Uma vez imaginei como seria uma quarentena num motel. O motel é fechado por alguma razão. Justamente naquela hora - fim de tarde, numa sexta-feira - em que, em todo o mundo, a freqüência nos motéis é mais alta. Ninguém pode entrar e, pior, ninguém pode sair.
- Como, não posso sair? O que eu vou dizer para a minha mulher?
Quarenta minutos de atraso para chegar em casa a gente explica, quatro horas a gente explica...Mas quarenta dias?!
- E eu que disse pro meu marido que eu só ia fazer os pés?
As cenas de desespero se repetem. Todos recorrem ao celular.
- Alo, meu bem? Olha, estou numa reunião importantíssima. Ninguém sabe quando vai terminar. Faz o seguinte: deixa comida pra mim na geladeira. Bastante comida.
- Alo, querido? Você não sabe o que me aconteceu. A mão da pedicure escapou e ela me cortou um dedo. Não, eu ainda tenho o dedo, mas o corte foi fundo. Tive que vir para o hospital e... Não, não adianta você vir pra cá. Só vou ficar mais um pouquinho porque ainda estou meio fraca.
A recomendação é que todos fiquem em seus quartos. O motel fornecerá refeições, todo o equipamento dos quartos, como a cama giratória, a luz negra e a banheira com centrifuga, continuarão funcionando normalmente e a programação do circuito interno de TV continuará a mesma. Mas aos poucos as pessoas começam a sair dos seus quartos e perambular pelos corredores. Há encontros inesperados.
- Epa, você por aqui?
Todos se visitam e comentam a decoração dos quartos.
- O nosso não tem essa poltrona com vibrador...
E surgem os boatos.
- Sabem quem está na suíte 12?
Com o tempo se estabelece uma rotina. Reúnem-se na Suíte Afrodite, a maior de todas, para bater papo e olhar a televisão. Sentem falta de um baralho, mas quem leva baralho para um motel?
- Meu bem? Olha, o hospital quer que eu fique mais um pouco. Para evitar a gangrena. O que? Você está ouvindo gemidos?
Ela faz um gesto para alguém baixar o volume da televisão.
- Aqui é um hospital, né amor? Só se ouve gemidos.
No vigésimo dia uma comissão procura a gerência do motel para fazer uma reclamação. A TV interna não tem outros filmes, não? Ninguém agüenta mais o filme das lésbicas com o encanador, ou da loira e o garanhão.
- Não tem "A noviça rebelde"?
- Como, não posso sair? O que eu vou dizer para a minha mulher?
Quarenta minutos de atraso para chegar em casa a gente explica, quatro horas a gente explica...Mas quarenta dias?!
- E eu que disse pro meu marido que eu só ia fazer os pés?
As cenas de desespero se repetem. Todos recorrem ao celular.
- Alo, meu bem? Olha, estou numa reunião importantíssima. Ninguém sabe quando vai terminar. Faz o seguinte: deixa comida pra mim na geladeira. Bastante comida.
- Alo, querido? Você não sabe o que me aconteceu. A mão da pedicure escapou e ela me cortou um dedo. Não, eu ainda tenho o dedo, mas o corte foi fundo. Tive que vir para o hospital e... Não, não adianta você vir pra cá. Só vou ficar mais um pouquinho porque ainda estou meio fraca.
A recomendação é que todos fiquem em seus quartos. O motel fornecerá refeições, todo o equipamento dos quartos, como a cama giratória, a luz negra e a banheira com centrifuga, continuarão funcionando normalmente e a programação do circuito interno de TV continuará a mesma. Mas aos poucos as pessoas começam a sair dos seus quartos e perambular pelos corredores. Há encontros inesperados.
- Epa, você por aqui?
Todos se visitam e comentam a decoração dos quartos.
- O nosso não tem essa poltrona com vibrador...
E surgem os boatos.
- Sabem quem está na suíte 12?
Com o tempo se estabelece uma rotina. Reúnem-se na Suíte Afrodite, a maior de todas, para bater papo e olhar a televisão. Sentem falta de um baralho, mas quem leva baralho para um motel?
- Meu bem? Olha, o hospital quer que eu fique mais um pouco. Para evitar a gangrena. O que? Você está ouvindo gemidos?
Ela faz um gesto para alguém baixar o volume da televisão.
- Aqui é um hospital, né amor? Só se ouve gemidos.
No vigésimo dia uma comissão procura a gerência do motel para fazer uma reclamação. A TV interna não tem outros filmes, não? Ninguém agüenta mais o filme das lésbicas com o encanador, ou da loira e o garanhão.
- Não tem "A noviça rebelde"?
Luis Fernando Veríssimo
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