Luiz Carlos Prates
Por que sofremos? Sim, eu sei, há sempre uma causa antecedente a justificar o conseqüente, isto é, um erro vai produzir mais tarde um resultado consentâneo, adequado. Entende-se. Mas como explicar o sofrimento de um recém-nascido, de um serzinho que ainda não fez nada de errado, senão, talvez, nascer? Por favor, não me cite credos religiosos. Tens razão, leitor, este é um assunto longo, daqueles para um fim de tarde sem pressa... Então, vamos encurtar a conversa, vamos levá-la aos adultos.
Se não podemos explicar por métodos racionais o sofrimento dos inocentes, discutamos o sofrimento dos não tão inocentes, nós. Vivo dizendo aqui, bah, fico chateado de precisar repetir isso, que temos que imperiosamente casar por amor com a nossa atividade profissional. É um pobre bobo da corte da vida quem faz o de que não gosta, quem trabalha só pelo dinheiro. Não incluo nessa lista os bem pobres, os que não estudaram, os que ainda estão perdidos nas ignorâncias do saber e nas competências do fazer, não, esses estão fora do assunto. Mas o que dizer de gente metida a boa e que se mete em concursos públicos só para amarrar o burro da vida na sombra das sinecuras, heim, o que dizer? O que dizer de um sujeito jovem, cheio de vida e possibilidades que faz concurso público e mente que o faz por vocação, mas que na verdade é um atoleimado sem coragem para lutar por seus sonhos? O que digo, leitora, tem assento numa reportagem do telejornal Hoje, da Globo.
Era uma reportagem sobre trabalho e infelicidade. Credo, há quanto tempo falo disso por aqui? Disseram os repórteres da Globo que trabalhar só por dinheiro, trabalhar no de que não se gosta, leva a pessoa a ter doenças e neuroses de todo tipo, leva à depressão. Faz todo sentido. Mas vá dizer isso aos milhões de jovens sem ânimo que todos os anos fazem vestibular para cursos da moda, entram em concursos só pela estabilidade... Será que esse pessoal não se dá conta de que vai passar as melhores horas do dia, dos melhores anos da vida, num ambiente de trabalho frustrante?
A depressão que anda derrubando multidões não é a clínica, a endógena, a biológica, a que vem de dentro. A depressão que anda derrubando pessoas é a que vem de fora, a exógena, a social, a que resulta do relacionamento da pessoa consigo mesma e com os outros. Essa não tem cura medicamentosa, só tem cura com a mudança de valores na vida, com boa auto-estima, com um trabalho prazeroso. É muito fácil ser feliz, basta ser sincero consigo mesmo e trabalhar com prazer.
Felicidade
A felicidade a qualquer preço parece ser a idéia que incendeia o mundo. E o leva às doenças e às máximas frustrações. Felicidade é como o amor, não se procura, se acha, aparece.
E vai aparecer mais naturalmente quanto mais naturalmente vivermos. Quem coloca a felicidade fora de si, num bem ou em alguém, nunca será feliz.
Falta dizer
Quem está no "desvio", isto é, sem trabalho, tem agora boa chance de colocar-se no mercado dos empregos temporários.
Coisa de poucos meses mas que pode se tornar uma efetivação. Vai depender das qualidades profissionais e morais do empregado.
Os empregadores andam ávidos de gente competente e moralmente sadia. Gente rara.
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