O presidente Lula chamou de “babacas” os “estudantes ricos” que se opõem ao ProUni (Programa Universidade para Todos), do MEC, iniciativa que considera simplesmente “revolucionária”.
Não é preciso recorrer a nenhuma autoridade acadêmica de plantão para rebater o argumento presidencial, expresso, diga-se, em linguagem incompatível com o cargo que exerce.
Tiago Cherdo, Um estudante de 23 anos, coordenador do Diretório Central dos Estudantes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), resumiu o drama em poucas e claras palavras.
Disse ele: "O problema é que, ao invés de investir no ensino básico e fazer com que o estudante da rede pública tenha como concorrer com o da rede particular, o governo criou o ProUni como prêmio de consolação para as pessoas menos abastadas. Não sei que revolução na educação é essa que ele diz fazer."
De fato, não há nada menos revolucionário que o tal programa. Se o ensino superior privado é, no geral, ruim, o que o governo faz, com o Pro-Uni, é garantir repasses milionários a esses maus empresários do ensino. O aluno pobre terá ensino pobre e de má qualidade e terá menos chances que seus colegas de universidades públicas, quando tiver que enfrentar o mercado de trabalho.
Em compensação, as universidades privadas ruins estarão cada vez mais ricas. É fácil ser capitalista assim.
O lógico é o que diz acima o “estudante rico”: que o Estado invista no ensino básico gratuito, como o faz no ensino superior, e garanta igualdade de oportunidades aos estudantes pobres e ricos. O dinheiro gasto nos repasses do Pro-Uni deveriam ser revertidos à melhoria do ensino básico. A médio prazo, as portas da universidade pública estariam abertas aos mais carentes.
O que temos hoje é a preservação de antigo paradoxo: os estudantes ricos, que podem pagar, cursam de graça as universidades públicas, enquanto os estudantes pobres, que não podem pagar, ou deixam de estudar ou se submetem a financiamentos ou programas como o Pro-Uni, que os remetem a universidades privadas ruins e caras, sem qualquer credibilidade no mercado de trabalho.
Em suma, o rico estuda de graça e recebe conhecimento de primeira, pago com os impostos do contribuinte, enquanto o pobre paga caro por um ensino ruim, que o manterá pobre quando chegar ao mercado de trabalho.
Alguém já se deu o trabalho de observar os pátios de estacionamento das universidades federais em todo o Brasil, recheados de carros importados? Pois é: aquilo vale mais que mil palavras para definir a realidade educacional brasileira. Mas tal paradoxo não se resolve com decretos, medidas provisórias, cotas raciais ou sociais ou ainda discursos recheados de palavrões.
A reversão desse quadro implica ir à raiz da questão. O ensino privado básico é caro e bom. Só o “rico” (isto é, alguém da classe média remediada para cima) pode fazer frente a tal despesa, que o credenciará aos vestibulares para as universidades públicas.
O ensino básico público é ruim, o que remete sua vítima ao ensino superior privado, generoso em seus vestibulares, pois tem compromisso com a quantidade e não com a qualidade.
Os altos índices de reprovação no Exame de Ordem da OAB – que em alguns casos ultrapassam os 80% -, quando decantados, evidenciam esse desnível entre ensino superior público e privado. As faculdades de direito do Estado aprovam quase cem por cento dos seus bacharéis, enquanto com as particulares dá-se o exato oposto.
O saneamento da educação no Brasil começa pela reestruturação do ensino público básico, o que envolve uma série de ações, que começam pelo aprimoramento da mão-de-obra docente e melhoria das condições de trabalho. Isso, sim, será revolucionário.
O Pró-Uni, muito pelo contrário, é o que há de mais careta e antigo: o repasse de verba pública para a picaretagem privada. Uma babaquice, para ficar na linguagem predileta do presidente.
Ruy Fabiano é jornalista.
Não é preciso recorrer a nenhuma autoridade acadêmica de plantão para rebater o argumento presidencial, expresso, diga-se, em linguagem incompatível com o cargo que exerce.
Tiago Cherdo, Um estudante de 23 anos, coordenador do Diretório Central dos Estudantes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), resumiu o drama em poucas e claras palavras.
Disse ele: "O problema é que, ao invés de investir no ensino básico e fazer com que o estudante da rede pública tenha como concorrer com o da rede particular, o governo criou o ProUni como prêmio de consolação para as pessoas menos abastadas. Não sei que revolução na educação é essa que ele diz fazer."
De fato, não há nada menos revolucionário que o tal programa. Se o ensino superior privado é, no geral, ruim, o que o governo faz, com o Pro-Uni, é garantir repasses milionários a esses maus empresários do ensino. O aluno pobre terá ensino pobre e de má qualidade e terá menos chances que seus colegas de universidades públicas, quando tiver que enfrentar o mercado de trabalho.
Em compensação, as universidades privadas ruins estarão cada vez mais ricas. É fácil ser capitalista assim.
O lógico é o que diz acima o “estudante rico”: que o Estado invista no ensino básico gratuito, como o faz no ensino superior, e garanta igualdade de oportunidades aos estudantes pobres e ricos. O dinheiro gasto nos repasses do Pro-Uni deveriam ser revertidos à melhoria do ensino básico. A médio prazo, as portas da universidade pública estariam abertas aos mais carentes.
O que temos hoje é a preservação de antigo paradoxo: os estudantes ricos, que podem pagar, cursam de graça as universidades públicas, enquanto os estudantes pobres, que não podem pagar, ou deixam de estudar ou se submetem a financiamentos ou programas como o Pro-Uni, que os remetem a universidades privadas ruins e caras, sem qualquer credibilidade no mercado de trabalho.
Em suma, o rico estuda de graça e recebe conhecimento de primeira, pago com os impostos do contribuinte, enquanto o pobre paga caro por um ensino ruim, que o manterá pobre quando chegar ao mercado de trabalho.
Alguém já se deu o trabalho de observar os pátios de estacionamento das universidades federais em todo o Brasil, recheados de carros importados? Pois é: aquilo vale mais que mil palavras para definir a realidade educacional brasileira. Mas tal paradoxo não se resolve com decretos, medidas provisórias, cotas raciais ou sociais ou ainda discursos recheados de palavrões.
A reversão desse quadro implica ir à raiz da questão. O ensino privado básico é caro e bom. Só o “rico” (isto é, alguém da classe média remediada para cima) pode fazer frente a tal despesa, que o credenciará aos vestibulares para as universidades públicas.
O ensino básico público é ruim, o que remete sua vítima ao ensino superior privado, generoso em seus vestibulares, pois tem compromisso com a quantidade e não com a qualidade.
Os altos índices de reprovação no Exame de Ordem da OAB – que em alguns casos ultrapassam os 80% -, quando decantados, evidenciam esse desnível entre ensino superior público e privado. As faculdades de direito do Estado aprovam quase cem por cento dos seus bacharéis, enquanto com as particulares dá-se o exato oposto.
O saneamento da educação no Brasil começa pela reestruturação do ensino público básico, o que envolve uma série de ações, que começam pelo aprimoramento da mão-de-obra docente e melhoria das condições de trabalho. Isso, sim, será revolucionário.
O Pró-Uni, muito pelo contrário, é o que há de mais careta e antigo: o repasse de verba pública para a picaretagem privada. Uma babaquice, para ficar na linguagem predileta do presidente.
Ruy Fabiano é jornalista.
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