A oposição entrou nesta eleição sem entender a natureza da disputa. Ao se tornar refém de um marqueteiro, misto de publicitário com jornalista, absolutamente incapacitado para entender a natureza de uma disputa eminentemente política, Serra entrou no jogo sem sequer entender as regras. Sem entender a natureza da disputa, é impossível vencer.
A disputa nunca foi entre Dilma Rousseff e José Serra. A disputa sempre foi entre o governo Lula e seus opositores. O eleitor nunca expressou vontade de votar em Dilma. Expressa, isto sim, a vontade de que o governo Lula continue. O que a oposição não entendeu durante oito anos dificilmente entenderia agora. A avaliação do governo só é tão alta porque ele nunca foi confrontado. Durante o mensalão, raro momento em que a oposição fez oposição, os índices de popularidade de Lula ficaram muito perto da aprovação que deve desfrutar hoje o goleiro Bruno ou ainda a que desfrutou o casal Nardoni.
Agora abro um parênteses para discordar daqueles que dizem que Serra não tinha como resolver em três meses o que a oposição não fez em oito anos. Tinha sim. Como já provaram Collor, Fernando Henrique e Lula, os três eleitos neste período em que as eleições diretas para presidente foram reestabelecidas no país. Collor com uma estratégia hiper agressiva, identificou um “inimigo público”, o marajá, antigo barnabé, o funcionário público que vive na mamata, não trabalha e recebe altos salários. Pra completar, no segundo turno jogou com os medos que boa parte da população (com razão) sentia do PT. No minuto final, como nem isso bastou e a curva se mostrava perigosamente virando em sentido favorável ao PT, apelou para o depoimento de Miriam Cordeiro, depois do PT usar à exaustão o caso em que seu pai matou acidentalmente o senador acreano José Kairala no Senado Federal.
Fernando Henrique entrou na eleição com 17%, mas conseguiu encarnar o Plano Real e venceu no primeiro turno. Virou o jogo apenas durante a eleição. Detalhe: com Real e tudo a eleição ia se encaminhando para vitória de Lula. Até James Carville, estrategista dos Democratas nos EUA e responsável em grande medida pela vitória de Bill Clinton em 1992 vir aqui dar uma consultoria de meia-hora que reverteu a eleição. O marqueteiro baiano Nizan Guanaes insistia com uma campanha tradicional, tentando “popularizar” Fernando Henrique, considerado elitista em excesso. O candidato aparecia beijando criancinhas, comendo buchada de bode e outras constrangedoras situações do tipo. Carville disse que o contrário deveria ser feito. Mostrar o Fernando Henrique professoral, preparado em contraposição ao Lula “ignorante” e sem qualquer preparo. Deu certo.
Em 2002, seguidas vezes Lula teve sua liderança ameaçada. Curiosamente em nenhuma pelo candidato da situação, José Serra. Primeiro foi Roseana Sarney, então no PFL, que liderou durante um tempinho até uma montanha de dólares aparecer no escritório do marido e ela não conseguir dar uma explicação convincente. Em seguida foi Ciro Gomes, que se auto implodiu batendo boca e chamando um eleitor de burro, para em seguida afirmar em uma coletiva que a função de sua mulher, a popular atriz Patrícia Pilar na eleição, era dormir com ele. Ainda assim, Lula não era favorito, já que as pesquisas mostravam o candidato estacionado no tradicional patamar petista dos 30%.
José Dirceu, fazendo política, encontrou a solução: arrumou um candidato a vice na elite empresarial, comprando por R$ 10 milhões em cash o apoio do PL. Duda Mendonça só fez a parte estética do serviço, vendendo o “neo-Lula”, com ternos bem cortados e de grife, uma bonita equipe em um “escritório”, trabalhando sob o comando do candidato e o apoio do PL. Sem Alencar na vice, nem mil Dudas Mendonças convenceriam o eleitorado que Lula e o PT de fato haviam mudado.
Voltemos ao atual pleito. Se o eleitor em nenhum momento votou em Dilma, uma ilustríssima desconhecida, não era contra ela que a eleição deveria ser disputada. Não adianta insistir na comparação de biografias se o eleitor está votando tão somente pela continuidade do atual governo. Há que se confrontar o próprio governo. Mas para isso é preciso coragem. Para isso é preciso política. Para isso é preciso que a linha seja dada por estrategistas e políticos e não por um misto de publicitário e jornalista que já provocou um desastre em 2006, fazendo menos votos no segundo turno do que no primeiro. Que quase tirou Mário Covas, o grande estadista Mário Covas, do segundo turno da eleição paulista de 1998.
Em 1998, em 2006 e agora o mesmo erro se repetiu: campanhas despolitizadas, show-room de empreiteira, a recusa permanente e sistemática do confronto. Covas só virou em 1998 quando tomou as rédeas da campanha, politizou o debate e partiu pra cima de Maluf. E partir pra cima é tudo que todos os marqueteiros nacionais juram fazer perder eleições. Acontece que Covas simplesmente massacrou o adversário. Como Collor já havia feito confrontando Lula em 1989. O confronto é da natureza da política. A despeito do que digam os basbaques marqueteiros nacionais.
Parece difícil, quase impossível, confrontar um governo com os índices de popularidade do governo Lula. Acontece que o governo Lula não tem estes índices porque nenhum governo tem índices tão altos. Nem em ditaduras. Os especialistas em pesquisa sempre apontaram a falha fundamental na metodologia utilizada pelos grandes institutos para avaliar o desempenho do governo: Ótimo, bom, regular, ruim e péssimo são genéricos demais para aferir avaliação de governo. O método mais preciso é o utilizado pela quase totalidade de institutos de pesquisa americanos: uma régua com notas de 1 a 10 em que o pesquisado dê sua nota. E há que ponderar ainda o resultado da avaliação genérica do governo com as avaliações das funções de governo.
Saúde, Educação e Segurança Pública sempre estiveram hiper mal avaliados no governo Lula. Era só ter montado uma estratégia eficiente e competente e executado, batendo com força nestas três áreas. E ligando elas a Dilma. Afinal, a própria abriu este flanco ao grudar na totalidade sua imagem ao governo Lula.
Era difícil confrontar um líder hiper carismático, usando a máquina e corrompendo todo o sistema para eleger sua candidata? Era. Mas nunca foi impossível. Só que para haver possibilidade de vitória, o confronto consistente, clareador de posições, precisava ter sido feito desde o primeiro dia.
Temos ainda 26 dias pela frente. Muita coisa pode acontecer. Ou pode não acontecer absolutamente nada. Mas uma derrota acachapante será facilmente explicada pela covardia. A coragem, por certo, não era o elemento único que garantiria a vitória. Mas com coragem, a derrota ao menos seria com honra.
A disputa nunca foi entre Dilma Rousseff e José Serra. A disputa sempre foi entre o governo Lula e seus opositores. O eleitor nunca expressou vontade de votar em Dilma. Expressa, isto sim, a vontade de que o governo Lula continue. O que a oposição não entendeu durante oito anos dificilmente entenderia agora. A avaliação do governo só é tão alta porque ele nunca foi confrontado. Durante o mensalão, raro momento em que a oposição fez oposição, os índices de popularidade de Lula ficaram muito perto da aprovação que deve desfrutar hoje o goleiro Bruno ou ainda a que desfrutou o casal Nardoni.
Agora abro um parênteses para discordar daqueles que dizem que Serra não tinha como resolver em três meses o que a oposição não fez em oito anos. Tinha sim. Como já provaram Collor, Fernando Henrique e Lula, os três eleitos neste período em que as eleições diretas para presidente foram reestabelecidas no país. Collor com uma estratégia hiper agressiva, identificou um “inimigo público”, o marajá, antigo barnabé, o funcionário público que vive na mamata, não trabalha e recebe altos salários. Pra completar, no segundo turno jogou com os medos que boa parte da população (com razão) sentia do PT. No minuto final, como nem isso bastou e a curva se mostrava perigosamente virando em sentido favorável ao PT, apelou para o depoimento de Miriam Cordeiro, depois do PT usar à exaustão o caso em que seu pai matou acidentalmente o senador acreano José Kairala no Senado Federal.
Fernando Henrique entrou na eleição com 17%, mas conseguiu encarnar o Plano Real e venceu no primeiro turno. Virou o jogo apenas durante a eleição. Detalhe: com Real e tudo a eleição ia se encaminhando para vitória de Lula. Até James Carville, estrategista dos Democratas nos EUA e responsável em grande medida pela vitória de Bill Clinton em 1992 vir aqui dar uma consultoria de meia-hora que reverteu a eleição. O marqueteiro baiano Nizan Guanaes insistia com uma campanha tradicional, tentando “popularizar” Fernando Henrique, considerado elitista em excesso. O candidato aparecia beijando criancinhas, comendo buchada de bode e outras constrangedoras situações do tipo. Carville disse que o contrário deveria ser feito. Mostrar o Fernando Henrique professoral, preparado em contraposição ao Lula “ignorante” e sem qualquer preparo. Deu certo.
Em 2002, seguidas vezes Lula teve sua liderança ameaçada. Curiosamente em nenhuma pelo candidato da situação, José Serra. Primeiro foi Roseana Sarney, então no PFL, que liderou durante um tempinho até uma montanha de dólares aparecer no escritório do marido e ela não conseguir dar uma explicação convincente. Em seguida foi Ciro Gomes, que se auto implodiu batendo boca e chamando um eleitor de burro, para em seguida afirmar em uma coletiva que a função de sua mulher, a popular atriz Patrícia Pilar na eleição, era dormir com ele. Ainda assim, Lula não era favorito, já que as pesquisas mostravam o candidato estacionado no tradicional patamar petista dos 30%.
José Dirceu, fazendo política, encontrou a solução: arrumou um candidato a vice na elite empresarial, comprando por R$ 10 milhões em cash o apoio do PL. Duda Mendonça só fez a parte estética do serviço, vendendo o “neo-Lula”, com ternos bem cortados e de grife, uma bonita equipe em um “escritório”, trabalhando sob o comando do candidato e o apoio do PL. Sem Alencar na vice, nem mil Dudas Mendonças convenceriam o eleitorado que Lula e o PT de fato haviam mudado.
Voltemos ao atual pleito. Se o eleitor em nenhum momento votou em Dilma, uma ilustríssima desconhecida, não era contra ela que a eleição deveria ser disputada. Não adianta insistir na comparação de biografias se o eleitor está votando tão somente pela continuidade do atual governo. Há que se confrontar o próprio governo. Mas para isso é preciso coragem. Para isso é preciso política. Para isso é preciso que a linha seja dada por estrategistas e políticos e não por um misto de publicitário e jornalista que já provocou um desastre em 2006, fazendo menos votos no segundo turno do que no primeiro. Que quase tirou Mário Covas, o grande estadista Mário Covas, do segundo turno da eleição paulista de 1998.
Em 1998, em 2006 e agora o mesmo erro se repetiu: campanhas despolitizadas, show-room de empreiteira, a recusa permanente e sistemática do confronto. Covas só virou em 1998 quando tomou as rédeas da campanha, politizou o debate e partiu pra cima de Maluf. E partir pra cima é tudo que todos os marqueteiros nacionais juram fazer perder eleições. Acontece que Covas simplesmente massacrou o adversário. Como Collor já havia feito confrontando Lula em 1989. O confronto é da natureza da política. A despeito do que digam os basbaques marqueteiros nacionais.
Parece difícil, quase impossível, confrontar um governo com os índices de popularidade do governo Lula. Acontece que o governo Lula não tem estes índices porque nenhum governo tem índices tão altos. Nem em ditaduras. Os especialistas em pesquisa sempre apontaram a falha fundamental na metodologia utilizada pelos grandes institutos para avaliar o desempenho do governo: Ótimo, bom, regular, ruim e péssimo são genéricos demais para aferir avaliação de governo. O método mais preciso é o utilizado pela quase totalidade de institutos de pesquisa americanos: uma régua com notas de 1 a 10 em que o pesquisado dê sua nota. E há que ponderar ainda o resultado da avaliação genérica do governo com as avaliações das funções de governo.
Saúde, Educação e Segurança Pública sempre estiveram hiper mal avaliados no governo Lula. Era só ter montado uma estratégia eficiente e competente e executado, batendo com força nestas três áreas. E ligando elas a Dilma. Afinal, a própria abriu este flanco ao grudar na totalidade sua imagem ao governo Lula.
Era difícil confrontar um líder hiper carismático, usando a máquina e corrompendo todo o sistema para eleger sua candidata? Era. Mas nunca foi impossível. Só que para haver possibilidade de vitória, o confronto consistente, clareador de posições, precisava ter sido feito desde o primeiro dia.
Temos ainda 26 dias pela frente. Muita coisa pode acontecer. Ou pode não acontecer absolutamente nada. Mas uma derrota acachapante será facilmente explicada pela covardia. A coragem, por certo, não era o elemento único que garantiria a vitória. Mas com coragem, a derrota ao menos seria com honra.
Eduardo Bisotto
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