Qual é o grande trunfo do PT? Fazer um governo de bons resultados. Qual parece ser uma angústia existencial do partido? Que outros talvez pudessem ter feito esse mesmo governo, alcançando resultados semelhantes.
Do Blog do Alon:
Notei aqui outro dia haver algo de artificial no ambiente de radicalização discursiva na política brasileira nestes tempos. É como se os políticos girassem numa rotação e a sociedade em outra. A imagem é antiga, do tempo do disco de vinil, mas serve.
Na teoria, a polarização deveria estar conectada a algum esgarçamento social, sensível ou latente. A mobilizações explícitas ou a projetos tão distantes que a disputa entre eles implicasse alternativas dramaticamente antagônicas no desenho da economia, da política e da organização da sociedade.
Um exemplo de artificialismo foi o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) decretado no fim do ano passado pelo presidente da República.
Alguém mais distraído poderá imaginar ter sido bolado mais ou menos assim. Um dia Luiz Inácio Lula da Silva chamou os auxiliares próximos e ordenou: “Arrumem aí um projeto qualquer que provoque bastante confusão e me crie problemas com todo mundo. Mas, olhem lá, com todo mundo mesmo”.
Por que o governo precisou recuar tão rápida e desorganizadamente no PNDH? Porque o programa não correspondia a uma demanda com massa crítica social. Não era uma pauta com apoio expressivo, não era uma agenda nem de longe majoritária. Soou mais como produção intelectual feita nos carpetes. Um arroubo de voluntarismo.
Daí que a ideia tenha sido trucidada com certa facilidade, apesar da altíssima popularidade do presidente.
Já um Barack Obama em baixa reuniu forças para, a poucos meses da eleição parlamentar, fazer o Congresso dos Estados Unidos aprovar a reforma da Saúde, ideia que vinha sendo responsável por importantes derrotas eleitorais recentes dos partidários do presidente.
Obama conseguiu fazer a base social dele prevalecer sobre a base política. Talvez algumas dificuldades de Lula nasçam da tentação de trilhar o caminho oposto: usar o amplo, mas difuso, apoio social reunido por ele e pelo governo para impulsionar iniciativas com viés mais político-ideológico, e para as quais o cidadão médio não está nem aí.
E, portanto, para as quais o Congresso tende a não estar nem aí.
Qual é o grande trunfo do PT? Fazer um governo de bons resultados. Qual parece ser uma angústia existencial do partido? Que outros talvez pudessem ter feito esse mesmo governo, alcançando resultados semelhantes.
Isso não deveria ser um problema, pois na vida real quem dirige este governo é o PT, e não outros. Mas o discurso da legenda está todinho montado na necessiodade imperiosa de o partido continuar no poder para o país não voltar ao passado, não andar para trás, não por a perder as conquistas dos últimos anos.
Essa tensão talvez seja causa de algumas derrapagens, como foi o caso do PNDH. Movimentos políticos que propiciam contra-ataques adversários com chance de sucesso.
Nem rascunho
Por falar em discurso, o PT está preparadinho e ajeitadinho para enfrentar o PSDB. Mas não tem até agora nem rascunho do que dizer para se contrapor a Marina Silva (PV), ou mesmo a Ciro Gomes (PSB), na hipótese de ele ser candidato.
Do Blog do Alon:
Notei aqui outro dia haver algo de artificial no ambiente de radicalização discursiva na política brasileira nestes tempos. É como se os políticos girassem numa rotação e a sociedade em outra. A imagem é antiga, do tempo do disco de vinil, mas serve.
Na teoria, a polarização deveria estar conectada a algum esgarçamento social, sensível ou latente. A mobilizações explícitas ou a projetos tão distantes que a disputa entre eles implicasse alternativas dramaticamente antagônicas no desenho da economia, da política e da organização da sociedade.
Um exemplo de artificialismo foi o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) decretado no fim do ano passado pelo presidente da República.
Alguém mais distraído poderá imaginar ter sido bolado mais ou menos assim. Um dia Luiz Inácio Lula da Silva chamou os auxiliares próximos e ordenou: “Arrumem aí um projeto qualquer que provoque bastante confusão e me crie problemas com todo mundo. Mas, olhem lá, com todo mundo mesmo”.
Por que o governo precisou recuar tão rápida e desorganizadamente no PNDH? Porque o programa não correspondia a uma demanda com massa crítica social. Não era uma pauta com apoio expressivo, não era uma agenda nem de longe majoritária. Soou mais como produção intelectual feita nos carpetes. Um arroubo de voluntarismo.
Daí que a ideia tenha sido trucidada com certa facilidade, apesar da altíssima popularidade do presidente.
Já um Barack Obama em baixa reuniu forças para, a poucos meses da eleição parlamentar, fazer o Congresso dos Estados Unidos aprovar a reforma da Saúde, ideia que vinha sendo responsável por importantes derrotas eleitorais recentes dos partidários do presidente.
Obama conseguiu fazer a base social dele prevalecer sobre a base política. Talvez algumas dificuldades de Lula nasçam da tentação de trilhar o caminho oposto: usar o amplo, mas difuso, apoio social reunido por ele e pelo governo para impulsionar iniciativas com viés mais político-ideológico, e para as quais o cidadão médio não está nem aí.
E, portanto, para as quais o Congresso tende a não estar nem aí.
Qual é o grande trunfo do PT? Fazer um governo de bons resultados. Qual parece ser uma angústia existencial do partido? Que outros talvez pudessem ter feito esse mesmo governo, alcançando resultados semelhantes.
Isso não deveria ser um problema, pois na vida real quem dirige este governo é o PT, e não outros. Mas o discurso da legenda está todinho montado na necessiodade imperiosa de o partido continuar no poder para o país não voltar ao passado, não andar para trás, não por a perder as conquistas dos últimos anos.
Essa tensão talvez seja causa de algumas derrapagens, como foi o caso do PNDH. Movimentos políticos que propiciam contra-ataques adversários com chance de sucesso.
Nem rascunho
Por falar em discurso, o PT está preparadinho e ajeitadinho para enfrentar o PSDB. Mas não tem até agora nem rascunho do que dizer para se contrapor a Marina Silva (PV), ou mesmo a Ciro Gomes (PSB), na hipótese de ele ser candidato.
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