CPI DOS CORREIOS
O evangelho segundo Delcidio
Ninguém confirma ter ocorrido um comando do presidente Lula para colocar fim à CPI, mesmo ao custo de um relatório que jogava seus discípulos na jaula do leão. Mas também não há quem assegure o contrário.
Nelson Breve – Carta Maior
BRASÍLIA - O presidente da CPI dos Correios, Delcidio Amaral (PT-MS), levou apenas 24 horas para conseguir o que Judas Iscariotes precisou de quase 2 mil anos: propagar a versão de que traiu seus companheiros por orientação do líder superior. O comportamento do senador petista na condução da CPI, especialmente na sessão que aprovou o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), deve entrar para a lista dos mistérios indecifráveis do governo do governo Lula, tal como, desde a semana passada, a traição de Judas passou a compor o conjunto de mistérios do cristianismo, com a confirmação da autenticidade do manuscrito encontrado no Egito em 1978.De acordo com o documento, uma semana antes da celebração da Páscoa, Jesus teria dito ao discípulo Judas, em conversas secretas: “Afasta-te dos outros, e eu te direi os mistérios do reino. É-te possível alcançá-lo, mas sofrerás muito. Tu vais exceder todos os outros. Tu sacrificarás o homem que me abriga. Tu serás amaldiçoado pelas outras gerações e tu virás para reinar sobre elas”.Apontado como Judas pelos colegas de partido, Delcidio não se envergonha de ter atropelado o regimento para aprovar o relatório da CPI, que não responsabiliza diretamente o presidente Lula pelos ilícitos apontados, mas, insinua em linguagem rebuscada que só um imbecil não perceberia o que estava acontecendo a sua volta: “Em sede de responsabilidade subjetiva, não parece que havia dificuldade para que pudesse lobrigar a anormalidade com que a maioria parlamentar se forjava”.De acordo com o evangelho de Delcidio, os discípulos petistas que se indignaram durante a votação não compreenderam que a tentativa de alterar parte do parecer do relator colocaria em pauta a possibilidade de indiciamento do presidente Lula, com risco de aprovação. Essa avaliação tinha ressonância em alguns conselheiros palacianos. Para eles, não valeria a pena mexer no relatório de Serraglio, porque a versão de que não houve omissão do presidente havia prevalecido no noticiário da imprensa.Ninguém confirma ter ocorrido um comando do presidente para colocar fim à CPI, mesmo ao custo de um relatório que jogava seus discípulos na jaula do leão. Mas também não há quem assegure o contrário. Talvez porque exista predominância na avaliação de que Delcidio, filiado ao PT há menos de cinco anos, mais por conveniência do que por identidade, não teria capital político para bancar esse enfrentamento sem estar devidamente escorado. Pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, ele não teria como ascender politicamente sendo considerado um traidor do partido.No dia da votação final do relatório da CPI, Delcidio comentou em conversas reservadas que havia consultado seu “guru” pela manhã e recebeu dele a orientação para aprovar o parecer de Serraglio “de qualquer jeito”. Como o senador recebeu uma ligação do recém nomeado ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, naquela manhã, ficou no ar a suspeita de que poderia ter sido o porta-voz do comando.Tudo indica que não foi. Até porque Delcidio não poderia se escorar em um intermediário que acabava de se integrar à coordenação política do governo. Mas o senador petista está usando essa dúvida a seu favor. Em reunião com correligionários no fim de semana passado, em Campo Grande (MS), ele reafirmou que seu comportamento na CPI ajudou a preservar o presidente Lula. Com essa versão, ele espera herdar a base petista construída nas últimas duas décadas pelo governador Zeca do PT.A partir do resultado da CPI, reforçado pela denúncia do Ministério Público Federal contra vários ex-dirigentes petistas, o futuro de Delcidio no PT está atrelado à ascensão do presidente Lula a um segundo mandato. Se ele perder, Delcidio será malhado em praça pública pela militância petista em cada campanha eleitoral e cada Sábado de Aleluia. Se for reeleito, o senador poderá entrar para o livro sagrado dos heróis do lulismo. Tal como ocorreu com Judas, segundo o manuscrito que conta sua versão, Delcidio ergueu os olhos, viu a nuvem luminosa e entrou nela.
O evangelho segundo Delcidio
Ninguém confirma ter ocorrido um comando do presidente Lula para colocar fim à CPI, mesmo ao custo de um relatório que jogava seus discípulos na jaula do leão. Mas também não há quem assegure o contrário.
Nelson Breve – Carta Maior
BRASÍLIA - O presidente da CPI dos Correios, Delcidio Amaral (PT-MS), levou apenas 24 horas para conseguir o que Judas Iscariotes precisou de quase 2 mil anos: propagar a versão de que traiu seus companheiros por orientação do líder superior. O comportamento do senador petista na condução da CPI, especialmente na sessão que aprovou o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), deve entrar para a lista dos mistérios indecifráveis do governo do governo Lula, tal como, desde a semana passada, a traição de Judas passou a compor o conjunto de mistérios do cristianismo, com a confirmação da autenticidade do manuscrito encontrado no Egito em 1978.De acordo com o documento, uma semana antes da celebração da Páscoa, Jesus teria dito ao discípulo Judas, em conversas secretas: “Afasta-te dos outros, e eu te direi os mistérios do reino. É-te possível alcançá-lo, mas sofrerás muito. Tu vais exceder todos os outros. Tu sacrificarás o homem que me abriga. Tu serás amaldiçoado pelas outras gerações e tu virás para reinar sobre elas”.Apontado como Judas pelos colegas de partido, Delcidio não se envergonha de ter atropelado o regimento para aprovar o relatório da CPI, que não responsabiliza diretamente o presidente Lula pelos ilícitos apontados, mas, insinua em linguagem rebuscada que só um imbecil não perceberia o que estava acontecendo a sua volta: “Em sede de responsabilidade subjetiva, não parece que havia dificuldade para que pudesse lobrigar a anormalidade com que a maioria parlamentar se forjava”.De acordo com o evangelho de Delcidio, os discípulos petistas que se indignaram durante a votação não compreenderam que a tentativa de alterar parte do parecer do relator colocaria em pauta a possibilidade de indiciamento do presidente Lula, com risco de aprovação. Essa avaliação tinha ressonância em alguns conselheiros palacianos. Para eles, não valeria a pena mexer no relatório de Serraglio, porque a versão de que não houve omissão do presidente havia prevalecido no noticiário da imprensa.Ninguém confirma ter ocorrido um comando do presidente para colocar fim à CPI, mesmo ao custo de um relatório que jogava seus discípulos na jaula do leão. Mas também não há quem assegure o contrário. Talvez porque exista predominância na avaliação de que Delcidio, filiado ao PT há menos de cinco anos, mais por conveniência do que por identidade, não teria capital político para bancar esse enfrentamento sem estar devidamente escorado. Pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, ele não teria como ascender politicamente sendo considerado um traidor do partido.No dia da votação final do relatório da CPI, Delcidio comentou em conversas reservadas que havia consultado seu “guru” pela manhã e recebeu dele a orientação para aprovar o parecer de Serraglio “de qualquer jeito”. Como o senador recebeu uma ligação do recém nomeado ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, naquela manhã, ficou no ar a suspeita de que poderia ter sido o porta-voz do comando.Tudo indica que não foi. Até porque Delcidio não poderia se escorar em um intermediário que acabava de se integrar à coordenação política do governo. Mas o senador petista está usando essa dúvida a seu favor. Em reunião com correligionários no fim de semana passado, em Campo Grande (MS), ele reafirmou que seu comportamento na CPI ajudou a preservar o presidente Lula. Com essa versão, ele espera herdar a base petista construída nas últimas duas décadas pelo governador Zeca do PT.A partir do resultado da CPI, reforçado pela denúncia do Ministério Público Federal contra vários ex-dirigentes petistas, o futuro de Delcidio no PT está atrelado à ascensão do presidente Lula a um segundo mandato. Se ele perder, Delcidio será malhado em praça pública pela militância petista em cada campanha eleitoral e cada Sábado de Aleluia. Se for reeleito, o senador poderá entrar para o livro sagrado dos heróis do lulismo. Tal como ocorreu com Judas, segundo o manuscrito que conta sua versão, Delcidio ergueu os olhos, viu a nuvem luminosa e entrou nela.
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