Escrito por Max Gimenes
12-Dez-2008
Reunido no último fim de semana no centro da cidade de São Paulo, o Comitê Central do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) deliberou a respeito do futuro da organização que, após mais de 30 anos, enfim deixa o PMDB. Ao contrário do que se chegou a cogitar (suposição razoável, aliás, haja vista o exacerbado lulismo que ultimamente tem caracterizado o movimento), não houve proposta de entrada no PT, mas sim o encaminhamento para a busca das 500 mil assinaturas necessárias para a criação de um novo partido até junho de 2009, prazo para que este possa disputar eleições já em 2010.
Chamado Partido Pátria Livre (PPL), referência ao Hino da Independência, a agremiação seria uma forma, segundo seus idealizadores, de avançar na construção de uma frente nacional-desenvolvimentista, cujo líder é o presidente Lula e cujos partidos de sustentação seriam mesmo PT e PMDB, juntamente com o restante da base do governo federal. Criando uma nova legenda, o MR-8 pensa poder conseguir mais espaço e ter mais peso nas negociações políticas, em vez de se tornar mais uma corrente interna no PT.
Contra a entrada no Partido dos Trabalhadores pesa também a forma como este costumava se organizar. Uma das coisas mais importantes introduzidas pelo PT na política brasileira, a democracia interna e a participação ativa da base – embora essas coisas hoje não funcionem bem assim – não são tão bem vistas pelo MR-8. Estes, de tradição stalinista, consideram essa estrutura, com livre organização interna em correntes e tendências, uma bagunça. Preferem um centralismo democrático em que a direção determina a linha e a base segue à risca.
Em seu manifesto de lançamento, datado do dia 7 de dezembro, o pretenso partido reafirma seu compromisso com a visão etapista de revolução, apontando ser necessária a aliança com a burguesia nacional não-monopolista para promover a libertação nacional e derrotar os monopólios internacionais. E, assim, ajudar a jogar terra na cova onde se meteram o imperialismo estadunidense e a ideologia neoliberal por ele sustentada.
O PPL surge, sempre de acordo com o seu manifesto de lançamento (intitulado "Carta ao povo brasileiro", pasmem), como um partido "de esquerda". Não faltou, é claro, uma alfinetada, ainda que sem referência nominal, naqueles que fazem oposição de esquerda ao governo Lula: PSOL, PSTU e PCB. Há as seguintes colocações: "fora dela (a tal frente) o que existe é o retrocesso" e "os setores que se pretendem à esquerda do governo Lula (têm sido levados) ao vexatório papel de linha auxiliar das viúvas do neoliberalismo encasteladas no PSDB e no DEM", estes últimos efetivamente citados.
Em um dos cinco princípios que servirão de alicerce para a futura sigla, há o compromisso com um "horizonte socialista". Se depender do pragmatismo do MR-8, é possível que não haja ser humano para contar história quando chegar tal momento, pois o capitalismo atualmente nos arrasta ao precipício. Para aqueles que imaginam que os "revolucionários" do MR-8 estão rompendo brigados com o partido ao qual ainda pertencem, esqueçam. Sem radicalismos, companheirada. O manifesto é encerrado com um parágrafo que faz média com o PMDB, aquele de José Sarney, Renan Calheiros, Orestes Quércia, entre outras tantas figuras bastante conhecidas pelos brasileiros. Para o MR-8, foi uma "honra" permanecer por lá durante todo esse tempo.
Em recente debate sobre a crise financeira global e também em sua coluna no jornal "Folha de S. Paulo", Cesar Benjamin – editor da Editora Contraponto e, por acaso, ex-militante do MR-8 – afirmou que as turbulências na economia mundial poderão ter sérios impactos no Brasil. O que pode trazer conseqüências para o jogo político-partidário brasileiro que hoje parecem inimagináveis, como uma aliança entre PT e PSDB, por exemplo, em defesa dos interesses nacionais (o que contaria com o apoio entusiasmado do tal PPL, nacionalista acima de tudo).
A criação desse novo partido, ainda que seja algo de certa forma pouco relevante e que talvez nem sequer se concretize, sinaliza que há mesmo espaço para movimentações e rearranjos. O que está por vir não sabemos, mas as surpresas já começam a aparecer.
Max Luiz Gimenes, professor de redação da Rede Emancipa de Cursinhos Populares, é militante do PSOL.
12-Dez-2008
Reunido no último fim de semana no centro da cidade de São Paulo, o Comitê Central do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) deliberou a respeito do futuro da organização que, após mais de 30 anos, enfim deixa o PMDB. Ao contrário do que se chegou a cogitar (suposição razoável, aliás, haja vista o exacerbado lulismo que ultimamente tem caracterizado o movimento), não houve proposta de entrada no PT, mas sim o encaminhamento para a busca das 500 mil assinaturas necessárias para a criação de um novo partido até junho de 2009, prazo para que este possa disputar eleições já em 2010.
Chamado Partido Pátria Livre (PPL), referência ao Hino da Independência, a agremiação seria uma forma, segundo seus idealizadores, de avançar na construção de uma frente nacional-desenvolvimentista, cujo líder é o presidente Lula e cujos partidos de sustentação seriam mesmo PT e PMDB, juntamente com o restante da base do governo federal. Criando uma nova legenda, o MR-8 pensa poder conseguir mais espaço e ter mais peso nas negociações políticas, em vez de se tornar mais uma corrente interna no PT.
Contra a entrada no Partido dos Trabalhadores pesa também a forma como este costumava se organizar. Uma das coisas mais importantes introduzidas pelo PT na política brasileira, a democracia interna e a participação ativa da base – embora essas coisas hoje não funcionem bem assim – não são tão bem vistas pelo MR-8. Estes, de tradição stalinista, consideram essa estrutura, com livre organização interna em correntes e tendências, uma bagunça. Preferem um centralismo democrático em que a direção determina a linha e a base segue à risca.
Em seu manifesto de lançamento, datado do dia 7 de dezembro, o pretenso partido reafirma seu compromisso com a visão etapista de revolução, apontando ser necessária a aliança com a burguesia nacional não-monopolista para promover a libertação nacional e derrotar os monopólios internacionais. E, assim, ajudar a jogar terra na cova onde se meteram o imperialismo estadunidense e a ideologia neoliberal por ele sustentada.
O PPL surge, sempre de acordo com o seu manifesto de lançamento (intitulado "Carta ao povo brasileiro", pasmem), como um partido "de esquerda". Não faltou, é claro, uma alfinetada, ainda que sem referência nominal, naqueles que fazem oposição de esquerda ao governo Lula: PSOL, PSTU e PCB. Há as seguintes colocações: "fora dela (a tal frente) o que existe é o retrocesso" e "os setores que se pretendem à esquerda do governo Lula (têm sido levados) ao vexatório papel de linha auxiliar das viúvas do neoliberalismo encasteladas no PSDB e no DEM", estes últimos efetivamente citados.
Em um dos cinco princípios que servirão de alicerce para a futura sigla, há o compromisso com um "horizonte socialista". Se depender do pragmatismo do MR-8, é possível que não haja ser humano para contar história quando chegar tal momento, pois o capitalismo atualmente nos arrasta ao precipício. Para aqueles que imaginam que os "revolucionários" do MR-8 estão rompendo brigados com o partido ao qual ainda pertencem, esqueçam. Sem radicalismos, companheirada. O manifesto é encerrado com um parágrafo que faz média com o PMDB, aquele de José Sarney, Renan Calheiros, Orestes Quércia, entre outras tantas figuras bastante conhecidas pelos brasileiros. Para o MR-8, foi uma "honra" permanecer por lá durante todo esse tempo.
Em recente debate sobre a crise financeira global e também em sua coluna no jornal "Folha de S. Paulo", Cesar Benjamin – editor da Editora Contraponto e, por acaso, ex-militante do MR-8 – afirmou que as turbulências na economia mundial poderão ter sérios impactos no Brasil. O que pode trazer conseqüências para o jogo político-partidário brasileiro que hoje parecem inimagináveis, como uma aliança entre PT e PSDB, por exemplo, em defesa dos interesses nacionais (o que contaria com o apoio entusiasmado do tal PPL, nacionalista acima de tudo).
A criação desse novo partido, ainda que seja algo de certa forma pouco relevante e que talvez nem sequer se concretize, sinaliza que há mesmo espaço para movimentações e rearranjos. O que está por vir não sabemos, mas as surpresas já começam a aparecer.
Max Luiz Gimenes, professor de redação da Rede Emancipa de Cursinhos Populares, é militante do PSOL.
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