sábado, 12 de outubro de 2013

O povo que se cuide

O povo que se cuide


              Nas eleições municipais de 2012, um candidato a prefeito, pelo PT, tinha como slogan: “Para cuidar do povo como Lula nos ensinou”. O triste é que o dito candidato se proclamava “marxista-leninista-trotskista”. Ora, o marxismo diz que a obra de libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.
         Nos primórdios do movimento socialista, havia um segmento liderado pelo revolucionário Auguste Blanqui, que propunha uma organização disciplinada, que teria a tarefa de “assaltar o poder” em favor das massas populares. Essa proposição blanquista foi posteriormente chamada de substituísta, uma vez que um grupo bem treinado poderia substituir as massas populares e promover a sua libertação.
            Em 1902/3, o revolucionário social democrata, Vladmir Lenine, propôs um modelo de partido que tinha feições acentuadamente blanquistas. A proposta leninista de partido defendia a existência de especialistas, treinados na arte de conspirar e enganar a repressão. Deveria funcionar de forma ultra centralizada e disciplinada, como convinha a uma organização paramilitar. Essa concepção de partido levou a que o Partido Operário Social Democrata russo sofresse um “racha”, dividindo-se em duas correntes políticas: os bolcheviques e os mencheviques.
          Mas não pararam por aí as discordâncias quanto à concepção de partido proposta por Lenine. Os mais destacados revolucionários, de então, se opuseram com veemência à tal proposição, incluindo-se dentre as figuras proeminentes do socialismo, Rosa Luxemburgo e Leon Trotski. Este último chegou a elaborar e publicar, em 1904, um ensaio sob o título Nossas Tarefas Políticas, em que denunciava o caráter substituísta do partido defendida pelos bolcheviques e alertava que, caso prosperasse aquele modelo partidário, um partido de experts, haveria de substituir as massas populares enquanto seu Comitê Central substituiria o próprio partido e, alguém “ungido”, “beatificado” haveria de substituir o próprio Comitê Central. E essa profecia de Trotski se confirmou de forma contundente no processo da Revolução Russa iniciado em 1917. Não é demais afirmar que um povo “libertado” será um povo tutelado, jamais um povo livre.

 Gilvan Rocha

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