quarta-feira, 28 de maio de 2008

Haverá algum futuro?

No final do ano passado, o homem mais rico do mundo, o mega-investidor Warren Buffett, em entrevista à rede TV norte-americana Fox, quebrou o mistério sobre certa moeda que vinha adquirindo: era O Real. O também especulador George Soros anunciou recentemente um investimento de quase US$ 1 bilhão em biocombustíveis. Neste ano, a entrada da BP, a gigantesca empresa petrolífera inglesa, no mercado brasileiro de etanol e a compra de 100% dos ativos da Esso no País pelo grupo nacional Cosan são amostras da consolidação do Brasil como potência energética. O gigante está acordando, ressaltou matéria até certo ponto laudatória do jornal britânico The Guardian.

A Revista Veja desta semana traz interessante reportagem onde mostra a medida dos avanços e dos abismos nacionais. São iniciativas que fazem o País tatear o hemisfério norte e outras que alimentam os atoleiros históricos que nos mantêm no quinto-mundo. Realidades que se digladiam como a convivência da nossa incapacidade na geração de conhecimento com a competência para extrair petróleo de águas profundas. Ao todo Veja relacionou 50 situações de contraste entre o País que funciona e aquele irremediavelmente ordinário e tabaréu.

Durante o processo de abertura política, tínhamos a certeza de que a democracia faria o Brasil grande depois da frustração que se seguiu à derrocada do milagre brasileiro dos militares. Seis planos econômicos e três diferentes moedas depois aprendemos que só o regime de liberdade não seria suficiente para dar conta do recado. Quem viveu aquela época reconhece o valor do patrimônio social que representa o controle inflacionário. A verdade é que o Real nos devolveu a esperança. Tanto que a manutenção da estabilidade econômica conferiu, em situações diferenciadas, 16 anos de governo para dois presidentes e se tornou o combustível da popularidade de Lula.

O Brasil tem pelo menos quatro reservas de futuro extraordinárias: a capacidade de produção de alimentos, a Amazônia, os biocombustíveis e o petróleo. Com todo esse potencial pode se tornar um País influente caso, a partir de planejamento estratégico, se desfaça dos anacronismos. O primeiro deles é o modelo de Estado em vigor. Extremamente pródigo, de incomensurável voracidade fiscal, descuidado do dever de efetividade e infiltrado pela corrupção, o paradigma de governança do País é uma bola de ferro nos pés do gigante que quer se mover.

O Brasil não vai a lugar algum caso não se decida pela de disciplina. É absolutamente incompatível com a idéia de primeiro-mundo a permanência de cultura da transgressão. Para lembrar o filósofo Delúbio Soares, existe um país não-contabilizado que opera verticalmente em todas as escalas sociais a regra da ilegalidade. O País que trata como matéria de entretenimento a morte de uma criança atirada pela janela é o mesmo que não se afeta pelos 50 mil homicídios, 35 mil acidentes fatais de transporte e um número indefinido de abortos ilegais por ano. Falar de controle de natalidade é pecado. Por outro lado, perfeitamente plausível fazer a seleção das espécies a marretadas.

O País precisa criar condição de infra-estrutura para sustentar o crescimento, fazer as reformas nos sistemas tributário, trabalhista e previdenciário, suprir inúmeras deficiências de regulação e instituir um modelo educacional definitivo assentado no conceito de escola em tempo integral. Sem desenvolvimento e tecnologia não vamos sair da condição de dependência. Apesar do extraordinário momento econômico não vejo iniciativas consagradoras neste sentido. Haverá futuro promissor? A resposta se mantém afirmativa caso consigamos fazer um País menos bandido. O crime ainda é a saúva do Brasil.


Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO).
COMENTÁRIO DO FÁBIO:
"Fábio disse...
Infraestrutura: Por que não fizeram alguma coisa enquanto estavam no puder?
Reforma tributária: Gera perda de arrecadação para os estados e municípios, então não interessa.
Trabalhista: Só se for pro pessoal trabalhar 50 horas por semana e livre negociação (aceitar as condições impostas pelo patrão ou rua)
Previdenciária: primeiramente acabar com as aposentadorias gordas para políticos, um mínimo já está bom.
Deficiências de regulação: Mas não tem que diminuir o tamanho do estado?
Escola em tempo integral: Mas não era melhor oferecer a excelência nos serviços prestados nas 4 horas diárias e dar valor aos professores que são os únicos que estão fazendo algo que vai mudar este pais?
Tecnologia: Mas o pais gosta mesmo é de commodities. Não vê iniciativa e nem vai ver, o que fala não reflete nas suas ações Senador Procurador."

Um comentário:

Anônimo disse...

Infraestrutura: Por que não fizeram alguma coisa enquanto estavam no puder?
Reforma tributária: Gera perda de arrecadação para os estados e municípios, então não interessa.
Trabalhista: Só se for pro pessoal trabalhar 50 horas por semana e livre negociação (aceitar as condições impostas pelo patrão ou rua)
Previdenciária: primeiramente acabar com as aposentadorias gordas para políticos, um mínimo já está bom.
Deficiências de regulação: Mas não tem que diminuir o tamanho do estado?
Escola em tempo integral: Mas não era melhor oferecer a excelência nos serviços prestados nas 4 horas diárias e dar valor aos professores que são os únicos que estão fazendo algo que vai mudar este pais?
Tecnologia: Mas o pais gosta mesmo é de commodities.
Não vê iniciativa e nem vai ver, o que fala não reflete nas suas ações Senador Procurador.