quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Artigo

30/08/2006
A oposição estudou, mas só as matérias que não caem na prova
Alon Feuerwerker

Nunca vou me esquecer daquele primeiro turno na eleição presidencial de 1989. Já de noite, passei pelo colega que redigia o texto para o jornal (Folha de S.Paulo) cravar a passagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao segundo turno, em lugar do até então provável Leonel Brizola (PDT). O experiente repórter parecia bem preocupado, olhando alternadamente para o seu terminal e para os lados.

A pesquisa do Datafolha permitia dizer que Lula acabaria a apuração na frente de Brizola. Mas o jornalista estava -compreensivelmente- alarmado com a possibilidade de protagonizar uma "barriga". Sabe como é, as pesquisas têm o chamado "intervalo de confiança", para o qual quase ninguém liga.

Vai que bem daquela vez o levantamento caísse nos 5% dos casos em que o resultado estoura a margem de erro. O sujeito e o jornal iam passar o resto da vida se explicando.

A História conta que o jornal cravou (sozinho) e acertou. Saberia-se depois que havia sido um episódio fundador da moderna democracia brasileira. O punhado de votos que levou Lula a ultrapassar Brizola e ir ao segundo turno contra Fernando Collor acabaria definindo o cenário das disputas político-eleitorais nas duas décadas seguintes. Às vezes a gente se esquece, mas, mantidas as regras do jogo, 2010 será a primeira eleição presidencial sem Lula.

Aliás, as sucessões presidenciais brasileiras desde a redemocratização só tiveram dois candidatos realmente competitivos: Lula e o anti-Lula. O segundo personagem foi interpretado por mais de um ator, enquanto o primeiro ator interpretou mais de um personagem. Começou como um radical, que recusou o apoio de Ulysses Guimarães no segundo turno de 1989, e chegou a 2002 como um moderado, da Carta aos Brasileiros e das alianças sem limites definidos.

O Lula de 2002 e dos anos seguintes (quando ficou claro que a Carta aos Brasileiros era para valer) exorcizou e liquidou o personagem anti-Lula. Acho que a oposição nunca compreendeu isso, ainda que todos os elementos a partir de 2003 tenham reforçado essa nova realidade. Diferentemente daquelas peças teatrais que ficam décadas em cartaz com o mesmo enredo e vários atores revezando-se nos papéis, agora era o enredo que tinha mudado.

Um dos problemas do PSDB e do PFL é se oferecerem como candidatos a um papel que já foi excluído do enredo da peça. Se no passado o anti-Lula era embalado e nutrido por medo do radicalismo (real ou imaginário, tanto faz) do PT e de seu principal líder, hoje o antilulismo acabou se reduzindo a uma caricatura de si mesmo. O que se apresentava antes como resistência a uma possível ditadura de esquerda, hoje não consegue escapar da armadilha de ser visto apenas como expressão de elitismo.

Caro leitor, não não se zangue nem perca o seu precioso tempo discutindo a materialidade dessas idéias, sua conexão com a realidade estrita. Não é dela que trata este texto, mas do plano imaginário -que numa eleição é o que vale. A oposição brasileira está na situação do estudante que se preparou erradamente para o vestibular. Empenhou-se ao máximo, estudou bastante, mas estudou as matérias erradas. Sabe muito, mas sobre assuntos que não vão cair na prova.

A oposição achou que voltaria ao poder surfando na rejeição a um Lula ferido pelos sucessivos escândalos da crise política. Descuidou de construir um programa alternativo para o país e uma aliança política verdadeiramente nacional. No Brasil, quando se usa a palavra "nacional", ela necessariamente precisa incluir duas categorias: os pobres e o Nordeste. A oposição apostou num messianismo às avessas, com base nas classes médias do sul e do sudeste. Nem aritmeticamente faz sentido.

Fonte Blog do Noblat

Um comentário:

Anônimo disse...

Oieee!!
td bm??
legal seu blog gostei!
eu sou amia do Gian.. e a pedido dle estou passando aki.. hehe.. kra cs ja gostam d posta texto neh! x) n cança n?! xP..
hehe.. + ta massa..
vlw ai..
td d bom p ti!
bjux
;***