Jango no exílio
Virou mesmo minha obsessão. Desde que o advogado e escritor Iberê Teixeira me contou essa história de que Jango vinha ao ponto mais alto de Santo Tomé, na Argentina, e dali ficava olhando para a sua São Borja, não paro de pensar nisso. É shakespeariano. A solidão do homem arrancado do poder e da sua terra natal. Um espectro rondando o seu passado. Hoje, quando se completam 35 anos da morte de João Goulart em território argentino, eu não poderia deixar de falar disso. Que país estranho o Brasil. Empurrou para o suicídio, no exercício do poder, o homem que o arrancou do torpor econômico e da fraude política. Deixou morrer no exílio um presidente cujos três crimes eram ser popular e bom de voto, rico com sensibilidade social e ter tentado realizar reformas básicas para que o país encontrasse o seu futuro. Jango é um dos maiores injustiçados da história brasileira.
Terá Jango sido assassinado? É um mistério que persiste. A Operação Condor existiu e matou, com o aval dos Estados Unidos, inimigos da direita em vários países da América do Sul. A vida de Jango no Uruguai e na Argentina interessa tanto quanto a sua morte. O que pensava? O que sentia? Quantas vezes terá se perguntado se errou ou se deveria ter resistido? Terá experimentado essa dúvida? São as nossas questões jamais respondidas: por que Jânio renunciou? Por que Jango não resistiu? Se a razão não parece iluminar a decisão de Jânio, o contrário acontece com a de Jango. Não resistir foi, além de o mais sensato, a única coisa a fazer. O golpe militar de 1964 foi minuciosamente preparado depois do mico de 1961. O Ipes e o Ibad, aliando civis e militares, organizaram o atentado às instituições. Março de 1964 trouxe-lhes os pretextos de que necessitavam. O resto ainda se saberá.
O Brasil deu um passo tímido, mas fundamental, em 2011 com a criação, pela presidente Dilma Rousseff, de uma Comissão da Verdade, que poderá ser muito útil para acabar com todas as mentiras, até mesmo, quem sabe, as ditas pela mídia da época sobre João Goulart, acusado de atos jamais provados. Para 2014, quando lembraremos os 50 anos de implantação da nossa última ditadura, o Brasil poderia aproveitar para viabilizar a criação do Memorial João Goulart, em Brasília, uma luta de João Vicente Goulart, filho do presidente Jango, ainda não realmente abraçada pela esquerda no poder. Jango morreu no exterior por causa da covardia dos milicos no poder, que temiam o seu poder de sedução e a sua capacidade, se voltasse ao Brasil, de incendiar o coração da massa contra um regime tacanho, medíocre e baseado na violência maldissimulada.
Imagino Jango na solidão das suas fazendas passando a limpo cada um dos seus gestos. Sempre penso em Jango como um homem que duas vezes tomou a decisão certa, evitando uma guerra civil, e duas vezes foi incompreendido. O Brasil ainda deve um pedido de desculpas a esse pacifista, grande negociador, que ousou, sejamos pomposos, querer um Brasil mais justo antes do tempo. Quer dizer, antes do tempo dos nossos conservadores. As reformas de Jango ainda estão sendo completadas. A rapidez não é uma das nossas qualidades.
Juremir Machado da Silva juremir@correiodopovo.com.br
Virou mesmo minha obsessão. Desde que o advogado e escritor Iberê Teixeira me contou essa história de que Jango vinha ao ponto mais alto de Santo Tomé, na Argentina, e dali ficava olhando para a sua São Borja, não paro de pensar nisso. É shakespeariano. A solidão do homem arrancado do poder e da sua terra natal. Um espectro rondando o seu passado. Hoje, quando se completam 35 anos da morte de João Goulart em território argentino, eu não poderia deixar de falar disso. Que país estranho o Brasil. Empurrou para o suicídio, no exercício do poder, o homem que o arrancou do torpor econômico e da fraude política. Deixou morrer no exílio um presidente cujos três crimes eram ser popular e bom de voto, rico com sensibilidade social e ter tentado realizar reformas básicas para que o país encontrasse o seu futuro. Jango é um dos maiores injustiçados da história brasileira.
Terá Jango sido assassinado? É um mistério que persiste. A Operação Condor existiu e matou, com o aval dos Estados Unidos, inimigos da direita em vários países da América do Sul. A vida de Jango no Uruguai e na Argentina interessa tanto quanto a sua morte. O que pensava? O que sentia? Quantas vezes terá se perguntado se errou ou se deveria ter resistido? Terá experimentado essa dúvida? São as nossas questões jamais respondidas: por que Jânio renunciou? Por que Jango não resistiu? Se a razão não parece iluminar a decisão de Jânio, o contrário acontece com a de Jango. Não resistir foi, além de o mais sensato, a única coisa a fazer. O golpe militar de 1964 foi minuciosamente preparado depois do mico de 1961. O Ipes e o Ibad, aliando civis e militares, organizaram o atentado às instituições. Março de 1964 trouxe-lhes os pretextos de que necessitavam. O resto ainda se saberá.
O Brasil deu um passo tímido, mas fundamental, em 2011 com a criação, pela presidente Dilma Rousseff, de uma Comissão da Verdade, que poderá ser muito útil para acabar com todas as mentiras, até mesmo, quem sabe, as ditas pela mídia da época sobre João Goulart, acusado de atos jamais provados. Para 2014, quando lembraremos os 50 anos de implantação da nossa última ditadura, o Brasil poderia aproveitar para viabilizar a criação do Memorial João Goulart, em Brasília, uma luta de João Vicente Goulart, filho do presidente Jango, ainda não realmente abraçada pela esquerda no poder. Jango morreu no exterior por causa da covardia dos milicos no poder, que temiam o seu poder de sedução e a sua capacidade, se voltasse ao Brasil, de incendiar o coração da massa contra um regime tacanho, medíocre e baseado na violência maldissimulada.
Imagino Jango na solidão das suas fazendas passando a limpo cada um dos seus gestos. Sempre penso em Jango como um homem que duas vezes tomou a decisão certa, evitando uma guerra civil, e duas vezes foi incompreendido. O Brasil ainda deve um pedido de desculpas a esse pacifista, grande negociador, que ousou, sejamos pomposos, querer um Brasil mais justo antes do tempo. Quer dizer, antes do tempo dos nossos conservadores. As reformas de Jango ainda estão sendo completadas. A rapidez não é uma das nossas qualidades.
Juremir Machado da Silva juremir@correiodopovo.com.br
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