sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dá dó da esquerda

Um dos grandes legados de Lula foi ter levado a esquerda brasileira para a direita, comandando inclusive privatizações de setores nunca antes privatizados neste país. Sua exaltação do extermínio da direita brasileira foi lamentada como antidemocrática, mas, convenhamos, quem precisa de direita com essa esquerda? Pois a nova esquerda brasileira é a nova direita brasileira.

Lula conseguiu promover o que seu amigo e contemporâneo de poder George W. Bush proclamara como bandeira antes de ser atropelado pelo 11 de Setembro: o conservadorismo com compaixão. Tropicalizado.

A eleição no último domingo do "esquerdista" Ollanta Humala no Peru é prova de que a jabuticaba do lulismo, democrático, capitalista, inclusivo, tornou-se produto exportação, incluindo acessórios como marqueteiros.

Como com Lula, a pegada de Humala é a promessa de inserção de milhões de peruanos miseráveis no fluxo de prosperidade capitalista que tornou o Peru uma das economias mais dinâmicas no mundo.

Humala elegeu-se graças à fragmentação da direita e com o forte apoio das regiões mais pobres do Peru. Afastou-se do venezuelano Hugo Chávez e passou a ter Lula como modelo.

É uma saída pela direita global: a maior crise do capitalismo acabou expondo cristalinamente que o único sistema econômico possível hoje é o capitalismo.

Ninguém duvida que a China avança porque abraça cada vez mais o capitalismo. O mesmo acontece no Vietnã, na Indonésia, até na Índia. Na África, países que adotaram políticas econômicas pró-mercado crescem num ritmo transformador. Nos EUA, os republicanos tomaram o Congresso dos democratas, e o presidente Barack Obama não consegue escapar da imposição dos mercados de equilíbrio fiscal.

Mas é no velho continente, berço do esquerdismo moderno, que as coisas estão mais divertidas.

A esquerda européia está sendo varrida da Europa. Com a vitória da centro-direita em Portugal nesta semana, apenas 4 dos 27 chefes de governo da União Européia são de esquerda ou centro-esquerda. Até na Suécia, bastião do esquerdismo europeu, a direita se consolida.

Dá dó ler o panfleto esquerdóide britânico "The Guardian": a desolação com a onda direitista é tocante, expressa em títulos como "O mundo precisa de um novo Marx" e em questões retóricas como "e o que nós (esquerda) temos para nos manter vivos?"

Ir para o centro é a solução. Hoje só se governa com e para o centro. Mas, no século 21, o centro se deslocou violentamente para a direita. E segue se movendo nessa direção.


Sérgio Malbergier é jornalista.

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