O nascimento de Cristina
A viuvez de Cristina Kirchner foi um dos argumentos usados ontem para explicar o arrasador desempenho da presidenta nas eleições do domingo. O tema, polêmico, foi abordado por dois renomados pensadores da era K: a socióloga Beatriz Sarlo e o filósofo José Pablo Feinman.
O texto de Sarlo, crítica ácida do casal K e autora do livro “A Audácia e o Cálculo”, foi publicado no La Nación. Sarlo defende que Cristina, a quem chama de presidente viúva, é uma auto-invenção criada a partir da morte de Nestor Kirchner, em outubro do ano passado, aperfeiçoada por um grupo muito pequeno de publicitários e ideólogos.
“É uma grande atriz sobre um cenário desenhado meticulosamente por ela mesma. Seu luto, sua palidez, sua figura erguida, sua voz potente, que pode quebrar-se pela emoção ao lembrar-se do marido ausente”.
Sarlo diz que Cristina conseguiu representar o papel de figura política e humana ao mesmo tempo, e isto foi base de sua liderança. “Este êxito da imagem fortaleceu o vínculo que a crua economia tecia por baixo e atou com um laço simbólico o intercambio entre melhorias materiais e apoio político”.
O segundo texto, de José Pablo Feinman, saiu no jornal oficialista Página 12 e, incrivelmente, tem um ponto em comum com Sarlo: ele também diz que Cristina nasceu no dia da morte de Kirchner, quando fez “uma nova e espetacular recriação de si mesma”. Mas tem outros argumentos.
Para Feinman, Cristina descobriu que podia caminhar sozinha.
À esta nova Cristina, diz, não faltou força para frear a poderosa central de trabalhadores que dirige Hugo Moyano, para atuar no campo internacional, para enfrentar os meios que a agridem, para conduzir internamente as forças partidárias. “Promulgou medidas sociais importantíssimas e demonstrou uma inteligência infinitamente superior que seus tristes rivais”.
Seria muito raso, no entanto, atribuir uma vitória de 53,9% dos votos a 365 dias de luto.
São nove anos seguidos de altas taxas de crescimento econômico (2003-2011), 3,5 milhõesde novos postos de trabalho (com carteira assinada) e queda nos índices de pobreza, para citar algumas das razões que poderiam explicam a reeleição da presidente.
Isso sem falar na inclusão de 3,5 milhões de crianças no bolsa-escola, na condenação de repressores por violações a direitos humanos, na aprovação de leis sociais importantes como o matrimonio igualitário, na reforma trabalhista, no reconhecimento dos direitos das empregadas domésticas, na repatriação de cientistas e na nova lei de meios.
Obviamente há defuntos no meio dessa história. Mas para conhecer os verdadeiros é preciso olhar os números da oposição.
Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo, com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha
A viuvez de Cristina Kirchner foi um dos argumentos usados ontem para explicar o arrasador desempenho da presidenta nas eleições do domingo. O tema, polêmico, foi abordado por dois renomados pensadores da era K: a socióloga Beatriz Sarlo e o filósofo José Pablo Feinman.
O texto de Sarlo, crítica ácida do casal K e autora do livro “A Audácia e o Cálculo”, foi publicado no La Nación. Sarlo defende que Cristina, a quem chama de presidente viúva, é uma auto-invenção criada a partir da morte de Nestor Kirchner, em outubro do ano passado, aperfeiçoada por um grupo muito pequeno de publicitários e ideólogos.
“É uma grande atriz sobre um cenário desenhado meticulosamente por ela mesma. Seu luto, sua palidez, sua figura erguida, sua voz potente, que pode quebrar-se pela emoção ao lembrar-se do marido ausente”.
Sarlo diz que Cristina conseguiu representar o papel de figura política e humana ao mesmo tempo, e isto foi base de sua liderança. “Este êxito da imagem fortaleceu o vínculo que a crua economia tecia por baixo e atou com um laço simbólico o intercambio entre melhorias materiais e apoio político”.
O segundo texto, de José Pablo Feinman, saiu no jornal oficialista Página 12 e, incrivelmente, tem um ponto em comum com Sarlo: ele também diz que Cristina nasceu no dia da morte de Kirchner, quando fez “uma nova e espetacular recriação de si mesma”. Mas tem outros argumentos.
Para Feinman, Cristina descobriu que podia caminhar sozinha.
À esta nova Cristina, diz, não faltou força para frear a poderosa central de trabalhadores que dirige Hugo Moyano, para atuar no campo internacional, para enfrentar os meios que a agridem, para conduzir internamente as forças partidárias. “Promulgou medidas sociais importantíssimas e demonstrou uma inteligência infinitamente superior que seus tristes rivais”.
Seria muito raso, no entanto, atribuir uma vitória de 53,9% dos votos a 365 dias de luto.
São nove anos seguidos de altas taxas de crescimento econômico (2003-2011), 3,5 milhõesde novos postos de trabalho (com carteira assinada) e queda nos índices de pobreza, para citar algumas das razões que poderiam explicam a reeleição da presidente.
Isso sem falar na inclusão de 3,5 milhões de crianças no bolsa-escola, na condenação de repressores por violações a direitos humanos, na aprovação de leis sociais importantes como o matrimonio igualitário, na reforma trabalhista, no reconhecimento dos direitos das empregadas domésticas, na repatriação de cientistas e na nova lei de meios.
Obviamente há defuntos no meio dessa história. Mas para conhecer os verdadeiros é preciso olhar os números da oposição.
Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo, com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha
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