quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Lula na crista da onda

O PIB brasileiro e a popularidade do presidente Lula estão nas alturas.

Ricardo Stuckert/Presidência da República

O Brasil cresceu 6% no primeiro semestre do ano e Lula atingiu um recorde histórico e absoluto de popularidade. Segundo o Datafolha, 64% dos eleitores apóiam seu governo. A distância é enorme em relação ao seu piso de aprovação (28%) no auge do escândalo do mensalão, em 2005.

Além de altos, os dois indicadores têm qualidade.

No caso da popularidade do presidente, pela primeira vez em seus quase seis anos de mandato Lula tem o apoio da maioria em todos os segmentos sócio-econômicos e geográficos do país. Até a última pesquisa, de março, faltava ao presidente a aprovação da maioria nas regiões metropolitanas, no Sudeste, entre os mais ricos e os mais escolarizados. Agora, Lula ultrapassou os limites dessas últimas trincheiras.

No caso da economia, o PIB veio equilibrado e promissor, com uma participação recorde dos investimentos produtivos no conjunto do crescimento do país. Os investimentos crescem há 18 trimestres seguidos e ajudarão, no médio prazo, a suprir o mercado doméstico com bens e serviços sem grande pressão inflacionária. Mercado doméstico que cresce sem parar também há 19 trimestres seguidos, com forte influência do consumo das famílias.

Mais consumo e dinheiro no bolso tendem a ser traduzidos em bem estar, que desemboca na aprovação do governo e na felicidade geral da nação. Lula tem todos os motivos para comemorar. Mas, olhando para frente, o cenário não tende a ser tão róseo.

O resto de 2008 e 2009 devem ser marcados por um estrangulamento cada vez maior da oferta de crédito para as empresas continuarem investindo. Em menor intensidade, o mesmo deve ocorrer na área de financiamentos ao consumo.

Por conta da crise internacional e do temor de novos calotes, as captações externas das empresas brasileiras já diminuíram 50% nos sete primeiros meses do ano, retirando R$ 14 bilhões em financiamentos ao setor produtivo em relação a 2007. Na semana passada, por exemplo, a Light e a Oi foram obrigadas a desistir de captar quase R$ 4 bilhões diante das condições adversas do mercado.

Já no mercado de ações, enquanto nos primeiros sete meses de 2007 foram registradas 49 operações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para captação de recursos, neste ano foram apenas oito.

A saída para as empresas foi recorrer mais ao sistema bancário local, que emprestou R$ 62 bilhões (10%) a mais para pessoas jurídicas nos primeiros sete meses do ano na comparação com igual período de 2007. Com os juros em alta e a expectativa de desaceleração na economia, esse ímpeto tende a diminuir.

Em relação ao crédito para o consumo, é preciso levar em conta que ele tem crescido, em volume, a uma velocidade mais de três vezes superior ao aumento da massa salarial real. Isso, obviamente, não pode se dar infinitamente sem que haja um aumento na inadimplência.

O fato é que, por enquanto, o Brasil e Lula estão na crista da onda. Mas, ainda que suavemente, ela começou quebrar.

Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.

E-mail: fcanzian@folhasp.com.br
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