A música de Noel Rosa se encaixa quase como uma luva no atual momento da pré-candidata petista, Dilma Rousseff. A canção do nosso célebre sambista decretava algo que os aliados e assessores da ex-ministra têm buscado fazer com a hoje candidata: "Agora vou mudar minha conduta, eu vou pra luta, pois eu quero me arrumar". Algo que eles querem que Dilma faça em todos os sentidos, do discurso até seu figurino. Isso mesmo, a equipe da ex-ministra anda implicando até com a roupa que Dilma usa nas suas peregrinações pelo país. Incluindo aí o presidente Lula, que já aconselhou sua preferida a mudar o guarda-roupa.
A frase seguinte da canção de Noel Rosa, porém, é um dilema para alguns dilmistas. Tem gente com saudades da velha Dilma e defendendo que ela siga o que diz a letra do sambista: "Vou tratar você com força bruta, pra poder me reabilitar", na busca de voltar a crescer nas pesquisas de intenção de voto. Claro que não se trata de seguir literalmente a recomendação de Noel, de que Dilma deve partir para a força bruta, mas que volte a ser aquela ministra sempre aguerrida, pronta para qualquer debate.
Lembro de uma conversa com uma amiga da então ministra, logo depois do apagão ocorrido no ano passado. Na ocasião, a primeira recomendação da equipe presidencial foi de que Dilma Rousseff fosse poupada do debate, não ocupasse o papel que ela sempre desempenhou no governo Lula. De sair em defesa do presidente Lula, de rebater as críticas de forma dura, de atacar a oposição que buscava tirar proveito do apagão.
Deu errado. A oposição acusou o governo de tentar esconder a ministra-candidata. Em seguida, ela apareceu defendendo a administração de seu presidente, no tom usual. A amiga, naquela conversa, lembrou que aquela era a Dilma verdadeira, que não adiantava tentar inventar uma nova. Não iria funcionar, disse a confidente da ex-ministra.
Hoje, a missão dos estrategistas da pré-candidata petista é fazer um equilíbrio entre esses dois polos. Suavizar um pouco a imagem de Dilma, sem no entanto tirar a sua essência, de mulher forte, que comanda com mão de ferro. O problema é que, na visão da equipe da petista, ela não tem conseguido, por enquanto, conquistar o voto das mulheres exatamente por conta daquele velho estilo. No entanto, se dele se distancia, perde a originalidade e passa a imagem de algo superficial.
Em outras palavras, Dilma e sua equipe deveriam, diríamos assim, repassar a Lula a pergunta lançada por Noel Rosa na sua canção: "Com que roupa/que eu vou/pro samba que você me convidou?"
Criador e mentor da candidata, o presidente Lula, pelo visto, tem respondido que tudo isso deve ser analisado, que ela deve realmente mudar o figurino, ajustar seu discurso, falar mais diretamente, mas não há com o que se preocupar. Quando ele entrar de fato na campanha, depois da Copa do Mundo, e aparecer nos programas de TV de Dilma, tudo vai mudar. Lula fala com uma convicção de quem acredita na vitória. De quem terá o poder, com sua elevada popularidade, de virar o jogo e fazer sua sucessora.
O fato é que, pelo que tem falado nos bastidores, o presidente se envolverá de uma forma nunca antes vista na história desse país na campanha eleitoral, para usar uma expressão lulista. Se Dilma perder, não terá sido somente ela a derrotada. O presidente perderá junto. Aí, se por um lado os números da economia e das políticas sociais lhe darão o que comemorar, por outro Lula terá de terminar seu mandato com um gosto amargo de derrota na boca. A conferir.
Valdo Cruz, 48 anos, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal. Escreve às terças.
A frase seguinte da canção de Noel Rosa, porém, é um dilema para alguns dilmistas. Tem gente com saudades da velha Dilma e defendendo que ela siga o que diz a letra do sambista: "Vou tratar você com força bruta, pra poder me reabilitar", na busca de voltar a crescer nas pesquisas de intenção de voto. Claro que não se trata de seguir literalmente a recomendação de Noel, de que Dilma deve partir para a força bruta, mas que volte a ser aquela ministra sempre aguerrida, pronta para qualquer debate.
Lembro de uma conversa com uma amiga da então ministra, logo depois do apagão ocorrido no ano passado. Na ocasião, a primeira recomendação da equipe presidencial foi de que Dilma Rousseff fosse poupada do debate, não ocupasse o papel que ela sempre desempenhou no governo Lula. De sair em defesa do presidente Lula, de rebater as críticas de forma dura, de atacar a oposição que buscava tirar proveito do apagão.
Deu errado. A oposição acusou o governo de tentar esconder a ministra-candidata. Em seguida, ela apareceu defendendo a administração de seu presidente, no tom usual. A amiga, naquela conversa, lembrou que aquela era a Dilma verdadeira, que não adiantava tentar inventar uma nova. Não iria funcionar, disse a confidente da ex-ministra.
Hoje, a missão dos estrategistas da pré-candidata petista é fazer um equilíbrio entre esses dois polos. Suavizar um pouco a imagem de Dilma, sem no entanto tirar a sua essência, de mulher forte, que comanda com mão de ferro. O problema é que, na visão da equipe da petista, ela não tem conseguido, por enquanto, conquistar o voto das mulheres exatamente por conta daquele velho estilo. No entanto, se dele se distancia, perde a originalidade e passa a imagem de algo superficial.
Em outras palavras, Dilma e sua equipe deveriam, diríamos assim, repassar a Lula a pergunta lançada por Noel Rosa na sua canção: "Com que roupa/que eu vou/pro samba que você me convidou?"
Criador e mentor da candidata, o presidente Lula, pelo visto, tem respondido que tudo isso deve ser analisado, que ela deve realmente mudar o figurino, ajustar seu discurso, falar mais diretamente, mas não há com o que se preocupar. Quando ele entrar de fato na campanha, depois da Copa do Mundo, e aparecer nos programas de TV de Dilma, tudo vai mudar. Lula fala com uma convicção de quem acredita na vitória. De quem terá o poder, com sua elevada popularidade, de virar o jogo e fazer sua sucessora.
O fato é que, pelo que tem falado nos bastidores, o presidente se envolverá de uma forma nunca antes vista na história desse país na campanha eleitoral, para usar uma expressão lulista. Se Dilma perder, não terá sido somente ela a derrotada. O presidente perderá junto. Aí, se por um lado os números da economia e das políticas sociais lhe darão o que comemorar, por outro Lula terá de terminar seu mandato com um gosto amargo de derrota na boca. A conferir.
Valdo Cruz, 48 anos, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal. Escreve às terças.
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