terça-feira, 16 de outubro de 2007

Dilma na cabeça

Ricardo Noblat

É tão antigo quanto a Sé de Braga o plano de Lula de disputar a eleição presidencial de 2014. A dita Sé fica em Portugal e começou a ser construída no século XI. Para ter chance de obter o terceiro mandato, Lula precisa que o candidato à sua sucessão seja derrotado. Ou que uma vez eleito desista da reeleição. É aqui que entra Dilma Rouseff.
Lula se acha um homem de sorte desde que escolheu Dilma para substituir José Dirceu na Casa Civil. Não fazia idéia de que ela se sairia tão bem ali. Temia sua falta de bons modos. Dilma é durona. Não faz o tipo que os políticos tanto apreciam. Em compensação é uma executiva de primeira linha. Detesta firulas. Joga para o time. E nada lhe escapa.
José Dirceu penou quando perdeu a coordenação política do governo. Centralizador, abriu mais frentes de serviço do que poderia dar conta. Dilma, não. Como Dirceu, também é centralizadora. Diferentemente dele, não pretende mandar em tudo. Quem despacha com o presidente sempre que deseja está dispensado de exibir sinais exteriores de poder.
O de Dilma deriva de Lula, o único padrinho de sua nomeação. Mas ela tem agido para ampliá-lo. Seu mais recente feito foi o leilão das concessões à iniciativa privada de 2,6 mil quilômetros de estradas. Um percurso que custaria R$ 10,00 nos anos 90 sairá por R$ 2,70. Imagina o prato oferecido aos marqueteiros da campanha do PT em 2010...
Dilma está para o segundo governo Lula como Dirceu e Antonio Palocci estiveram para o primeiro. Lula cada vez mais delega a Dilma tarefas que antes lhe tomavam parte do tempo e o aborreciam. Ela ganhou tão rápido a confiança dele que os dois já conversaram sobre um tema a respeito do qual Lula só fala generalidades: a sucessão de 2010.
De público, Lula insiste na tese de que os partidos da base de apoio ao governo devem se unir em torno de um único candidato à próxima eleição presidencial. Se houver mais de um, assistirá de camarote ao primeiro turno da eleição. E em um eventual segundo turno, aí, sim, subirá no palanque daquele que prometer dar continuidade ao seu governo.
Lula fala sério. E também fala sério quando diz que o candidato único pode sair ou não do PT. Virou uma espécie de entidade que sobrepaira os partidos. Dá corda no governador mineiro Aécio Neves para que troque o PSDB pelo PMDB. Enxerga nele um nome capaz de substitui-lo. Sabe, contudo, que Aécio deverá permanecer no PSDB. E então?
Então Lula se inclina a ir com Dilma. Há por aí uma onda favorável à eleição de mulheres para cargos políticos relevantes. Lula está atento a isso. O presidente do Chile é uma mulher. O futuro presidente da Argentina será uma mulher. Hillary Clinton é forte candidata a presidente dos Estados Unidos.
Pela primeira vez na sua história, a Câmara dos Deputados nos Estados Unidos é presidida por uma mulher. Aqui, em 2002, a então governadora do Maranhão Roseana Sarney quase empatou com Lula nas pesquisas quando era aspirante a candidata. Derrapou ao se descobrir dinheiro de origem desconhecida guardado no cofre da empresa do marido.
Marta “Relaxa e goza” Suplicy? Esqueça. Ela tem vôo político próprio. Lula não a vê como sucessora dele. Que vá concorrer ao governo de São Paulo. Jacques Wagner, governador da Bahia? Ainda “não aconteceu”, digamos assim. O governo dele, meu rei, anda meio devagar. Tarso Genro, ministro da Justiça? Enfrenta sérias resistências no PT.
O PMDB prefere se dividir entre vários candidatos para governar depois com quem vencer.
O PSB tem Ciro Gomes, que o PT não engole. Anote aí: se o Programa de Aceleração do Crescimento for um sucesso, Dilma contará com o patrocínio de Lula para ser candidata. Ela tem uma vantagem a mais: caso se eleja, topa governar apenas um mandato.
É o que Lula confidencia ter ouvido dela um dia desses durante uma longa conversa a sós. Acreditou e gostou muito do que ouviu.

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