segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

DERROTA DE CHÁVEZ PRENUNCIA DECLÍNIO DO POPULISMO DE ESQUERDA NA AMÉRICA LATINA

por Paulo Moura

Hugo Chávez foi o primeiro e é o mais proeminente e emblemático dos líderes populistas de esquerda eleitos na América Latina nesse ciclo conjuntural que começa a se esgotar. O casal Kirchner; Evo Moralez; Rafael Correa, Fernando Lugo, Daniel Ortega e Lula fazem parte dessa safra de líderes de esquerda que chegaram ao poder na ressaca das reformas liberalizantes que varreram o mundo a partir da década de 1980 nos EUA e na Europa, e da década de 1990 na América Latina.

A política mundial acontece em ondas que se sucedem em processo pendular de ação e reação entre grupos políticos que representam as grandes correntes de pensamento ideológico existentes no mundo ocidental. Essas duas grandes correntes de pensamento são remanescentes do fim do conflito entre capitalismo e comunismo, após o fim da URSS e queda do Muro de Berlim. Simplificando-se as coisas, restou, por um lado, o ideário liberal, e de outro, a social-democracia. O consenso é a capitalista e democrático liberal. A divergência de fundo é sobre o maior ou menor grau de intervenção do Estado na vida do cidadão e na economia.

O ecologismo político emerge como pensamento ideológico do futuro, mas seus contornos filosóficos ainda são demasiado incipientes para disputar espaço decisivo nos conflitos de poder da era global. Há verdes fundamentalistas e reacionários; verdes conservadores; verdes-vermelhos e verdes-libertários entre as lideranças ecologistas. E há, também, uma enorme gama de eco-românticos, todos fadados à desilusão tanto mais quanto mais os verdes se aproximarem do poder. Mas, isso é outro assunto.

Em que classificação se enquadraria a fauna listada no primeiro parágrafo desse artigo? Certamente, do pondo de vista da consistência filosófica e programática, em nenhum escaninho relevante da história do pensamento político humano. Trata-se da expressão de um espasmo da história do capitalismo tardio das ex-colônias européias. Gente que a supremacia da democracia liberal mandará para a oposição na próxima onda eleitoral que se iniciou na Venezuela com a derrota de Chávez no plebiscito em que o tiranete buscava a reeleição eterna.

Chávez tentou, mas não conseguiu acabar com a democracia na Venezuela. Diga-se o que se disser da democracia “burguesa”, é o voto universal; direto; secreto e na urna, que ainda garante um dos mais importantes princípios da liberdade e proteção dos indivíduos contra o excesso e poder dos governantes: a alternância no poder.

Com a vitória em Caracas; em sua região metropolitana e em outros grandes centros urbanos da Venezuela, a oposição venezuelana deu mais um passo rumo ao poder nacional, ao derrotar Hugo Chávez nos pólos dinâmicos e desenvolvidos daquele país, mesmo sob a ameaça de o tiranete usar tanques para barrar a vitória de seus adversários.

Assim como na Europa conservadores e social-democratas alternam-se no poder; nos EUA, Republicanos e Democratas fazem o mesmo. Havendo democracia e liberdade, o mesmo tende a acontecer em qualquer lugar do mundo. Basta que o povo tenha liberdade de escolha, e que os jogadores respeitem as regras do jogo da alternância pacífica do poder.

A teoria das ondas políticas é de Samuel Huntington, cientista político norte-americano que estudou a alternância entre ciclos autoritários e democráticos no mundo. A idéia de ciclos políticos também pode ser aplicada às ondas alternadas de ação e reação nas disputas de poder em âmbito mundial, notadamente no Ocidental. Mesmo antes no fenômeno da globalização as ondas políticas já sacudiam o mundo. Desde os primórdios da democracia liberal na Europa, o berço da cultura e das ideologias políticas ocidentais, o fenômeno é observado.

Tudo indica que a derrota de Hugo Chávez é o início do fim do ciclo de ascensão ao poder do populismo de esquerda na América Latina. O casal Kirchner desce a ladeira do poder em desabalada carreira. O PT deve perder as próximas eleições presidenciais no Brasil para a oposição. Se os demais integrantes de lista que abre esse artigo não conseguirem tolher a liberdade de escolha do povo nas urnas, é questão de tempo até a fadiga dos materiais desgastar seus poderes.

O aprendizado democrático é lento; cheio de contradições e vai-vens. Resta esperar que os povos que elegeram esses governantes avancem na qualidade de sua vontade democrática de preservar a liberdade e a democracia. E que aprendam a melhor controlar e cobrar os políticos que elegem. Até porque, se a teoria das ondas políticas tem fundamento na dinâmica da realidade, a esquerda latino-americana, em vias de perder o poder na próxima década, a ele voltará no ciclo subseqüente. Se isso acontecer, que essa gente, pelo menos, volte mais tolerante e conformada com a vida em sociedades livres e democráticas. A direita latino-americana parece ter aprendido antes essa lição.

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