Postado por Juremir em 20 de agosto de 2013
Jango hoje
João Goulart está na pauta desta terça-feira. Em São Borja, familiares, amigos, integrantes da Comissão da Verdade e peritos farão uma espécie de reconhecimento do terreno como preparação para a exumação dos restos mortais de Jango no final do ano. É o passo decisivo para tentar esclarecer o mistério da morte do presidente derrubado pelo golpe de 1964 e morto no exílio. Jango foi morto três vezes. A primeira vez foi no golpe que o arrancou do poder para evitar que melhorasse o Brasil com as reformas de base. A segunda, com o exílio, um ostracismo tão perto e tão longe de casa, vivido entre o trabalho e a melancolia, a saudade e o desejo de viver o presente. A terceira vez foi em Mercedes, na Argentina.
Hoje, em Porto Alegre, no Correio do Povo/Rádio Guaíba (Andradas, 972), autografarei meu livro “Jango, a vida e a morte no exílio”(L&PM). Faço questão de destacar o subtítulo que consta na folha de rosto: “como foram construídos com ajuda da mídia o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre as suspeitas de assassinato do presidente deposto em 1964”. A documentação disponível não deixa qualquer dúvida: os Estados Unidos apoiaram, desde 1962, a preparação do golpe militar no Brasil. Financiaram a eleição de parlamentares, infiltraram funcionários em território brasileiro para ajudar na logística e propaganda golpista e contaram com a decisiva ajuda da quase totalidade da imprensa, os grandes jornais golpistas, entreguistas, defensores do atraso e autolegitimados pelo medo do espectro da ameaça vermelha.
As primeiras 80 pessoas que comparecerem à sessão de autógrafos de hoje comprarão o livro com 50% de desconto. Os assinantes do Correio do Povo, entre esses 80 primeiros, pagarão R$ 16.80. Os não assinantes, nessa leva, gastarão R$ 21. Por que falar de detalhes tão comezinhos? Na guerra dos livros, é preciso lutar de peito aberto. A imprensa que ajudou a “matar” Jango em 1964 e que se acostumou a “matá-lo” ao longo dos anos, difundindo uma falsa imagem dele, está matando-o agora de outro modo: asfixiando meu livro. Estou no index dos jornalões, revistas e emissoras de televisão de Rio de Janeiro e São Paulo. Silêncio absoluto sobre meu livro. É que nele cometo vários crimes: sustento que Jango foi um herói que salvou o Brasil de duas guerras civis, demonstro o quanto a imprensa colaborou para liquidá-lo e apresento a minuciosa investigação que amiguinhos da mídia pretendiam fazer, mas foram “furados” por mim.
Fico feliz de morrer um pouco com Jango. Como escritor, sou um cadáver ambulante. Um fantasma da província. É isso que nos faz diferentes. Temos o nosso espaço, o nosso lugar, os nossos leitores. Admiravelmente maldito. Tão maldito quanto Jango, Brizola, Getúlio e Lula. O poder não elimina a maldição. Pode até acentuá-la. Brizola foi o genial agitador que merecia ter sido presidente da República e não foi por ter qualidades demasiadamente impetuosas. Getúlio foi tudo, até ditador, mas ninguém mudou o Brasil como ele. Jango foi generoso, humilde, teve o poder e a grandeza de evitar banho de sangue por ele. Lula, o operário, será sempre odiado por não ter berço, não ter um dedo, ser um estranho no ninho. Eu sou apenas um escritor palomense sempre na contramão que se orgulha de ser boicotado pela mídia golpista, compadrista, lacerdinha e anacrônica de Rio e São Paulo.
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