sábado, 4 de junho de 2011

Explicar coisa nenhuma

Começo a achar engraçada a fraseologia que acompanha os escândalos da República, de que é exemplo perfeito e acabado o caso Palocci.



Só se fala em “explicações”. Palocci deve “explicações”, “precisa explicar” o seu enriquecimento etc.



Para mim, isso tem muito jeito de eufemismo.



Se ele tivesse “explicações”, já teria dado.



Argumenta que “não pode” explicar porque os seus contratos de consultoria tinham cláusula de “confidencialidade”.



Ou seja, foram feitos de modo a não permitir “explicações”.



O ministro não tem que explicar nada. Tem de se demitir. Tinham aliás, de demiti-lo, desde o começo.



Em todo caso, é sempre possível “explicar” o enriquecimento pelo sistema, universalmente adotado, das “palestras”.



Palocci poderia ter proferido palestras de inegável interesse. Algumas sugestões.



Para a associação dos síndicos do Jardim Paulista: “Opções estratégicas no momento de escolher zeladores e porteiros. Relato de uma experiência”.



Para a escola de aperfeiçoamento dos nutricionistas da rede pública: “Um toque de verde. Vantagem do molho de tomate com ervilha na merenda escolar.”



Para a associação Médicos em Prol da Reforma Tributária: “Dinheiro limpo: como evitar a contaminação bacteriológica ao receber remuneração sem recibo”.



Para o centro de memória do PT: “Do trotskismo à picaretagem: relato de uma trajetória de sucesso”.



Pague-se um milhão por palestra desse tipo, e tudo estará explicado.


Observação: não estou cobrando nada por estas sugestões. É consultoria grátis.

Marcelo Coelho

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