans de Waal, em “O bonobo e o ateu: em busca do humanismo entre os primatas” (2013).

Programas de transferência de renda em uma Grande Sociedade Aberta expressam nosso compromisso humanista com a solidariedade. O grande desafio é aumentar sua eficácia e reduzir o desperdício com a intermediação da classe política.



Paulo Guedes é economista.

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