A ocupação de Wall Street e a luta simbólica
Se algo é essencial em qualquer estrutura de domínio, além de forjar o consentimento da maioria silenciosa, é afirmar símbolos comuns. Os ícones representam mais que a si mesmos, sendo síntese de uma proposta civilizatória.
Para o capitalismo praticado em escala global e propagado através dos Estados Unidos, o epicentro do poder está no número 11 de Wall Street, sede da Bolsa de Valores (NYSE).
A ocupação simbólica desse espaço geográfico pode não ter consequências políticas diretas, mas representa um soco no fígado do capital financeiro.
É curioso observar como a ação começa. Tem momentos em que a vida imita a arte, ou ao menos, as versões mais agitadas desta. Numa passagem do filme Capitalismo: uma história de amor (2009) de Michael Moore, o diretor enrola a entrada da sede Bolsa de Valores de Nova York com fita de isolamento para cenas de crime, e antes tenta executar uma prisão – como cidadão – da diretoria da empresa de seguros AIG.
Moore é reprimido e chega até a apanhar da segurança privada. De tão relevante, a ideia permaneceu.
Na edição de 13 de julho, o grupo de ativistas culturais Adbusters.org publica no número 97 de sua revista impressa uma convocatória para que, no dia 17 de setembro, milhares de cidadãos estadunidenses ocupassem a Wall Street, reproduzindo em Nova York um momento como da Praça Tahrir do Egito.
Para espanto dos proponentes e desespero dos entusiastas da especulação financeira, 5000 pessoas marchavam neste dia, atendendo a convocatória despretensiosa. De lá para cá, o movimento segue ativo, espalhando-se por outras cidades da superpotência e defrontando-se com a espiral do silêncio da mídia corporativa deles e, como era de se esperar, uma escalada repressiva.
A revolta das pessoas com um nível de informação razoável é saber que as máximas: “grande demais para falir” (too big to fail) e “grande demais para ir preso” (too big to jail), são simplesmente reais.
Isto foi demonstrado em reportagens de fôlego por centros de jornalismo cidadão como Propublica.org eIwatchNews.org.
Neste bojo, documentários como Trabalho Interno (Charles Ferguson, 2010) e o predecessor sobre a falência fraudulenta da empresa de energia Enron (Alex Gibney, 2005) sedimentaram um terreno mais que fértil para a revolta cidadã.
Diante dos efeitos nefastos que a “fraude com nome de crise financeira” vem causando, não se pode desconsiderar a acumulação de forças que um ato como a ocupação de Wall Street traz consigo.
Bruno Lima Rocha é cientista político
Se algo é essencial em qualquer estrutura de domínio, além de forjar o consentimento da maioria silenciosa, é afirmar símbolos comuns. Os ícones representam mais que a si mesmos, sendo síntese de uma proposta civilizatória.
Para o capitalismo praticado em escala global e propagado através dos Estados Unidos, o epicentro do poder está no número 11 de Wall Street, sede da Bolsa de Valores (NYSE).
A ocupação simbólica desse espaço geográfico pode não ter consequências políticas diretas, mas representa um soco no fígado do capital financeiro.
É curioso observar como a ação começa. Tem momentos em que a vida imita a arte, ou ao menos, as versões mais agitadas desta. Numa passagem do filme Capitalismo: uma história de amor (2009) de Michael Moore, o diretor enrola a entrada da sede Bolsa de Valores de Nova York com fita de isolamento para cenas de crime, e antes tenta executar uma prisão – como cidadão – da diretoria da empresa de seguros AIG.
Moore é reprimido e chega até a apanhar da segurança privada. De tão relevante, a ideia permaneceu.
Na edição de 13 de julho, o grupo de ativistas culturais Adbusters.org publica no número 97 de sua revista impressa uma convocatória para que, no dia 17 de setembro, milhares de cidadãos estadunidenses ocupassem a Wall Street, reproduzindo em Nova York um momento como da Praça Tahrir do Egito.
Para espanto dos proponentes e desespero dos entusiastas da especulação financeira, 5000 pessoas marchavam neste dia, atendendo a convocatória despretensiosa. De lá para cá, o movimento segue ativo, espalhando-se por outras cidades da superpotência e defrontando-se com a espiral do silêncio da mídia corporativa deles e, como era de se esperar, uma escalada repressiva.
A revolta das pessoas com um nível de informação razoável é saber que as máximas: “grande demais para falir” (too big to fail) e “grande demais para ir preso” (too big to jail), são simplesmente reais.
Isto foi demonstrado em reportagens de fôlego por centros de jornalismo cidadão como Propublica.org eIwatchNews.org.
Neste bojo, documentários como Trabalho Interno (Charles Ferguson, 2010) e o predecessor sobre a falência fraudulenta da empresa de energia Enron (Alex Gibney, 2005) sedimentaram um terreno mais que fértil para a revolta cidadã.
Diante dos efeitos nefastos que a “fraude com nome de crise financeira” vem causando, não se pode desconsiderar a acumulação de forças que um ato como a ocupação de Wall Street traz consigo.
Bruno Lima Rocha é cientista político
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