sábado, 20 de outubro de 2007

Meu dia do perdão

Escolhi o dia 2 de outubro como o dia do perdão. Do meu perdão a todos.
.
O cristianismo, pela via popular, nos ensina que errar é humano e perdoar, divino. Devemos perdoar para ser perdoados. A humanidade, recusando-se a perdoar, põe-se em risco.
.
Portanto, decidi resolver algumas antigas pendências, perdoando de coração aberto e de modo incondicional a todos aqueles que de algum modo me prejudicaram (e certamente não só a mim).Perdôo.
.
Perdôo todos os governantes e políticos brasileiros que, ao longo das últimas quatro décadas, enriqueceram-se por meio da corrupção, corrompendo e corrompendo-se.
.
Perdôo Collor, Sarney, ACM, FHC, Lula, José Dirceu, e a quem desejar entrar nesta lista, pelo que fizeram ou deixaram de fazer, pelo que viram e sobretudo pelo que não viram.
.
Perdôo aquela professora que, eu garoto, me puniu por ter escrito “irmães”, quase matando um futuro escritor capaz de entrever as três mães adicionais nas suas três irmãs mais novas.
.
Perdôo o médico cardiologista que me receitou antidepressivos sem necessidade. Minha “depressão” resolveu-se quando joguei os remédios pela janela e assumi as batidas do meu coração.
.
Perdôo o padre a quem fui confessar meus pecados e depois contou meus pecados a outras pessoas. Fui buscar o perdão e saí tosquiado.Perdôo a quem não me perdoou.
.
Perdôo os alunos que não entenderam a disciplina que eu não soube ministrar com melhor didática.
.
Perdôo os banqueiros e seus juros, os engraxates e suas escovas, os garçons e suas bandejas, os taxistas e seus cintos de segurança, os guardas de trânsito e suas multas, os burocratas e seus carimbos, os advogados e suas leis, as prostitutas e seus olhares, os editores e seus prazos, os livreiros e suas estantes, os síndicos e suas manias.
.
Perdôo os animais que me hostilizaram, as árvores que não me deram frutos, as máquinas que emperraram quando eu mais precisava delas, os pratos e copos que se quebraram em pedaços.
.
Perdôo o frio excessivo, o calor inclemente, a chuva e suas enchentes, a poluição de todos os gêneros, os resfriados, as viroses.
.
Meu perdão é universal, sem fronteiras e sem ideologia. Perdôo Bush e Fidel, Steven Spielberg e Bill Gates, Bento XVI e Dalai Lama, Bin Laden e Marcola.
.
Tanto perdão concedido, fui dormir em paz. Certamente também Deus, em sua infinita misericórdia, me perdoará esta crônica.
.
Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.
.
Publicado originalmente neste Blog no dia dezoito de outubro de 2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Collor, Sarney, ACM, FHC, Lula, José Dirceu cadeira elétrica pra eles